Trump amplia prazo para ByteDance vender operação do TikTok nos EUA
Medida busca garantir a venda da rede social a investidores americanos e pode servir como moeda de troca em negociações tarifárias com a China

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu na última sexta-feira (04) ampliar o prazo para a chinesa ByteDance vender a operação do TikTok nos Estados Unidos, medida que reacende as tensões comerciais com a China e reacende o debate sobre segurança de dados. Agora, a empresa terá mais 75 dias para concluir a negociação com um comprador norte-americano, após já ter perdido o primeiro prazo estipulado por lei sancionada em 2024, ainda no governo de Joe Biden.
A decisão de Trump foi oficializada após reuniões com sua equipe de conselheiros e tem como objetivo não apenas garantir a transferência do controle da plataforma a investidores americanos, mas também usar a transação como ferramenta estratégica em negociações comerciais com Pequim.
Transação pode ser usada como barganha nas tarifas com a China
Ao anunciar a prorrogação, Trump afirmou que a venda do TikTok poderá ser utilizada como parte das negociações tarifárias com o governo chinês. Em publicações nas redes sociais, o presidente deixou claro que espera um acordo favorável e reforçou que as tarifas impostas anteriormente pelos Estados Unidos se mostraram eficazes.
“Esperamos continuar trabalhando de boa fé com a China, que, eu entendo, não está muito feliz com nossas Tarifas Recíprocas (Necessárias para um Comércio Justo e Equilibrado entre a China e os EUA!)”, escreveu.
“Isso prova que as tarifas são a ferramenta econômica mais poderosa e muito importante para nossa Segurança Nacional! Não queremos que o TikTok desapareça. Estamos ansiosos para trabalhar com o TikTok e a China para fechar o acordo”, completou Trump.
A declaração sugere que Washington poderá oferecer algum alívio tarifário em troca da aprovação do governo chinês para a transação. Desde que o tema voltou ao centro do debate, o TikTok chegou a ser temporariamente retirado das lojas de aplicativos da Apple e Google nos EUA, mas escapou de um bloqueio definitivo graças a uma ordem executiva assinada por Trump, que suspendeu temporariamente a medida.
Proposta de consórcio com Oracle, Blackstone e Andreessen Horowitz está em análise
Entre os principais interessados na compra da operação americana do TikTok está um consórcio formado por investidores norte-americanos, incluindo os gigantes Oracle, Blackstone e a empresa de venture capital Andreessen Horowitz. A proposta foi apresentada à equipe de Trump em uma reunião recente, segundo fontes próximas às negociações.
O vice-presidente JD Vance está liderando o processo dentro da administração republicana, com apoio do conselheiro de segurança nacional Mike Waltz, ambos designados para avaliar os potenciais compradores e garantir que a nova estrutura do TikTok nos EUA esteja em conformidade com as exigências de segurança nacional.
Estrutura acionária pode reduzir influência da China
De acordo com pessoas familiarizadas com as discussões, o arranjo mais avançado até agora prevê que:
- Investidores externos adquiram 50% das operações do TikTok nos EUA;
- Investidores americanos que já possuem participação na ByteDance fiquem com cerca de 30%;
- A fatia da ByteDance na unidade americana seria reduzida a menos de 20%.
Essa estrutura permitiria à ByteDance manter uma posição minoritária, atendendo à legislação americana que exige o desinvestimento chinês em aplicativos considerados sensíveis.
Controle do algoritmo ainda gera controvérsia
Apesar do avanço nas negociações, um dos pontos mais delicados envolve o controle do algoritmo do TikTok, considerado o ativo mais valioso da empresa. Em uma das propostas avaliadas, o código da plataforma permaneceria sob responsabilidade da ByteDance, o que poderia facilitar a aprovação da transação por parte de Pequim.
No entanto, críticos apontam que manter o algoritmo nas mãos da empresa chinesa não elimina o risco de acesso a dados sensíveis de usuários americanos, além de permitir o uso da plataforma para possíveis campanhas de desinformação — acusação que já foi rejeitada tanto pela ByteDance quanto pelo governo chinês.
Propostas descartadas e histórico das tentativas de venda
Essa não é a primeira vez que a Oracle aparece como potencial compradora da operação do TikTok. Em 2020, ainda no primeiro mandato de Trump, a empresa chegou a liderar uma oferta ao lado do Walmart, mas o acordo acabou não avançando, principalmente por conta de obstáculos legais impostos pela própria ByteDance e da pandemia de Covid-19.
Nos últimos meses, outras propostas também foram apresentadas à administração, incluindo uma carta da Amazon, enviada ao vice-presidente Vance e ao secretário de Comércio, Howard Lutnick. Segundo fontes ouvidas sob anonimato, essa oferta foi descartada sem maiores discussões.
Além disso, consórcios com nomes como o bilionário Frank McCourt, o cofundador do Reddit Alexis Ohanian, o youtuber MrBeast, a empresa de inteligência artificial Perplexity AI e a AppLovin Corp chegaram a se manifestar publicamente, mas não foram considerados viáveis até o momento.