Brasil pode aproveitar retorno da guerra comercial para ampliar exportações de petróleo para a China
Com a possibilidade de um retorno da guerra comercial entre os EUA e a China, o Brasil pode se beneficiar ao expandir suas exportações de petróleo para o país asiático.

Com a perspectiva de um retorno da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, o Brasil pode ter uma janela de oportunidade para expandir suas exportações de petróleo para o país asiático. Especialistas apontam que, se o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, retomar as tarifas elevadas sobre os produtos chineses, o mercado brasileiro de petróleo poderá ser favorecido, especialmente considerando os recentes desenvolvimentos no setor e as mudanças na dinâmica global de comércio.
Oportunidade para o Brasil com o protecionismo de Trump
A indústria de petróleo brasileira vê com otimismo a possibilidade de crescimento nas exportações para a China caso Donald Trump, ao assumir a presidência dos EUA, reative as tarifas de importação sobre os produtos chineses. Durante seu primeiro mandato, Trump já havia imposto taxas elevadas sobre diversos produtos fabricados na China, como forma de combater o desequilíbrio comercial e proteger a economia dos EUA.
Caso essa guerra comercial se intensifique, a China poderá buscar alternativas para atender à sua demanda por petróleo e outros produtos derivados, com o Brasil potencialmente se beneficiando disso. Segundo Isabela Garcia, analista de Inteligência de Mercado da consultoria StoneX, a retaliação de Pequim poderia resultar em uma mudança nas suas rotas comerciais, especialmente em relação à importação de petróleo.
O Brasil no mercado de petróleo da China
Atualmente, o Brasil ocupa a posição de sétimo maior fornecedor de petróleo para a China, com uma média de 720 mil barris por dia (bpd), representando 6,5% do mercado chinês. Embora a Rússia, a Arábia Saudita e o Irã tenham maior proximidade geográfica e condições favoráveis de comércio, o Brasil tem visto um aumento no volume de exportações para a China nos últimos anos, impulsionado pelo crescimento do consumo do país asiático e pela ampliação da produção nacional de petróleo.
Se Trump efetivar uma nova guerra comercial com a China, o Brasil pode se tornar um fornecedor ainda mais relevante. A China, ao buscar diversificar suas fontes de petróleo, poderia aumentar significativamente as compras do produto brasileiro, ainda mais com a redução das importações provenientes dos EUA, que atualmente são apenas o décimo maior fornecedor para o mercado chinês, com uma média de 200 mil bpd.
Impacto da política de Trump no comércio de petróleo
A política protecionista de Trump, que inclui tarifas sobre produtos estrangeiros, pode causar um desvio significativo nos fluxos comerciais globais. Roberto Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), destaca que, em um cenário de guerra comercial, o Brasil pode se beneficiar ao ampliar suas exportações para a China, se os EUA se afastarem dessa relação comercial com o país asiático.
O fortalecimento da indústria petrolífera americana sob a administração de Trump pode também afetar os preços globais do petróleo. Trump tem enfatizado sua agenda de soberania energética, o que pode resultar em um aumento na produção de petróleo nos EUA, impactando o preço global e as dinâmicas de mercado. Isso pode ter efeitos mistos para o Brasil, tanto positivos quanto negativos.
Impactos na produção e no refino de petróleo
O Brasil tem sido um grande defensor de manter sua autossuficiência em petróleo, com a meta de garantir o abastecimento interno para seu mercado e para exportação. Em sua agenda, Trump tem demonstrado apoio ao aumento da produção de petróleo nos Estados Unidos, o que poderá gerar uma competição acirrada no mercado global, além de forçar uma reavaliação nas políticas de preços e abastecimento de países como o Brasil.
Evaristo Pinheiro, presidente da Associação Brasileira dos Refinadores Privados (Refina Brasil), acredita que a política de Trump poderá também atrair investimentos de empresas americanas para o Brasil, que podem expandir suas atividades no país, especialmente em novas fronteiras de exploração de petróleo e no mercado de refino, onde o Brasil enfrenta desafios.
O futuro das energias renováveis no Brasil
Além de afetar o mercado de petróleo, a política de Trump também pode influenciar o setor de energias renováveis. O presidente eleito dos EUA já manifestou um alinhamento menor com as agendas climáticas globais, o que poderia levar à redução dos subsídios americanos para energias limpas. Isso abriria uma possibilidade para o Brasil aumentar a competitividade de sua indústria de energias renováveis.
Luiz Barroso, da consultoria PSR, alerta que uma postura protecionista nos Estados Unidos poderia atrair mais investimentos para o país, mas também impactar o fluxo de investimentos em energias renováveis para o Brasil. As oportunidades de exportação de produtos “verdes” poderiam ser reduzidas devido à adoção de uma agenda mais focada no petróleo e gás nos EUA, o que favoreceria o mercado norte-americano.
Relação Brasil-EUA sob a liderança de Trump
A relação futura entre o Brasil e os Estados Unidos dependerá não apenas das políticas de Trump, mas também da dinâmica política interna brasileira. Especialistas acreditam que, apesar das divergências ideológicas, a relação entre os dois países pode se tornar pragmática, com foco nos interesses econômicos, especialmente no setor de petróleo. Telmo Ghiorzi, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Bens e Serviços de Petróleo (ABESPetro), destaca que o Brasil poderá manter uma relação normal e cooperativa com os EUA, caso o governo brasileiro adote uma postura pragmática em relação a Trump.