A Nvidia decidiu não desenvolver novos modelos de chips para contornar as restrições de exportação impostas pelos Estados Unidos ao mercado chinês. A empresa, que vinha adaptando seus produtos para atender às limitações do governo americano, agora opta por aguardar definições oficiais sobre o que pode vender à segunda maior economia do mundo. Essa decisão representa um marco importante na estratégia da gigante de tecnologia em meio à crescente tensão comercial entre EUA e China.

Impactos das restrições e queda no mercado chinês

Desde o início das restrições durante o governo Joe Biden, a Nvidia passou a enfrentar limitações rigorosas para vender seus chips mais avançados na China. Para não perder mercado, a empresa adotou uma estratégia de criar versões adaptadas, que cumprissem as especificações estabelecidas pelas regulamentações americanas. Essa iniciativa permitiu que a participação da Nvidia no mercado chinês se mantivesse em cerca de 50%, uma queda significativa em relação aos 95% que a companhia detinha antes das proibições.

No entanto, o aperto das regras durante a gestão Donald Trump, com a proibição da venda do chip H20 em abril de 2025, gerou um impacto financeiro expressivo para a Nvidia. A empresa reportou uma redução de US$ 2,5 bilhões em vendas apenas no primeiro trimestre fiscal de 2026, além de uma baixa contábil de US$ 4,5 bilhões devido a estoques encalhados que não puderam ser vendidos no mercado chinês.

Estratégias para mitigar perdas e resultados financeiros

Apesar das dificuldades, a Nvidia adotou medidas para minimizar os prejuízos. A empresa desmontou algumas GPUs que utilizavam o chip proibido para reaproveitar componentes em outros produtos comercializados em diferentes mercados. Também conseguiu utilizar parte do estoque que ainda não havia sido montado, reduzindo perdas maiores.

Mesmo com esses desafios, a Nvidia apresentou resultados financeiros sólidos no primeiro trimestre fiscal de 2026. A companhia registrou lucro líquido de US$ 18,77 bilhões e receita total de US$ 44,06 bilhões, superando as expectativas do mercado e demonstrando resiliência em um cenário global conturbado.

Projeções e perspectivas diante da guerra comercial

A empresa adotou uma postura cautelosa em suas projeções futuras. O guidance de receita para o próximo trimestre fiscal prevê um faturamento próximo a US$ 45 bilhões, já considerando um impacto negativo de US$ 8 bilhões devido às restrições comerciais impostas pelos EUA à China. Essa postura reflete a incerteza que ainda envolve as negociações e regulações sobre exportações de tecnologia para o país asiático.

Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da Nvidia para América Latina, destacou que o governo americano está analisando o impacto das restrições, que atingem não só a Nvidia, mas todo o ecossistema tecnológico que atende a China. A recente decisão de um tribunal dos EUA de suspender a maior parte das tarifas globais impostas pelo governo Trump, embora não tenha abrangido as regras específicas sobre chips, indica que o cenário está em evolução.