Essa semana eu me deparei com uma matéria que dizia que mais de 400 mil empresas haviam fechado as portas no primeiro trimestre de 2023. E é claro que essa é uma notícia triste, tendo em vista também que um número menor de empresas surgiu no mesmo período.

Mas, como de costume, o déficit liga nossos alertas naturalmente e, após receber um tipo de informação como essa, passamos a procurar culpados para isso.

Esforço-me sobremaneira para não ser apenas um leitor de manchetes e títulos. Então, por ter essa mania de profundidade, decido continuar a ler alguns poucos parágrafos da tal notícia e vejo que, pasmem, para os que adoram tomar conclusões precipitadas, o problema não é de hoje. Em alguns períodos anteriores, tínhamos tanto o apontamento do déficit quanto o próprio.                    

Problema do atual governo ou do passado?

Bom, a culpa mesmo eu não sei de quem é, mas o problema, certamente, é seu. Assim como eu, você é brasileiro.

Como assim, Correia?

Opinião política na minha profissão não serve de muita coisa, e eu já aprendi que o ponto em comum dos livros de finanças NÃO é ensinar a votar em determinada ideologia ou persona, ou seja, você e eu sabemos onde isso termina: a culpa pode até ser do governo (seja do atual, do passado ou qualquer outro), mas o problema, certamente, é inteiramente nosso. 

Dói, né? Eu sei. Imagina você sendo um desses 400 mil empresários que fecharam as portas no ano passado ou neste ano. A ira, a fúria, a raiva, a frustração de perder tempo e, principalmente, dinheiro.

Empreender incomoda, mas é por isso que paga mais.

E no final das contas o que resta é entender que, entra governo e sai governo, você, caro empreendedor, será o ÚNICO responsável pelo sucesso, caso ele aconteça (assim espero), ou também pelo fracasso.

“Mas, Correia… A culpa não foi minha! O governo fez X,Y,Z”.

Tudo bem, a culpa pode não ser sua, mas a responsabilidade, sim.

A filosofia desse que vos fala é trazer incansavelmente o que eu chamo de “análise realista”, e ela é imparcial. Pode incomodar, pode doer e pode ser desgastante ouvir, mas empreender é correr riscos em QUALQUER governo ou país. E dizem que especialmente ainda mais no Brasil.

Não quer risco ao empreender? Lamento. No Brasil seus riscos são:

– o país que você não escolheu ter nascido;

– os encargos que você não escolheu pagar;

– o governo que você não escolheu eleger, independente da direção dele.

A culpa pode até não ser sua, mas você é brasileiro, queira ou não.

Gabriel Correia

Assessor e mentor de investimentos desde 2020 e investidor desde 2016, Gabriel Correia dedica seus estudos ao que chama de "análise realista", separando tradicionais discursos ilusórios da realidade dos investimentos. Atualmente, é sócio no escritório InvestSmart, vinculado à XP, e colunista de empreendedorismo e investimentos do Melhor Investimento.