Não vale a pena investir para ser um João Romão
Antes de tudo, se o seu nome realmente é João Romão e você está lendo esse texto, acredite, eu não estou falando diretamente de você. Eu juro. Meu ponto direto é uma referência ao personagem de Aluísio Azevedo no clássico “O cortiço”. Sim, aquele que provavelmente você leu (ou pelo menos deveria ter lido), lá […]
Não vale a pena investir para ser um João Romão.
Antes de tudo, se o seu nome realmente é João Romão e você está lendo esse texto, acredite, eu não estou falando diretamente de você. Eu juro.
Meu ponto direto é uma referência ao personagem de Aluísio Azevedo no clássico “O cortiço”. Sim, aquele que provavelmente você leu (ou pelo menos deveria ter lido), lá no ensino médio.
João Romão era um homem extremamente sovina, e contava cada moeda que saía do bolso. Ele não se permitia o conforto mínimo para uma boa vida apesar do dinheiro que seus negócios lhe forneciam.
Sua meta era enriquecer para… NADA! Só enriquecer mesmo.
Não me admiraria que, se Romão fosse personagem dos dias de hoje e investisse na bolsa, certamente lamentaria unidades de reais de corretagem, 1% de queda na bolsa ou 50 reais em um livro para ficar melhor informado.
Ele, se pudesse, olharia seus ativos TODOS os dias na esperança de que, por algum milagre, de uma hora para outra, passassem a render uma fortuna por nenhum motivo, e estressando-se por notar que não adiantaria tal ação.
Ele, inclusive, também não iria usufruir de NADA do que acumulasse em vida. Levaria para a semente, o seu capital por inteiro, amaldiçoando o advogado que lhe propusesse suceder o patrimônio para seus filhos em troca de honorários.
Ele seria incapaz de sair para jantar com sua esposa em uma data especial porque iria prejudicar a “oportunidade de investimento do mês”.
Ele se meteria a comprar ações sem análise porque estão baratas e, de certo, optaria pela moeda estrangeira APENAS por estar descontada. Afinal, se não tem desconto, ele não compra.
Ele trabalharia tudo o que pode gastando todo o tempo que tem para não terceirizar a outro algo que lhe custe dinheiro. Afinal, três horas para consertar (e muito mal) um cano, em casa, para ele, custa menos do que R$ 200 reais para um profissional.
Nas palavras do próprio Aluísio, você pode entender bem melhor sobre o que estou falando – “Só tinha uma preocupação: aumentar os bens. Das suas hortas recolhia para si e para a companheira os piores legumes, aqueles que, por maus, ninguém compraria; as suas galinhas produziam muito e ele não comia um ovo, do que no entanto gostava imenso; vendia-os todos e contentava-se com os restos da comida dos trabalhadores. Aquilo já não era ambição, era uma moléstia nervosa, uma loucura, um desespero de acumular, de reduzir tudo a moeda”.
Na minha vida pessoal, eu evito tanto quanto posso todo João Romão que me aparece. Não quero como amigo, como sócio, como conhecido. Se for parente, que seja distante, porque não tenho escolha de laço sanguíneo.
Recomendo o mesmo para você, caro(a) leitor(a). Não vale a pena acumular a miséria social em troca de moedas a mais. Porém, também não vale usar esse texto como motivo para gastos exacerbados e consumismo em vão. Mas, por favor, não seja um João Romão.
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