A recente queda nos preços internacionais do petróleo e a valorização do real frente ao dólar poderiam sugerir uma possível redução nos preços dos combustíveis no Brasil. No entanto, especialistas afirmam que essas mudanças não devem resultar em alívios para o bolso dos consumidores. De acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), não há expectativa de que esses fatores influenciem uma diminuição nos preços finais dos combustíveis. Entenda o cenário e o impacto dessa situação.

Apesar das recentes reduções no preço do petróleo e da queda de 3% no valor do dólar apenas em agosto, os consumidores brasileiros não devem sentir alívio nos preços dos combustíveis. Sérgio Araújo, presidente executivo da Abicom, explica que, embora o cenário global tenha melhorado, não há previsão para uma redução nos preços finais. A estatal Petrobras, responsável por grande parte dos combustíveis no país, continua mantendo os preços elevados devido à volatilidade e à incerteza no mercado internacional.

O contexto internacional tem favorecido a Petrobras, com a redução do dólar e a queda nos preços do petróleo contribuindo para a melhoria das suas margens de importação. Sérgio Araújo destaca que, embora essas mudanças sejam positivas para a empresa, a volatilidade do mercado e a insegurança sobre possíveis reversões nos conflitos internacionais, especialmente no Oriente Médio, impedem uma redução imediata nos preços. A Petrobras, portanto, continua monitorando o mercado de perto antes de tomar qualquer decisão sobre ajustes nos preços dos combustíveis.

A Petrobras atualmente vende gasolina acima do preço de paridade internacional, o que representa um ganho significativo para a estatal. Rafael Schiozer, professor de Finanças da FGV, comenta que, apesar das quedas recentes do dólar, não há previsão de ajustes diários nos preços como ocorria anteriormente. No entanto, pequenas variações são possíveis, e no médio prazo, os preços devem se manter próximos da paridade internacional. Essa estratégia ajuda a Petrobras a evitar ajustes frequentes, mas os consumidores ainda enfrentam preços elevados.

O final da safra de cana-de-açúcar está previsto para elevar a cotação do álcool, um componente essencial da gasolina no Brasil, representando mais de 20% da mistura. A alta no preço do álcool contribui para a manutenção dos preços elevados da gasolina. Além disso, o preço do biodiesel também subiu 20%, o que deve impactar o preço do diesel. Esses fatores combinados contribuem para a persistência dos preços altos dos combustíveis no país.

O relatório mais recente da Abicom, datado de 22 de agosto, revela que o preço de paridade de importação (PPI) está abaixo da paridade para o óleo diesel e na paridade para a gasolina. A defasagem média é de -1% no óleo diesel e de 5% na gasolina, com o diesel A S10 apresentando uma defasagem de -2% ou -R$ 0,06. Esses números indicam que, embora a Petrobras esteja vendendo combustível a preços que estão abaixo do esperado, isso não se traduz em redução para os consumidores.