Mensagens recuperadas pela PF revelam planos de Bolsonaro e Malafaia para ‘salvar’ ex-presidente
A Polícia Federal revelou mensagens recuperadas de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Silas Malafaia que indicam tentativas de influenciar ministros do STF e interferir no julgamento da trama golpista.

A Polícia Federal (PF) revelou mensagens e áudios que mostram que o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro planejavam estratégias para interferir na ação penal em que o ex-mandatário é réu no Supremo Tribunal Federal (STF). O pastor Silas Malafaia também aparece nas investigações, com celular e passaporte apreendidos, por suposta participação na articulação para proteger Bolsonaro.
A investigação indica tentativas de coagir ministros do STF e parlamentares, descumprimento de medidas cautelares, mobilização de aliados e contatos internacionais com figuras políticas dos Estados Unidos.
Indiciamento de Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro e medidas contra Malafaia
Na quarta-feira (20), a PF indiciou Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro por tentarem interferir no julgamento da trama golpista. Silas Malafaia, embora não indiciado, teve o celular e o passaporte apreendidos.
Segundo a PF, as mensagens recuperadas dos celulares de Bolsonaro — mesmo as apagadas — mostram que ele descumpria intencionalmente medidas cautelares impostas pelo STF. A análise da perícia também revela que houve tentativas de coagir ministros e influenciar parlamentares para proteger o ex-presidente de sanções judiciais.
Planos de fuga e pedido de asilo político
Entre os conteúdos recuperados, havia um rascunho de pedido de asilo político na Argentina, endereçado ao presidente Javier Milei. Bolsonaro se apresentava como vítima de perseguição política e afirmava estar sujeito a medidas cautelares recentes.
No rascunho, Bolsonaro escrevia:
“De início, devo dizer que sou, em meu país de origem, perseguido por motivos e por delitos essencialmente políticos. No âmbito de tal perseguição, recentemente, fui alvo de diversas medidas cautelares.”
A defesa afirmou que o documento foi apenas uma sugestão recebida em fevereiro de 2024 e foi descartada.
Estratégia de “anistia light” e articulação internacional
Mensagens de Eduardo Bolsonaro indicam que o objetivo real era garantir impunidade apenas para o ex-presidente, e não para todos os envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Ele se referiu à iniciativa como “anistia light”.
Em uma das mensagens, Eduardo escreveu ao pai:
“Se a anistia light passar, a última ajuda vinda dos Estados Unidos terá sido o post do Trump. Eles não irão mais ajudar (…) temos que decidir entre ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia ou enviar o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna para casa num semiaberto. (…) neste cenário você não teria mais amparo dos EUA, o que conseguimos a duras penas aqui, bem como estaria igualmente condenado final de agosto.”
Em 10 de julho, Eduardo orientou Bolsonaro sobre agradecimentos a Trump pelas medidas aplicadas contra o Brasil:
“Opinião pública vai entender e você tem tempo para reverter se for o caso. Você não vai ter tempo de reverter se o cara daqui virar as costas para você [referência a Trump]. Aqui é tudo muito melindroso, qualquer coisinha afeta. Na situação de hoje, você nem precisa se preocupar com cadeia, você não será preso. Mas tenho receio que por aqui as coisas mudem.”
Quinze dias depois, os EUA aplicaram a Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, coincidindo com a previsão de Eduardo.
Descumprimento de medidas cautelares e mobilização digital
Bolsonaro substituiu seu celular após a determinação de medidas cautelares, mas continuou a produzir e disseminar mensagens nas redes sociais. A PF identificou quatro listas de transmissão no WhatsApp — “Deputados”, “Senadores”, “Outros” e “Outros 2” — usadas para espalhar conteúdos e convocar manifestações.
No dia 3 de agosto, durante manifestações, Bolsonaro orientou um deputado da Bahia a fazer uma ligação de vídeo:
“Faça uma ligação de vídeo comigo durante a manifestação.”
Para a PF, o episódio mostra uso de terceiros para burlar medidas cautelares que impediam Bolsonaro de usar redes sociais.
Papel de Silas Malafaia na articulação
Mensagens recuperadas mostram que Malafaia atuava junto a Bolsonaro e Eduardo, solicitando disparo de vídeos e mobilização de deputados em apoio à anistia. Ele escreveu a Bolsonaro:
“DESCULPA PRESIDENTE! Esse seu filho Eduardo é um babaca, inexperiente que está dando a Lula e a esquerda o discurso nacionalista, e ao mesmo tempo te ferrando. Um estúpido de marca maior. ESTOU INDIGNADO! Só não faço um vídeo e arrebento com ele porque por consideração a você. Não sei se vou ter paciência de ficar calado se esse idiota falar alguma asneira.”
O ministro Alexandre de Moraes descreveu a atuação de Malafaia como líder em campanha criminosa orquestrada, destinada a ataques contra ministros do STF e mobilização de milícias digitais.
Conflitos internos entre Bolsonaro e Eduardo
Mensagens mostram xingamentos e tensões entre pai e filho. Após entrevista de Bolsonaro sobre conflito com o governador Tarcísio de Freitas, Eduardo escreveu:
“Eu ia deixar de lado a história do Tarcísio, mas graças aos elogios que você fez a mim no Poder 360 estou pensando seriamente em dar mais uma porrada nele, para ver se você aprende.”
“VTNC SEU INGRATO DO CARALHO! Se o IMATURO do seu filho de 40 anos não puder encontrar com os caras aqui, PORQUE VC ME JOGA PRA BAIXO, quem vai se fuder é vc E VAI DECRETAR O RESTO DA MINHA VIDA NESTA PORRA AQUI!”
As mensagens refletem desentendimentos internos significativos na base política do ex-presidente.
Movimentações financeiras suspeitas
A PF identificou que Eduardo utilizou conta bancária da esposa, Heloísa, para movimentar recursos recebidos por Jair Bolsonaro, possivelmente para driblar bloqueios judiciais. O ex-presidente teria feito algo semelhante com Michelle Bolsonaro.
Contato com aliados de Trump e plataforma Rumble
Bolsonaro manteve contato com Martin de Luca, advogado norte-americano e representante da plataforma Rumble e do Trump Media & Technology Group (TMTG). No celular do ex-presidente, havia registros de contatos e documentos sobre estratégias para notas públicas e narrativas contra o STF.
Gostou deste conteúdo? Siga o Melhor Investimento nas redes sociais: