Senado aprova Galípolo como novo presidente do Banco Central; o que esperar?
Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Galípolo substituirá Roberto Campos Neto, que está à frente do BC desde 2019, com mandato até dezembro deste ano.

O Senado aprovou na última terça-feira (08) o economista Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central a partir de 2025, com 66 votos a favor e 5 contrários.
Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Galípolo substituirá Roberto Campos Neto, que está à frente do BC desde 2019, com mandato até dezembro deste ano.
Durante sua sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Galípolo foi questionado sobre possíveis influências do governo na condução da política monetária. Ele afirmou que nunca foi pressionado e que sempre teve liberdade para atuar no BC.
“Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar o presidente Lula, eu escutei de forma enfática e clara a garantia da liberdade na tomada de decisões e que o desempenho da função deve ser orientado exclusivamente pelo compromisso com o povo brasileiro”, afirmou.
Galípolo, que ocupava o cargo de diretor de Política Monetária do BC desde julho de 2023, foi vice-ministro da Fazenda de Fernando Haddad e possui boa articulação tanto na equipe econômica quanto no Congresso.
Neste cenário, sua indicação em agosto para a presidência do Banco Central não causou surpresas no mercado, sendo bem recebida.
Com mestrado em Economia Política, Galípolo tem experiência como sócio-diretor em consultorias para concessões e Parcerias Público-Privadas, foi conselheiro da Fiesp e presidente do Banco Fator. Ele também é coautor de livros com o economista Luiz Gonzaga Belluzzo.
A autonomia do Banco Central, aprovada em 2021, prevê que os mandatos dos diretores do BC não coincidam com os do presidente da República. Dessa forma, Lula terá maioria na cúpula do BC a partir de 2025, com sete dos nove diretores indicados por ele.
O governo ainda não anunciou o nome que preencherá a vaga deixada por Galípolo na diretoria de Política Monetária, nem os substitutos para as diretorias de Regulação e Relacionamento, que também estarão vagas no final do ano.
Apesar das críticas de Lula ao nível de juros no Brasil desde o início de seu governo, declarações recentes de Galípolo têm sido interpretadas por analistas do mercado como indicativas de uma postura mais rigorosa na condução da política monetária.
Isso diminui as especulações sobre a possibilidade de o Banco Central adotar uma abordagem mais flexível no combate à inflação, especialmente quando o governo conseguir a maioria de indicados na diretoria.
Após um período de críticas severas à atuação do Banco Central e à própria regra da autonomia, que causaram volatilidade nos mercados, Lula moderou seu tom. Ele passou a afirmar que não haveria problemas caso Galípolo precisasse votar a favor de elevações na taxa Selic.
Galípolo tem perfil técnico e político
Comparado com os últimos ocupantes do cargo, Gabriel Galípolo possui um perfil mais político, mas nunca se distanciou do mercado financeiro.
Sua estreia no Comitê de Política Monetária (Copom) do BC coincidiu com a primeira queda da Selic desde o início do ciclo de alta da taxa básica, em março de 2021.
O ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Tony Volpon, destacou que a experiência de Galípolo como diretor foi essencial.
“Se ele estivesse entrando no BC sem essa experiência, haveria muitas dúvidas sobre sua capacidade de atender às necessidades do cargo”, afirmou Volpon à CNN. No entanto, ele também apontou a desconfiança do mercado em relação a Galípolo. O fato de o novo presidente do Banco Central demonstrar alinhamento com o governo atual gera um “déficit de credibilidade”.
Para Volpon, Galípolo terá que provar, independentemente de ser considerado o ‘menino de ouro’ do governo, que atuará de forma técnica, com independência e compromisso com o sistema de metas”.
Por fim, ele ressaltou que o momento atual é delicado para a política monetária, com expectativas desancoradas, pressão sobre o dólar e a questão fiscal em destaque.