As eleições internas do Partido dos Trabalhadores (PT) agitaram o cenário político neste domingo (6), com cerca de 3 milhões de filiados participando em todo o Brasil. Esse processo, que deve ser finalizado até esta segunda-feira (7), vai decidir quem será a nova liderança nacional do partido e também renovar os diretórios estaduais e municipais. A disputa acontece em um momento crucial, com divisões entre aqueles que querem retomar pautas históricas da esquerda e os que preferem fortalecer alianças institucionais no Congresso.

Os candidatos

Na corrida, há quatro candidatos à presidência nacional e oito chapas. O foco principal está na disputa entre o ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva, que conta com o apoio do presidente Lula, e o deputado federal Rui Falcão, que já liderou o partido em momentos decisivos, como durante o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Também estão na disputa os veteranos Romênio Pereira e Valter Pomar. Edinho representa a ala mais pragmática do partido, buscando ampliar alianças, inclusive com setores do centro e do mercado. Por outro lado, Rui Falcão e seus apoiadores defendem um reencontro com movimentos sociais e causas populares, argumentando que a desconexão da base histórica do partido tem custado votos e a identidade política.

Para muitos militantes, como o professor Tiago Mesquita, essa disputa reacendeu o entusiasmo entre os filiados: “Esta eleição mobilizou a militância popular. Precisamos de mais mobilização e menos burocracia institucional”. A professora Sabrina Teixeira também ressalta a importância de o PT aproveitar o momento favorável no governo federal para resgatar bandeiras como a taxação de super-ricos. Enquanto isso, há uma discussão interna sobre a transição de liderança no partido. Dirigentes reconhecem que o PT precisa se preparar para um cenário “pós-Lula”, já que uma possível candidatura à reeleição em 2026 seria a última do ex-presidente. “O partido terá que assumir um papel mais protagonista no projeto que ajudou a construir”, dizem eles.

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Críticas do formato das eleições

Apesar da participação ativa da militância, o cientista político Rudá Ricci critica o formato das eleições internas do PT, que, segundo ele, favorece a corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB). “O processo virou um mecanismo de controle, com pouca abertura para mudanças reais nas estruturas de base”, afirmou. Para Ricci, as disputas internas são muitas vezes definidas por imposições administrativas em vez de debate político.

Em Minas Gerais, a votação foi suspensa por decisão judicial, após a inclusão tardia da deputada federal Dandara Tonantzin na disputa pela liderança estadual. A direção estadual informou que não houve tempo hábil para atualizar as cédulas.

A apuração dos votos, feita manualmente, deve ser finalizada até o fim desta segunda-feira. Independentemente do resultado, o pleito já sinaliza um reposicionamento interno, com reflexos importantes sobre o rumo do partido e sua atuação nos próximos anos.