Tarifas de Trump e postura do Banco Central: desafios inflacionários para o Brasil
A recente elevação das tarifas impostas pelo governo de Donald Trump gerou preocupações com a inflação no Brasil, especialmente após o Banco Central adotar uma postura branda sobre os riscos da guerra comercial. Especialistas criticam a visão do BC, apontando que as tarifas podem enfraquecer ainda mais o real e agravar as pressões inflacionárias.

O recente aumento das tarifas anunciadas pelo governo de Donald Trump gerou novos temores sobre uma possível inflação no Brasil, com o Banco Central adotando uma postura branda diante dos impactos dessa guerra comercial. A medida, que afeta diretamente os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos, vem em um momento de incerteza econômica global e de fragilidade da moeda brasileira, trazendo mais desafios para o cenário inflacionário no país.
Na última semana, o governo dos EUA aumentou tarifas sobre produtos vindos de países como China, México e Canadá, reacendendo as preocupações sobre uma inflação global mais elevada. No Brasil, essas tarifas têm o potencial de afetar a moeda e os preços internos, com o real já tendo sofrido desvalorização em relação ao dólar após o anúncio. Em um cenário onde a moeda brasileira já enfrenta pressões inflacionárias devido a questões fiscais internas, as novas tarifas de Trump agravam o quadro.
O Banco Central, que recentemente elevou a taxa de juros para 13,25% em um esforço para conter a inflação interna, tentou minimizar os riscos inflacionários ao afirmar que, no contexto das economias emergentes, os choques comerciais poderiam ter um efeito de desaceleração econômica. No entanto, essa visão foi amplamente contestada por especialistas, que consideram que a postura do BC não reflete adequadamente o risco de uma pressão inflacionária mais forte no Brasil.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central divulgou uma mensagem que foi considerada por muitos analistas como excessivamente branda diante do cenário de guerra comercial. Embora o aumento das taxas de juros tenha sido um movimento esperado, sua estratégia para lidar com os riscos externos não foi vista como robusta o suficiente, especialmente diante da intensificação das tarifas impostas por Trump.
O BC afirmou que o risco de um cenário inflacionário mais elevado, devido às tarifas, era baixo, sugerindo que um contexto mais tranquilo no comércio global poderia reduzir os impactos negativos. Para muitos economistas, no entanto, essa análise subestimou os riscos de uma possível escalada das tensões comerciais, que pode afetar diretamente a competitividade da economia brasileira e pressionar ainda mais os preços internos.
Vários ex-diretores do Banco Central e economistas têm criticado essa postura. Sob anonimato, dois ex-diretores do BC disseram à Reuters que a visão otimista do banco não condizia com os desafios reais impostos pela situação econômica externa. Eles alertaram que a imposição de tarifas poderia prejudicar diretamente o Brasil, especialmente se o país fosse alvo das novas tarifas, o que enfraqueceria ainda mais a moeda local e agravaria a inflação.
Um terceiro ex-diretor do Banco Central ressaltou a possibilidade de um cenário global mais deflacionário, caso a guerra comercial desencadeasse uma crise econômica global. No entanto, esse ponto de vista não foi amplamente compartilhado, e a maior parte dos analistas acredita que a perspectiva mais plausível é de um aumento nas pressões inflacionárias no Brasil.
O impacto das tarifas já está sendo sentido na economia brasileira. O real, que se valorizou em cerca de 6% no mês de janeiro, sofreu uma nova queda de mais de 1% após o anúncio das novas tarifas de Trump. Embora tenha se recuperado parcialmente quando Trump decidiu suspender temporariamente as tarifas sobre o México, a volatilidade da moeda continua a ser uma preocupação constante para os investidores.
A desvalorização do real, aliada às incertezas fiscais internas, tem sido um dos principais fatores por trás das pressões inflacionárias no Brasil. A moeda brasileira perdeu mais de 20% de seu valor em relação ao dólar no ano passado, e a instabilidade continua a ser um fator de risco para os próximos meses, especialmente se a guerra comercial escalar.