Cristina Kirchner é condenada e impedida de disputar eleições na Argentina
Corte confirma pena de seis anos e proíbe ex-presidente de exercer cargos públicos

A Suprema Corte de Justiça da Argentina manteve, nesta semana, a sentença de seis anos de prisão domiciliar contra Cristina Fernández de Kirchner. Além disso, confirmou a proibição definitiva de que a ex-presidente volte a exercer qualquer cargo público. A decisão, embora esperada por parte da opinião pública, gerou forte comoção no país vizinho.
Condenação por corrupção em obras públicas
A condenação tem origem no chamado Caso Vialidad, que envolve supostas fraudes na execução de obras rodoviárias na província de Santa Cruz, reduto político dos Kirchner. Cristina foi considerada culpada por administração fraudulenta em prejuízo do Estado durante seus dois mandatos presidenciais, entre 2007 e 2015.
Segundo as investigações, antes mesmo de Cristina assumir o governo, seu marido, Néstor Kirchner, fundou a construtora Austral Construcciones com o auxílio dela. A empresa foi entregue ao empresário Lázaro Báez, apontado como testa de ferro do casal e sem experiência prévia no setor.
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Empresa aliada venceu maioria das licitações
A Austral Construcciones venceu cerca de 79% das licitações de obras rodoviárias em Santa Cruz ao longo de 12 anos. De acordo com o Ministério Público, das 51 obras contratadas, apenas duas foram concluídas no prazo, enquanto metade sequer foi finalizada. A estimativa dos tribunais é que o esquema tenha causado prejuízo superior a US$ 1 bilhão aos cofres públicos.
Báez foi condenado junto com outros sete ex-funcionários, entre eles José López, ex-secretário de Obras Públicas, famoso por ter sido flagrado jogando sacolas de dinheiro por cima do muro de um convento, em 2016.
Cristina se defende e denuncia perseguição política
Cristina Kirchner nega todas as acusações. Ela afirma ser vítima de lawfare, termo usado para definir o uso do sistema judicial como ferramenta de perseguição política. A ex-presidente citou casos semelhantes envolvendo líderes da esquerda latino-americana, como Luiz Inácio Lula da Silva e Rafael Correa.
Para ela, é inaceitável que um presidente seja responsabilizado por processos licitatórios conduzidos por órgãos técnicos e com orçamentos aprovados pelo Congresso. Cristina ainda argumentou que a execução desses orçamentos sempre ficou a cargo do chefe de gabinete — cargo que, entre 2003 e 2008, foi ocupado por Alberto Fernández, que jamais foi processado no caso.
Prisão domiciliar e fim da carreira política
Com 72 anos, Cristina poderá cumprir a pena em prisão domiciliar. A residência onde ela cumprirá a sentença ainda não foi divulgada. A decisão impede que ela concorra a qualquer cargo eletivo, o que a retira da disputa pelas eleições legislativas na Província de Buenos Aires, marcadas para setembro.
Analistas políticos avaliam que a ausência da ex-presidente deve impactar diretamente o cenário eleitoral. Cristina era considerada a principal adversária de Javier Milei. Sem ela no jogo político, o atual presidente poderá perder uma de suas maiores fontes de polarização.
Milei sem antagonista: o que esperar das próximas eleições?
A cassação política de Cristina abre um novo capítulo na política argentina. Como escreveu o jornalista Alejandro Cancelare no portal MDZ, “Se Cristina for condenada, Javier Milei vai ter que encontrar um novo inimigo para sua campanha”.
Com a maior liderança do kirchnerismo afastada, o futuro da oposição ao governo Milei torna-se incerto. Especialistas destacam que, mesmo fora da disputa, Cristina ainda pode influenciar bastidores e apoiar nomes para manter sua base mobilizada.
Com dados divulgados pela BBC News Mundo.