O mercado brasileiro deve registrar forte aversão ao risco após o ataque dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã, ocorrido no último sábado (21). Analistas financeiros e especialistas projetam impactos importantes, principalmente no setor de petróleo, que já começou a reagir com alta significativa. Este cenário geopolítico gera incertezas e provoca oscilações nos mercados globais, influenciando diretamente as ações brasileiras e os investimentos no país.

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Impactos imediatos no mercado brasileiro após ataque dos EUA ao Irã

Com o conflito escalando entre Estados Unidos e Irã, o mercado brasileiro enfrenta um momento de cautela e volatilidade. A apreensão é motivada pelo risco geopolítico que pode afetar preços do petróleo, ativos financeiros e a economia local. Segundo especialistas, a expectativa inicial é de queda em ativos de risco, como ações e criptomoedas, enquanto empresas ligadas ao setor energético, especialmente do petróleo, tendem a apresentar valorização.

O petróleo, que é um dos principais produtos afetados, chegou a registrar alta de até 4% nos preços internacionais, antes de suavizar para aproximadamente 2%. Esta movimentação tem impacto direto sobre a Petrobras (PETR3; PETR4), principal empresa do setor no Brasil. A estatal deve adotar uma postura de cautela, analisando o desdobramento do conflito antes de promover repasses nos preços ao consumidor final.

Além disso, a tensão no Oriente Médio pode influenciar insumos importantes para a indústria e agricultura nacional. Produtos como ureia, amônia, metanol e PVC, que dependem de importações ou têm preços atrelados ao petróleo, devem apresentar alta, gerando preocupação para produtores rurais e industriais.

Estreito de Ormuz: ponto crítico do conflito e seus efeitos no mercado

Um dos principais fatores de risco é a possibilidade de o Irã fechar o Estreito de Ormuz, rota estratégica por onde passa cerca de 20% do petróleo consumido no mundo. Essa ameaça foi feita por um parlamentar iraniano e tem potencial para agravar ainda mais a volatilidade nos preços do petróleo e nos mercados financeiros globais.

No entanto, especialistas como Ajay Parmar, diretor de análise da consultoria ICIS, avaliam que um bloqueio prolongado do Estreito de Ormuz é improvável devido à forte dependência do Irã nas exportações para a China, além da pressão internacional exercida por Estados Unidos e outras potências econômicas. Mesmo assim, o temor de interrupções no fornecimento já é suficiente para elevar o prêmio de risco geopolítico embutido no valor do petróleo.

Reação dos investidores e perspectivas para os próximos dias

O cenário de incerteza fez com que investidores buscassem segurança em ativos considerados mais estáveis, como o dólar, o ouro e títulos do Tesouro americano (treasuries). No mercado brasileiro, essa movimentação pode levar a uma queda dos ativos de maior risco, como ações e criptomoedas, principalmente em negociações de curto prazo.

Marcos Praça, diretor de Análise da ZERO Markets Brasil, destaca que a reação do Irã será determinante para a direção dos mercados. “O mercado está especulando sobre qual será o próximo passo do Irã. A tendência inicial é negativa para ativos de risco, mas isso pode mudar conforme os desdobramentos”, afirma.

Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, recomenda cautela e uma alocação equilibrada dos investimentos, considerando o momento de alta volatilidade. Segundo ela, o mercado de criptoativos, que costuma responder rapidamente a eventos fora do horário de pregão, já demonstrou queda expressiva, refletindo o clima de aversão ao risco.

Contexto global e evolução do conflito que impacta o mercado brasileiro

O conflito atual tem origem na escalada de ataques e retaliações entre Israel, Irã e agora Estados Unidos, envolvendo principalmente instalações nucleares e infraestruturas estratégicas. Desde 13 de junho, quando começaram os primeiros ataques, o preço do petróleo Brent acumulou alta de 11%, e o WTI, de 10%.

Os investidores monitoram atentamente as ações dos países envolvidos, uma vez que qualquer interrupção significativa na oferta de petróleo pode gerar aumento generalizado de preços, afetando a inflação global e o custo de vida em diversas economias, incluindo a brasileira.

Neste cenário, o índice de inflação ao consumidor (CPI) dos EUA, que recentemente apresentava desaceleração devido à queda nos preços dos combustíveis, pode voltar a subir, pressionado pela alta do petróleo. Essa mudança deve repercutir em políticas econômicas e na dinâmica dos mercados financeiros.