As taxas de juros futuros sobem no Brasil acompanhando o movimento dos Treasuries americanos e a cautela do mercado diante da definição da taxa Selic. Nesta quarta-feira (02), os contratos futuros de DI fecharam em alta, impulsionados por fatores técnicos e dados econômicos dos Estados Unidos, que mexeram com as expectativas dos investidores locais.

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Alta das taxas futuras e influência dos Treasuries

No fechamento do pregão, a taxa do DI para janeiro de 2027 alcançou 14,12%, ligeiramente acima do ajuste da sessão anterior, de 14,107%. As taxas para vencimentos mais longos também subiram, com o DI para janeiro de 2028 registrando 13,33%, e para 2031 e 2033, taxas próximas de 13,2% e 13,27%, respectivamente. Esses números mostram uma pressão de alta na curva de juros brasileira, que reflete o cenário internacional.

Essa movimentação acompanha a alta dos Treasuries, títulos públicos dos Estados Unidos considerados referência global. No mesmo dia, o rendimento do Treasury de 10 anos subiu para 4,293%, após os investidores avaliarem dados recentes do mercado de trabalho americano. O desempenho dos Treasuries impacta diretamente as expectativas sobre o custo do dinheiro no Brasil, especialmente para os contratos futuros de juros.

Impacto dos dados de emprego dos EUA e reações do mercado brasileiro

Logo pela manhã, as taxas futuras chegaram a cair, influenciadas pelo relatório da ADP, que apontou a perda de 33 mil empregos no setor privado dos EUA em junho, contrariando a previsão de abertura de 95 mil vagas feita por economistas. Esse dado inicialmente reforçou apostas de que o Federal Reserve poderia iniciar cortes na taxa de juros já no fim de julho, reduzindo o custo do dinheiro nos Estados Unidos.

No entanto, ao longo do dia, as taxas tanto nos EUA quanto no Brasil reverteram o movimento e subiram novamente. No Brasil, essa alta reflete uma maior precaução dos investidores, que buscaram proteção diante do cenário político e econômico, além de movimentos técnicos na curva de juros doméstica.

Movimentos técnicos e preparação para leilão do Tesouro Nacional

Parte da alta observada nas taxas de juros futuros no Brasil também decorre de movimentos técnicos realizados por agentes do mercado. Alguns investidores anteciparam operações de hedge (proteção) para o leilão de títulos públicos marcado para quinta-feira, o que gerou pressão para a abertura da curva e aumento nas taxas. Esse tipo de movimentação é comum em dias que antecedem eventos importantes no mercado financeiro, reforçando a volatilidade.

Disputa sobre o IOF gera atenção do mercado

Outro ponto que mantém os investidores atentos é a disputa entre o governo federal e o Congresso Nacional sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Recentemente, a Advocacia-Geral da União (AGU) ingressou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para defender o decreto do governo que elevou as alíquotas do IOF. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as discussões sobre o tema são de natureza jurídica, e não política, buscando dar segurança ao mercado financeiro diante do impasse.

Expectativa pela manutenção da taxa Selic em 15%

O mercado brasileiro mantém forte expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidirá manter a taxa Selic em 15% ao ano no próximo encontro, previsto para o fim de julho. A curva de juros precifica quase 100% de chances dessa manutenção, enquanto a possibilidade de alta é vista como remota, abaixo de 8%.

Essa percepção está alinhada com declarações recentes do diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David. Em evento realizado em São Paulo, Nilton reforçou que a instituição buscará acompanhar uma trajetória gradual da inflação antes de considerar mudanças na política monetária, destacando que a meta de inflação de 3% será perseguida com “bastante tempo” e cautela.