Uma pesquisa recente revelou que quase metade dos inadimplentes no Brasil, 46%, já recorreram ao mundo das apostas ao menos uma vez na vida, sendo que 44% desses indivíduos fizeram isso com o objetivo de tentar quitar suas dívidas. O estudo “Bets e Inadimplentes: A Relação dos Inadimplentes com Apostas no Brasil”, realizado pela Serasa em parceria com o instituto Opinion Box, aborda a busca dos consumidores por soluções financeiras rápidas e arriscadas, muitas vezes prejudicando ainda mais sua saúde financeira. O levantamento foi realizado entre os dias 12 e 18 de outubro de 2024, com 4.463 entrevistas realizadas com consumidores maiores de 18 anos em diversas regiões do Brasil.

O comportamento dos inadimplentes em busca de soluções rápidas

De acordo com os resultados da pesquisa, 44% dos inadimplentes que apostaram o fizeram com a esperança de conseguir quitar suas dívidas. O especialista em educação financeira da Serasa, Thiago Ramos, aponta que esse é um caminho perigoso. “Quase metade dos inadimplentes apostam na esperança de poder quitar as suas dívidas, e é justamente o caminho contrário que deveria ser feito. Em vez de organizar as finanças para poder encontrar um bom acordo de renegociação, muitos acabam apostando como uma solução rápida”, explica Ramos.

A falta de planejamento financeiro tem levado muitos a buscar alternativas como as apostas, que, longe de oferecerem uma saída viável, podem criar ainda mais problemas financeiros. A pesquisa também revela que 13% dos inadimplentes entrevistados chegaram a deixar de pagar contas essenciais, como luz e água, para fazer apostas. Este comportamento é um reflexo de uma visão equivocada de que o dinheiro rápido das apostas pode ser a única solução para a crise financeira.

Entre os principais atrativos das apostas, a pesquisa revela que 29% dos inadimplentes apostam com o intuito de ganhar dinheiro rápido para comprar ou pagar algo que precisam. Além disso, 27% fazem isso em busca de uma renda extra. Outros 18% indicaram que apostam principalmente para se divertir.

Este comportamento é um reflexo de um problema maior: a falta de educação financeira. “Essas respostas têm uma relação com a falta de conhecimento financeiro no Brasil, que não é um tema abordado de forma sistemática nem nas escolas públicas, nem nas particulares. Muitas vezes, a educação financeira também é um tabu dentro das famílias e casais”, afirma Thiago Ramos. A falta de instrução sobre como gerir o dinheiro adequadamente é um fator determinante que contribui para a perpetuação de problemas financeiros.

Os riscos das apostas: vício e consequências financeiras

A pesquisa também destaca um aspecto preocupante: 28% dos inadimplentes não demonstram receio de se viciar em apostas e perder dinheiro. Para eles, a esperança de ganhar é maior do que o medo de perder. Além disso, 7% dos participantes veem as apostas como a única perspectiva de mudança de vida, o que agrava ainda mais a situação de risco.

Os números indicam que a aposta se tornou uma forma de tentar escapar da crise financeira, mas com um alto preço. Para os especialistas, este tipo de comportamento reforça a ideia de que muitos ainda veem nas apostas uma possibilidade de “resolver tudo de uma vez”, sem se dar conta de que isso pode levar a um ciclo vicioso e destrutivo para as finanças pessoais.

A pesquisa aponta ainda que 54% dos inadimplentes nunca recorreram a apostas. Para Thiago Ramos, essa é uma evidência de que muitos estão conscientes dos riscos, mas não sabem como lidar com suas finanças de maneira mais eficaz. “O medo de se viciar nas apostas ou de enfrentar as consequências financeiras pode ser um fator que faz com que uma parte das pessoas opte por não entrar nesse jogo. Contudo, é fundamental que essas pessoas também recebam o devido suporte para aprender a controlar suas finanças e buscar alternativas viáveis para resolver suas dívidas”, afirma o especialista.

O estudo de Serasa também evidencia a importância da educação financeira como ferramenta para quebrar o ciclo da inadimplência. Em vez de apostar em soluções arriscadas, é crucial que os consumidores busquem aprender a organizar suas finanças, negociar suas dívidas e estabelecer um planejamento orçamentário que ajude a evitar novos problemas financeiros no futuro.