Os candidatos que estão concorrendo ao segundo turno pela prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) participaram de um debate na noite do último sábado, transmitido pela TV Record. O evento manteve o mesmo tom acalorado do primeiro encontro, realizado na última segunda-feira (14).

Durante o debate, foram registrados oito pedidos de direito de resposta — cinco de Nunes e três de Boulos. Desses, cinco foram concedidos: três para Nunes e dois para Boulos.

Entre os temas mais abordados pelos políticos, destacam-se a troca de acusações sobre as responsabilidades pelo apagão na capital paulista ocorrido em 11 de outubro, causado por fortes ventos.

Apagão de São Paulo

A previsão do tempo indicava que os fortes ventos e chuvas que causaram o apagão em 11 de outubro poderiam se repetir na sexta-feira (18) e no sábado (19), o que prometia intensificar o debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo. 

No entanto, o clima foi mais ameno do que o esperado, mas Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) mantiveram o tema em evidência durante o confronto.

Boulos voltou a responsabilizar a Prefeitura pela falta de poda e manejo de árvores, argumentando que a queda de galhos e árvores sobre a fiação é a principal causa dos cortes de energia. 

Já Nunes insistiu em atribuir a culpa à Aneel, a agência reguladora federal, por não ter revogado o contrato da Prefeitura com a Enel, concessionária responsável pela distribuição de energia.

A Enel se tornou alvo fácil de ambos os lados. “O apagão tem mãe e pai. A mãe é a Enel. O pai é o Ricardo Nunes, que não fez o básico: a poda e o manejo das árvores”, acusou Boulos. 

Em resposta, Nunes destacou que a concessão é responsabilidade federal. “A intervenção só pode ser feita pelo Presidente da República, e a caducidade do contrato precisa ser decretada pela Aneel. Não vem com desculpa. Você, que é deputado federal, não fez nada. Eu é que fui pedir para mudar a lei de responsabilidade sobre o contrato”, afirmou. 

Troca de acusações

O confronto entre os candidatos do segundo turno das eleições para a Prefeitura de São Paulo intensificou-se com acusações pessoais e troca de farpas, em um tom que evitava defesas e apostava em novos ataques.

Boulos acusou Nunes de envolvimento na Máfia das Creches e pediu a abertura do sigilo bancário do prefeito. Ele também relembrou um episódio da juventude de Nunes, em que o atual prefeito teria disparado um tiro para o alto na porta de uma casa noturna. 

Defendendo-se, Nunes chamou Boulos de extremista e invasor e insinuou que o candidato psolista teria sido conivente com rachadinhas ao atuar como relator do caso de André Janones (Avante).

A discussão se estendeu para a concessão dos cemitérios. Boulos criticou a medida, chamando-a de “indústria da morte”, e alegou que, com a privatização, os altos custos impedem muitas pessoas de enterrar seus familiares. 

Nunes, por sua vez, argumentou que a concessão foi necessária para combater a corrupção no serviço funerário. Boulos reagiu com uma fala provocativa.

 “O Ricardo Nunes falar de corrupção é como o casal Nardoni falar de cuidar dos filhos.” O comentário rendeu um direito de resposta ao prefeito, que, em seguida, Boulos complementou dizendo que se solidarizava com Ana Carolina, mãe da menina Isabella Nardoni.

Em outro momento, Nunes acusou Boulos de bater o carro e fugir sem pagar o prejuízo ao motorista envolvido. O candidato do PSOL admitiu que já sofreu acidentes, mas disparou que “graças a Deus nunca bati em mulher.” 

A fala foi uma referência ao boletim de ocorrência registrado pela esposa de Nunes, Regina, em que o acusa de violência doméstica — um episódio que tem sido explorado contra o prefeito desde o primeiro turno.

Perguntas de jornalistas

A primeira pergunta dos jornalistas foi sobre o benefício da saidinha de presos em feriados. Como deputado federal, Boulos votou contra o endurecimento da medida. Ele defendeu sua posição.

 “A lei já diz que quem é autor de crimes violentos não tem direito. É isso que eu defendo”, disse.

Em sequência, em tom provocativo, citou uma letra dos Racionais MC’s. “Pode rir, mas não desacredita não,” insinuando confiança em uma possível virada no segundo turno. 

Já Ricardo Nunes foi direto em sua resposta.  “A gente não pode mais permitir que pessoas que descumprem leis fiquem impunes. Bandido que está preso tem que ficar preso”, declarou.

Os candidatos também discutiram sobre um possível desabastecimento de água após a privatização da Sabesp, comparando o cenário ao problema recente com a Enel. 

Nunes defendeu a concessão, explicando que “a regulação será feita pelo Estado” e que punições serão aplicadas em caso de descumprimento contratual. Ele destacou que a medida trará benefícios, como melhoria no tratamento de esgoto e na limpeza do rio Tietê. 

Boulos, por outro lado, criticou a privatização: “A Sabesp pode virar a Enel da água.” Em tom sarcástico, afirmou que “depois, quando dá o problema, ele vai vestir coletinho pra dizer que está trabalhando”, ironizou.

A segurança pública foi outro ponto de embate. Nunes destacou as ações realizadas em sua gestão, como a contratação de novos guardas, aumento salarial, a Operação Delegada e a implantação do Smart Sampa.

 “Já são 17 mil câmeras. Prendemos mais de 300 pessoas e identificamos pessoas desaparecidas”, afirmou.

O prefeito ainda comentou sua experiência recente. “Outro dia estive na Praça da Sé por volta das 22h, e as crianças estavam brincando.” 

Boulos usou de ironia para comentar o tema. “Você se sente seguro para andar com celular nas ruas de São Paulo?” 

Nunes reconheceu que “ainda há muito a ser feito”, mas criticou o PSOL por votar contra medidas de segurança.