Em uma coletiva de imprensa realizada na quinta-feira (10), Geovane Tobias, vice-presidente de Gestão Financeira e Relações com Investidores do Banco do Brasil (BBAS3), abordou a questão da possível antecipação de dividendos e alterações no percentual de distribuição de lucros (payout) para da instituição financeira no curto prazo.

Tobias afirmou que não há planos para o futuro próximo de antecipar dividendos ou alterar a estrutura de distribuição atual. A taxa atual de payout do banco, que representa a parcela dos lucros distribuída como dividendos, está em 40%.

O vice-presidente do banco também explicou que o BB está atualmente passando por um processo de ajuste de metodologias de alocação de capital para riscos operacionais. Esse processo deve continuar até 2025, período durante o qual Tobias expressou cautela sobre fazer quaisquer mudanças na remuneração dos acionistas. “Preferimos manter nossa política de remuneração. Não há previsão para aumento de dividendos; pelo contrário, manteremos esse payout de 40%”, disse.

Quando questionado sobre o uso potencial de lucros acumulados e a possibilidade de antecipação de dividendos devido à reforma tributária em curso, Tobias reforçou que, apesar da existência de reservas de lucro, as provisões são feitas com base em metodologias de risco. Ele acrescentou: “Não temos cartas escondidas nem reservas discricionárias para antecipar lucros”.

Já em relação às estratégias de negócios aprovadas pelo banco para os próximos cinco anos, Tobias revelou que não faria sentido aumentar as distribuições, já que o BB está em discussões para fazer ajustes em determinadas áreas no segundo semestre do ano devido à queda das taxas de juros, que devem trazer oportunidades para o mercado.

“Dentro dessa perspectiva de remuneração dos acionistas, se entendemos que o capital reinvestido em nossa base traz um retorno de 20%, por que distribuir mais? Se o dinheiro está rendendo mais para o acionista aqui”, defendeu.

Tobias ainda lembrou que, no passado, o BB havia distribuído apenas o mínimo, 25% do lucro, quando sua estrutura de capital era pior. Ele destacou os ajustes em andamento sendo exigidos pela autoridade monetária, que devem continuar até 2025. Ele sugeriu que quaisquer mudanças que o BB possa considerar seriam melhores feitas após a implementação desses ajustes.

O executivo acrescentou que quanto mais reforço o BB fizer em sua base de capital e quanto mais força tiver para aproveitar o ciclo de crescimento econômico, melhor. Ele esclareceu que todas essas variáveis seriam levadas em consideração em qualquer mudança potencial na estrutura de payout.

Embora otimista em relação aos resultados de certos segmentos que atingiram níveis historicamente bons, a gestão do Banco do Brasil mostrou conservadorismo em algumas projeções. Por exemplo, o lucro líquido ajustado para 2023 manteve a previsão entre R$33 bilhões e R$37 bilhões para o ano.

O banco também não alterou a projeção de crescimento de crédito para clientes individuais. O BB espera um avanço de 7% a 11% este ano. Apenas no primeiro semestre, o crescimento observado foi de 10%.

Em relação à carteira de crédito como um todo, a previsão de crescimento foi revisada para uma faixa de 9% a 13%, impulsionada pelo aumento nos segmentos corporativo e do agronegócio.

Com relação às provisões, com possível impacto no terceiro e quarto trimestres devido a um cliente corporativo em recuperação judicial, e com o crescimento da carteira de crédito e a inadimplência de indivíduos atingindo picos no primeiro semestre, o BB ajustou sua provisão para devedores duvidosos (PCLD) para a faixa entre R$23 bilhões e R$27 bilhões.

A fala do vice-presidente do Banco do Brasil sobre o fim do JCP

Tobias declarou que o banco está analisando as possíveis consequências que surgiriam caso os juros sobre capital próprio (JCP) fossem eliminados devido à reforma tributária. O executivo rejeitou a ideia de que haveria um aumento de despesas nas linhas de crédito devido a essa mudança, argumentando que o aumento na carga tributária não necessariamente resultaria em um repasse de custos.

Ele afirmou que a instituição está preparada para mitigar qualquer efeito negativo através da expansão das atividades comerciais.

Durante uma teleconferência com analistas, Tobias também enfatizou que o Banco do Brasil está encarando com serenidade possíveis modificações relacionadas aos JCP. Ele destacou a abertura do banco ao diálogo e expressou a crença de que deve haver um canal aberto para discussões envolvendo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), o governo e o Congresso, com o intuito de encontrar a melhor solução que não afete negativamente o setor.