Queda de governo na Bulgária amplia incertezas às vésperas da entrada na zona do euro

A Bulgária entrou em um novo período de instabilidade política após a renúncia do primeiro-ministro Rosen Zhelyazkov, pressionado por protestos contra corrupção e aumento de impostos.

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Última atualização:  15 de dez, 2025 às 15:57
Homem careca de terno escuro, possivelmente um político, falando em um pódio com microfones. Ele está flanqueado por duas mulheres. Ao fundo, está escrito em cirílico "НАРОДНО СЪБРАНИЕ НА РЕПУБЛИКА БЪЛГАРИЯ" (Assembleia Nacional da República da Bulgária). Foto: REUTERS - Stoyan Nenov / RFI

A queda de governo na Bulgária mergulhou o país em mais um período de instabilidade política justamente no momento em que se preparava para um passo decisivo: a adoção do euro. A renúncia do primeiro-ministro Rosen Zhelyazkov, anunciada na última quinta-feira, ocorreu após semanas de protestos contra corrupção estatal e contra um projeto de orçamento que previa aumento de impostos, reacendendo o risco de novas eleições e levantando dúvidas sobre a capacidade do país de conduzir a transição monetária.

Membro da União Europeia e da Otan, a Bulgária enfrenta um cenário recorrente de fragilidade institucional. A crise atual se soma a um histórico recente de governos curtos, parlamentos fragmentados e sucessivas eleições, em um contexto de forte polarização política e social.

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A renúncia de Zhelyazkov encerrou uma coalizão de três partidos que governava desde janeiro e que já vinha perdendo apoio popular. A decisão foi tomada após manifestações em larga escala, que pressionaram o Executivo a recuar de medidas fiscais impopulares e denunciaram práticas de corrupção no Estado.

A crise política ocorre em Sófia, capital do país, mas seus efeitos se espalham por toda a Bulgária, que pode enfrentar mais um ciclo eleitoral caso os partidos não consigam formar uma nova maioria no Parlamento.

Impacto direto sobre a entrada na zona do euro

Um dos pontos centrais da crise é o calendário para a adoção da moeda única europeia. O governo que caiu era responsável por coordenar a entrada da Bulgária na zona do euro, prevista para 1º de janeiro.

Analistas alertam que a queda de governo na Bulgária pode comprometer a supervisão do processo de conversão monetária, especialmente no controle de preços e na fiscalização de práticas abusivas por parte do comércio. Sem um governo estável e sem um orçamento aprovado, aumentam os riscos de inflação e de perda de confiança da população.

Histórico de instabilidade política no país

A atual crise não é um episódio isolado. Nos últimos quatro anos, a Bulgária realizou sete eleições nacionais, reflexo da dificuldade crônica de formar governos duradouros. O Parlamento é composto por cerca de nove partidos, muitos deles pequenos, o que torna as coalizões frágeis e instáveis.

Esse cenário tem dificultado reformas estruturais e alimentado a insatisfação popular com a classe política, frequentemente associada a escândalos de corrupção.

Protestos contra corrupção e aumento de impostos

As manifestações tiveram início no fim de novembro, quando o governo apresentou um projeto de orçamento prevendo aumento das contribuições para a seguridade social e dos impostos sobre dividendos. O objetivo era financiar maiores gastos públicos, incluindo recursos para a polícia, os serviços de segurança e o Judiciário.

Essas instituições, no entanto, são vistas por parte da população como símbolos de um sistema marcado por abusos e falta de transparência. Embora o projeto tenha sido posteriormente retirado, os protestos continuaram e ganharam força.

Acusações de repressão política ampliam desgaste

Além das questões fiscais, o governo enfrentava críticas por suposta repressão à oposição liberal e pró-União Europeia. Um dos casos mais emblemáticos foi a prisão do prefeito da cidade costeira de Varna, Blagomir Kotsev, acusado de corrupção — acusações que ele nega.

Para muitos manifestantes, o episódio reforçou a percepção de uso político das instituições do Estado, aprofundando a crise de confiança no governo.

Mobilização popular histórica

Na quarta-feira, dezenas de milhares de pessoas foram às ruas em cidades e vilarejos da Bulgária, em protestos considerados entre os maiores desde o fim do regime comunista, em 1989. A diversidade do público chamou a atenção de analistas: profissionais urbanos, jovens, aposentados e grupos com visões políticas distintas participaram das manifestações.

Segundo especialistas, essa amplitude social deu peso político à mobilização e acelerou a queda de governo na Bulgária.

População dividida sobre o euro e política externa

Os protestos também revelaram divisões profundas na sociedade. Parte dos manifestantes apoia a adoção do euro e uma maior integração com a Europa Ocidental. Outros, porém, temem que a mudança de moeda provoque aumento da inflação ou rejeitam a postura pró-Ocidente do país, especialmente em relação à guerra na Ucrânia.

Dificuldade para formar novo governo

Com a renúncia formalizada, cabe agora ao presidente Rumen Radev conceder ao partido GERB, o maior do Parlamento, o mandato para tentar formar um novo governo. A tarefa, no entanto, é considerada difícil diante da fragmentação legislativa.

Caso o GERB fracasse ou recuse o mandato, outros partidos terão a oportunidade de formar um gabinete. Se todas as tentativas falharem, o presidente poderá nomear um governo interino e convocar eleições antecipadas.

Riscos econômicos e institucionais

Especialistas alertam que a ausência de um governo estável e de um orçamento aprovado eleva os riscos para a economia. Sem coordenação estatal, há preocupação com choques no sistema, perda de credibilidade e dificuldades adicionais no processo de adoção do euro.

A crise reforça a percepção de que a queda de governo na Bulgária não é apenas um evento político, mas um fator com potencial impacto econômico e institucional de longo prazo.

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