Após a dissidência entre os membros na última reunião do FOMC, o mercado iniciou a semana com mais dúvidas do que certezas em relação aos rumos da política monetária americana, que não foram minimizadas com a divulgação dos indicadores econômicos, mas que foram bastante dirimidas com a coletiva de Jerome Powell no Simpósio de Jackson Hole.

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O FED está dividido?

Na quarta (20) foi divulgada a ata da última reunião do FOMC (Comitê de Política Monetária Americana), que era aguardada pelo mercado em virtude da dissidência ocorrida na votação, onde dois membros votaram pelo corte de juros.

Desde dezembro de 1993 não tinhamos a dissidência de dois membros em uma reunião do FOMC.

Mas o que tivemos de interessante na Ata? Algumas informações foram importantes para entendermos a visão dos membros do FED para futuros movimentos de política monetária. Dentre essas informações, a mais relevante foi a de que na visão da maioria dos seus membros os riscos inflacionários hoje são maiores do que os riscos referentes ao mercado de trabalho, o que em condições normais de temperatura e pressão pesaria a favor de uma manutenção de juros no patamar atual por mais tempo.

A premissa que embasou essa visão é a de que a desinflação americana estagnou, que se provou correta apesar da ata do FOMC ser anterior à divulgação do CPI e do PPI. Os dados de inflação ao consumidor e ao produtor americano mais recentes mostraram que a inflação permanece num movimento de lateralização acima da meta do FED.

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Gráfico do Igor Mundstock com dados do FRED sobre o CPI americano

No entanto, o que pode prejudicar a leitura realizada pelos membros do FED, e que foi alvo de críticas pelos que entendem que o documento ficou obsoleto, é que a ata também foi anterior ao último payroll, que veio bem abaixo da expectativa e ainda trouxe revisões baixistas para os meses de maio e junho, mostrando que o mercado de trabalho americano está enfraquecendo mais rápido do que imaginávamos.

Imediatamente após a divulgação da ata, diminuíram as chances de um corte da taxa de juros, mas quase 80% do mercado ainda acreditava que teríamos um corte de 25bps na reunião de setembro do FOMC.

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Gráfico do FedWatch de 20/08/2025 com a expectativa do mercado em relação a cortes de juros

Powell abre a porta para cortes de juros nos EUA

A dúvida em relação a quão atualizada estava a ata do FED em relação à realidade dos últimos dados, foi tirada na última sexta (22), quando o Presidente do FED, Jerome Powell, concedeu coletiva para falar sobre o Simpósio de Jackson Hole, onde membros, ex-membros de Bancos Centrais e economistas dos mais diversos países se encontraram para debater política monetária e cenario macroeconômico.

Em sua coletiva, considerada dovish pelo mercado, Jerome Powell citou os riscos do mercado de trabalho e deixou a porta aberta para um corte de juros na reunião de setembro do FOMC. Entre as falas do Presidente do FED, podemos destacar que na sua visão os últimos dados do payroll confirmaram que os riscos para o mercado de trabalho estão crescendo e que os efeitos das tarifas agora são claramente visíveis, relatando que é esperado que se acumulem nos próximos meses, mas que no cenário-base do Banco teriam impactos apenas de curto prazo.

Considerando os riscos para o mercado de trabalho e os riscos inflacionários, o mandatário do FED entende que é momento de ajustar o nível de restrição da política monetária.

Após a coletiva, as chances do Federal Reserve cortar a taxa de juros americana em 25bps na proxima reunião do FOMC, que eram de 75% na quinta (21) aumentaram para 83% hoje (22), de acordo com o FedWatch. Essa melhora de expectativa do mercado resultou em um fechamento da curva de juros, queda do dólar e valorização dos ativos de risco, principalmente os que são mais sensíveis à movimentos de política monetária, como o Russel 2000, que fechou o pregão de sexta (22) subindo 3,87%.

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Gráfico do FedWatch de 22/08/2025 com a expectativa do mercado em relação a cortes de juros

Ainda temos um CPI, um PPI e um Payroll antes da reunião do FOMC em setembro, mas, aparentemente, apenas uma reflação forte ou um dado robusto do mercado de trabalho podem pesar para que o FED não corte 25bps em setembro.

Teremos cortes de juros no Brasil em 2025?

Em relação ao Brasil, na segunda (18), tivemos a divulgação do IBC-Br, indice de atividade econômica que é uma proxy do PIB, que trouxe uma contração de 0,1%, negativo pelo 2º mês seguido, o que é mais um sinal de que a economia brasileira está desacelerando.

Atividade desacelerando com uma taxa de juros em um nivel muito restritivo, uma inflação ainda acima da meta, mas que comecou a perder fôlego, e um cenário externo favorável com o FED se posicionando a favor de um corte de juros em setembro está levando o mercado a aumentar a sua expectativa de um início do ciclo de corte de juros no Brasil ainda em 2025.

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Gráfico do Terminal Bloomberg com a expectativa de corte de juros para o Brasil

Se a política fiscal não jogar contra, que é o maior desafio hoje, o nível de restrição da política monetária atual somado ao exterior favorável devem auxiliar para que tenhamos cortes de juros no Brasil ainda em 2025.

Bancos em Sinuca de Bico

Falamos em risco fiscal, mas o risco político também vem fazendo bastante preço no Brasil, batendo máximas históricas e em níveis alarmantes.

Gráfico, Gráfico de linhas

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Gráfico do Terminal Bloomberg com o GeoQuant Brazil Political Risk Score

Como todos devem estar acompanhando, estamos vivendo um momento sui generis no Brasil, que vem sofrendo sanções políticas dos EUA, que vão desde tarifas comerciais até cassação de vistos e até sanção financeira individual, via Lei Magnitiski, a Ministro do STF.  

Como isso impacta o mercado financeiro?

Ignorando o fato do EUA ser o país que mais aporta recursos via investimento direto no Brasil e focando especificamente no que aconteceu nesta semana, os bancos foram colocados numa posição muito delicada e que refletiu no valor de suas ações.

Gráfico, Gráfico de cascata

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Gráfico do Poder 360 sobre investimento direto no Brasil

Após os Estados Unidos terem confirmado a aplicação da Lei Magnitiski ao Ministro Alexandre de Moraes, um dos seus efeitos é que instituições que se relacionem com os indivíduos sancionados podem sofrer sanções americanas, isso incluindo os bancos.

Em resposta a esse risco, nesta semana o Ministro Flavio Dino proferiu decisão determinando que uma decisão vinda de outro país só tem validade no Brasil se for ratificada internamente ou se isso estiver previsto em algum acordo bilateral.

Para completar, o Ministro Alexandre de Moraes, em entrevista para a Reuters, alegou que “os tribunais brasileiros podem punir instituições financeiras brasileiras por apreender ou bloquear ativos nacionais em resposta ao ordens do EUA”.

Tela de celular com texto preto sobre fundo branco

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Reportagem da Folha de São Paulo

De um lado, a maior potência mundial pressionando os bancos para cumprirem a Lei Magnitiski, com risco de multas severas, congelamento de ativos e até desligamento do banco do Sistema Swift; e do outro lado o Supremo Tribunal Federal determinando o não cumprimento da Lei Magnitiski, com o descumprimento da determinação podendo gerar multas e outros desdobramentos para os bancos.

Esses posicionamentos deixaram os bancos brasileiros na popular sinuca de bico e levaram os investidores a realizar suas posições em virtude da insegurança gerada, o que resultou em uma perda de 41 bilhões em valor de mercado. É cada vez menos provavel o cenário onde os bancos passam ilesos por essa turbulência.

Desde o início do imbróglio entre Brasil e EUA, contabilizamos a saida de aproximadamente R$ 7,2 bilhões de investimento estrangeiro.

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Bruno Issa