Na COP29, realizada em Baku, Azerbaijão, a energia nuclear, que por muito tempo foi vista como um tabu nas discussões climáticas, se consolida como uma das soluções essenciais para combater o aquecimento global. Durante a conferência, mais seis países assinaram o compromisso de triplicar o uso de energia nuclear até 2050, uma iniciativa que visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa e fortalecer a segurança energética global.

A energia nuclear no cenário global de combate às mudanças climáticas

A COP29, que acontece anualmente, tem sido palco para debates intensos sobre soluções para as mudanças climáticas. Este ano, no Azerbaijão, a energia nuclear emergiu como uma das principais opções para a descarbonização da economia mundial. A proposta de triplicar o uso global de energia nuclear até a metade deste século, inicialmente firmada por 22 países na conferência passada, agora conta com a adesão de mais seis nações, incluindo países em desenvolvimento como Quênia, Mongólia e Nigéria.

A transformação na percepção da energia nuclear foi claramente evidenciada na COP29, que reuniu diplomatas, especialistas e representantes de governos de todo o mundo. Em um ambiente onde, até recentemente, a energia nuclear era amplamente rejeitada, agora se vê uma mudança significativa de postura. A tecnologia nuclear é considerada uma alternativa viável para gerar eletricidade sem emitir gases de efeito estufa, um dos principais responsáveis pelo aquecimento global.

A energia solar e eólica têm avançado, mas a sua intermitência – com a produção variando conforme o clima – exige fontes complementares de energia. Nesse contexto, a energia nuclear, com sua capacidade de gerar eletricidade de forma constante, surge como uma opção estratégica. De acordo com a presidente da Associação Mundial Nuclear, Sama Bilbao y Leon, a mudança de mentalidade tem sido notável: “Hoje é uma dinâmica completamente diferente”, disse ela, destacando o crescente apoio à energia nuclear.

O crescimento do apoio à energia nuclear

O aumento do apoio à energia nuclear nas cúpulas climáticas pode ser explicado por vários fatores. Primeiramente, a crescente urgência em mitigar as mudanças climáticas tem levado muitos países a reavaliar suas opções energéticas. Países como os Estados Unidos, França e Coreia do Sul, que já têm longa experiência com energia nuclear, estão se unindo a nações emergentes, como o Quênia, que buscam alternativas para atender à crescente demanda por energia, ao mesmo tempo em que buscam reduzir a poluição do ar e os efeitos das mudanças climáticas.

Além disso, o avanço da tecnologia nuclear, com o desenvolvimento de reatores menores e mais eficientes, tem despertado o interesse de vários países, que agora enxergam a energia nuclear como uma solução viável, especialmente quando comparada a fontes renováveis intermitentes, como a energia solar e eólica.
Apesar do crescente apoio, a energia nuclear ainda enfrenta obstáculos significativos. Um dos maiores desafios é o financiamento. O custo elevado de construção e manutenção de usinas nucleares continua a ser um fator limitante para muitos países. Além disso, há uma resistência pública, especialmente após os acidentes nucleares do passado, como o desastre de Chernobyl e o acidente de Fukushima, no Japão.

No entanto, a crescente pressão para descarbonizar a economia e reduzir a dependência de combustíveis fósseis tem levado muitos governos a reconsiderar a energia nuclear. A administração Biden, nos Estados Unidos, por exemplo, tem promovido ativamente o aumento do uso da energia nuclear, com investimentos em projetos internacionais, como os reatores planejados na Polônia, e o apoio a novos reatores em locais como a Romênia.

O impacto global

A energia nuclear tem atraído crescente interesse de países em desenvolvimento, que buscam atender às suas necessidades energéticas enquanto enfrentam os desafios das mudanças climáticas. No caso da Turquia, por exemplo, o presidente da agência de energia nuclear do país, Abdullah Bugrahan Karaveli, afirmou que a eletricidade no país está crescendo a uma taxa de 4% ao ano e que a energia nuclear é essencial para atender a essa demanda. Atualmente, o país está construindo sua primeira usina nuclear com a ajuda de empresas da Rússia, China e Coreia do Sul.

Por outro lado, na Romênia, o país está renovando esforços para expandir sua capacidade nuclear, com negociações para revitalizar reatores parcialmente construídos, além de novos projetos com a tecnologia de reatores menores, como os da startup NuScale, apoiada pelo governo dos EUA. Essas iniciativas buscam não apenas aumentar a geração de energia sem emissões de carbono, mas também diversificar as fontes de eletricidade, garantindo maior segurança energética.