Com a aproximação da COP 30 em Belém, moradores relatam que estão sendo obrigados a deixar imóveis alugados, mesmo residindo há anos nos locais. Muitos associam os despejos a estratégias de proprietários que visam lucrar com a alta demanda por hospedagem durante o evento internacional. A situação tem gerado dificuldades financeiras, transtornos logísticos e impacto emocional para quem precisa se mudar às pressas.

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Moradores relatam impactos emocionais e financeiros

A universitária Evelyn Ludovina, por exemplo, morava com sua família no bairro Coqueiro desde 2020 e recebeu notificação para desocupar o imóvel em março de 2025, com prazo até abril. “Fomos forçados a entrar com uma ação judicial para conseguir um prazo adicional de 30 dias. Por fim, nos mudamos para um imóvel mais caro em outro bairro”, contou.

A professora Ana Carolina Barros também foi surpreendida pelo pedido de despejo. “Aquele apartamento era muito mais que um imóvel para mim, era meu lar, construído com o suor do meu trabalho”, relatou. Além do impacto psicológico, Ana Carolina enfrentou dificuldades financeiras, precisando vender alguns bens e arcar com aluguéis muito mais altos.

Segundo os relatos, a busca por novos imóveis em Belém se tornou difícil devido à alta dos preços: enquanto os antigos aluguéis eram acessíveis, os novos chegam a R$ 2 mil ou R$ 4 mil, dependendo da localização e da proximidade da COP 30. Essa situação evidencia um efeito direto do evento sobre o mercado imobiliário da cidade.

Proprietários e a expectativa de lucro com a COP 30

O corretor de imóveis Rodolfo Magalhães explica que muitos proprietários decidiram rescindir contratos regulares para lucrar com a alta demanda de hospedagem: “Clientes com 7 ou 8 anos morando no apartamento tiveram contratos finalizados para que os imóveis fossem preparados para aluguel de curto prazo durante a COP, visando ganhos maiores”.

Esse movimento não afeta apenas os moradores locais. Delegações internacionais também enfrentam dificuldade para encontrar hospedagem adequada, o que motivou cancelamentos de participação, como o do presidente da Áustria. O governo brasileiro informou que foram reservados 2,3 mil leitos para os 196 países participantes, dentro de um total de 53 mil vagas de hospedagem disponíveis.

Alta dos preços de hospedagem e medidas do governo

Residências temporárias representam cerca de 60% dos leitos disponíveis para a COP 30, e os preços elevados geram preocupação. Órgãos públicos notificaram plataformas de aluguel para que retirassem anúncios com valores abusivos e analisam medidas judiciais para coibir práticas de exploração durante o evento.

De acordo com o corretor Rodolfo Magalhães, mesmo após o término da COP, os preços tendem a se manter altos: “Os valores podem se equilibrar, mas não devem diminuir significativamente. O aumento do interesse turístico e de eventos internacionais influencia diretamente no mercado imobiliário local.”

Aspectos legais dos despejos em Belém

A advogada especializada em direito imobiliário, Letícia do Vale Alves, esclarece que a legalidade do despejo depende do tipo de contrato. Contratos de prazo determinado podem ser rescindidos conforme cláusulas específicas, enquanto contratos por prazo indeterminado exigem notificação prévia de 30 dias:

“Se os locadores seguem o prazo mínimo previsto no artigo 6º da Lei do Inquilinato, a rescisão é legal. Caso contrário, o despejo é irregular”, explica a advogada.

Em casos de despejos irregulares, os moradores devem registrar boletim de ocorrência e procurar orientação de advogados especializados ou da Defensoria Pública para garantir seus direitos.

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