Em abril, o mercado das criptomoedas passou pelo momento mais  aguardado dos últimos 4 anos, o Halving do Bitcoin. Esse evento é programado para ocorrer  automaticamente a cada 210.000 blocos de Bitcoin minerados, e tem por finalidade dividir a  emissão dessa criptomoeda pela metade, o que garante escassez e consequentemente um  aumento de preço, devido à oferta e demanda. Porém, desde então o que vimos foi uma forte desvalorização do ativo, o que contraria a lógica natural. 

Afinal, será que o interesse pelo Bitcoin já não é o mesmo dos últimos halvings?

A verdade por trás da atual queda do Bitcoin 

Com o Halving do Bitcoin, a recompensa por bloco minerado diminuiu de 6,250 bitcoins (BTC) para 3,125 BTC a cada 10 minutos, o que significa em percentual, uma queda de 50% no  número de novas unidades circulantes.  

Em termos práticos, o movimento natural seria um aumento significativo nos preços, pois pela  lógica da Lei da Oferta e Demanda, haveria menos Bitcoins minerados para um mesmo número  de compradores. O que vimos na realidade foi uma queda de 3,90% do topo anterior em 22 de  abril (3 dias após o halving) até o momento atual, em 25 de abril (6 dias após o halving).

Fonte: tradingview.com 

A explicação para tal comportamento do mercado é simples: o preço do BTC está se  movimentando exatamente igual aos halvings anteriores, que ocorreram em 2020, 2016 e  2012, quando houve um período de lateralização, que comumente é denominado período de  “acumulação” seguido de uma queda e posteriormente entregando uma alta expressiva,  rompendo o topo histórico e levando o Bitcoin a novos patamares de preço nunca antes  alcançados.

O que difere este halving de 2024 dos anteriores? 

Com base no conhecimento empírico, podemos dizer que o Bitcoin historicamente ostenta  ciclos de 4 anos, aproximadamente, apresentando padrões de comportamento que nos  permite uma projeção futura do ativo. Para os entusiastas do mercado de criptoativos, esse  próximo ciclo de alta o “Bullmarket”, apresenta alguns elementos que se distinguem dos  períodos de alta anteriores, principalmente devido à aprovação dos ETFs (exchange traded  funds) de Bitcoin à vista. A SEC (Securities and Exchange Commission), o órgão regulador norte americano equivalente à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) aqui no Brasil, aprovou em 10  de janeiro de 2024, após extensa batalha judicial contra a gigante gestora de ativos norte americana Grayscale, o ETF do BTC. Esse fato ficou sinalizado no mundo dos criptoativos como  um marco histórico do momento em que as criptomoedas deixaram de ser um ativo  descentralizado e desregulado, para tornar-se um dos ativos mais desejados pelas instituições  financeiras, com 13 pedidos de aprovação imediata junto ao órgão regulador. 

A referida aprovação permitiu que o investidor – tanto pessoa física quanto institucional – tenha  acesso ao Bitcoin através da bolsa de valores norte-americana, fato que somente era possível  através da compra por corretoras centralizadas. Essa situação exigia deixar a custódia dos  ativos na própria corretora, o que não é indicado devido ao risco de falta de liquidez,  provocando o congelamento dos ativos pela incapacidade de resgate. Um fato que exprime  essa situação, foi a falência da terceira maior corretora dos EUA, a FTX no final do ano de 2022,  com a posterior prisão do seu CEO Sam Bankman-Fried, condenado a 25 anos de prisão por  fraude e conspiração.

Neste caso, 10,8 milhões de clientes ficaram com um total de R$ 9  bilhões em prejuízo. Para investidores com maior conhecimento técnico e experiência do mercado de criptoativos, também é possível – e indicado – fazer a auto custódia, utilizando  ferramentas como cold wallets ou soft wallet, que nada mais são do que carteiras para guardar  as chaves privadas que dão acesso aos criptoativos na blockchain. Por outro lado, a auto  custódia requer maior conhecimento técnico e é indicada para investidores com maior  experiência de mercado. 

Histórico de preços pós halving 

O histórico de preços pós-halving vem gradualmente diminuindo em relação percentual, porém  a diminuição é devido à capitalização de mercado do ativo, que na data atual, permeia os US$  1,3 trilhões, o que necessita a cada ano que passa, de maior entrada de capital para oscilação  dos preços.  

Halving de Novembro de 2012: Antes do primeiro halving da sua história, o preço do Bitcoin  estava em torno de US$ 12. Após o evento, houve um aumento significativo, levando o preço  para cerca de US$ 1.000 até o final de 2013. Isso representa um aumento de mais de 8.000%  em relação ao preço pré-halving. 

Halving de Julho de 2016: Pré-halving, o preço do BTC estava próximo de US$ 650. Nos meses  posteriores ao halving, o preço subiu gradualmente, atingindo um pico próximo de US$ 20.000  em dezembro de 2017. Esse aumento representa alta de 3.000% em relação ao preço pré halving. 

Halving de Maio de 2020: Anteriormente ao halving, o valor unitário do Bitcoin estava em  torno de US$ 8.000. Nos meses seguintes, o BTC registrou um aumento gradativo, atingindo  uma alta histórica próxima de US$ 65.000 em abril de 2021. Isso representa um aumento de  mais de 700% em relação ao preço pré-halving

Fonte: www.cointelegraph.com

Alguns meses após os halvings anteriores, nós tivemos altas exponenciais do preço do Bitcoin,  o que deixa evidente à adoção do Bitcoin como reserva de valor ou até mesmo meramente  como instrumento de especulação. O que fica como consenso entre participantes, analistas e  Big Players do mercado institucional, é que a demanda pelo Bitcoin só tem aumentado a cada  ano que passa, despertando o interesse desde pequenos investidores, até gigantes do mercado  financeiro de capitais como a BlackRock, que possui incríveis 198.000 BTC, totalizando $ 12,8  bilhões. 

Por fim, o mercado financeiro “adotou” o Bitcoin como um ativo passível de assimetrias  exponenciais que jamais foram vistas em qualquer outro, despertando interesse de aquisição  por bancos, países, Bancos Centrais, instituições financeiras e não financeiras.  

Com todas essas informações passadas e a intensa movimentação do mercado tradicional na  busca por esse “ouro digital”, fica evidente que nenhum interesse foi mitigado, não há nenhum  sinal de queda iminente do Bitcoin por qualquer desconfiança na sua tecnologia, e muito pelo  contrário, a consolidação do ativo está se dando de forma irrestrita. 

Estamos vivendo a história, onde uma “moedinha digital” tomou proporções estratosféricas e  valorizações exponenciais. Com base nos fatos, seria extrema presunção achar que o interesse  pelo Bitcoin diminuiu, quando na realidade, todos os dados mostram o contrário. 

Estamos vendo a história acontecer, o Bitcoin veio para ficar. 

Joao Victor Capatto Rabelo

João Victor Capatto Rabelo é sócio e assessor de investimentos na InvestSmart. Médico veterinário por formação, atuou na área por 8 anos antes de fazer a transição de carreira. Suas áreas de interesse incluem finanças e, especialmente, criptoativos. Tem um apego especial à educação financeira e como objetivo de vida, ajudar as pessoas a entenderem sobre o mercado financeiro.