Queda nas exportações para a Argentina: Mercosul enfrenta desafios
As exportações do Brasil para a Argentina sofreram uma queda de 25% entre janeiro e outubro de 2024, reflexo das dificuldades na relação comercial entre os dois países.

A relação entre Brasil e Argentina atravessa um momento de dificuldades, refletido não apenas em questões diplomáticas, mas também em uma queda acentuada nas exportações brasileiras para o país vizinho. Entre janeiro e outubro de 2024, os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) apontam uma diminuição de 24,8% nas vendas brasileiras para a Argentina, o que representa um impacto direto nas economias de ambos os países. Este cenário de tensão e dificuldades comerciais será um dos principais pontos discutidos na 65ª Cúpula do Mercosul, que acontece em Montevidéu, nesta quinta e sexta-feira.
Queda no comércio bilateral e superávit encolhido
A balança comercial entre Brasil e Argentina continua positiva para o Brasil, mas com uma diferença marcante. Em 2023, o superávit comercial foi de 4,75 bilhões de dólares. Este ano, no entanto, o valor despencou para apenas 69 milhões de dólares. Esse desequilíbrio não é um reflexo de novas barreiras comerciais, mas de uma série de fatores políticos e econômicos que dificultam a expansão do comércio entre os dois países.
A explicação para esse declínio, segundo Gisela Padovan, embaixadora do Brasil e secretária para América Latina e Caribe do Itamaraty, está no ajuste fiscal promovido pelo novo governo argentino, liderado pelo presidente Javier Milei. A decisão de implementar um ajuste fiscal severo afetou diretamente a economia e, por consequência, o comércio com o Brasil. Padovan destacou que a queda foi repentina, um sinal claro das implicações econômicas provocadas pelas reformas de Milei, que têm gerado impactos negativos no comércio entre os dois países.
A Cúpula do Mercosul e os desafios da relação Brasil-Argentina
A 65ª Cúpula do Mercosul, que será realizada em Montevidéu, se torna um palco crucial para entender os rumos dessa relação. Durante o evento, líderes dos países fundadores do bloco – Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – irão discutir, entre outros pontos, a crescente tensão comercial. Embora existam divergências políticas entre os países, um ponto de consenso é o avanço do acordo de livre comércio com a União Europeia. Ambos os países, Brasil e Argentina, chegaram a um acordo sobre os termos desse acordo, que pode finalmente ser concluído, após anos de negociações.
No entanto, a presença do presidente argentino Javier Milei na cúpula traz uma dose extra de incerteza. Este será o primeiro encontro do líder argentino com os demais presidentes do Mercosul, e suas críticas ao bloco regional e sua vontade de buscar acordos comerciais fora do Mercosul são um ponto de tensão. Milei tem demonstrado insatisfação com a lentidão do Mercosul e já chegou a ameaçar a retirada da Argentina do bloco, o que geraria profundas implicações econômicas para todos os membros.
Fatores políticos e econômicos aumentam a tensão
A relação entre Brasil e Argentina não está se limitando apenas às questões comerciais. Políticas econômicas e escolhas estratégicas também são fundamentais para entender as atuais dificuldades. Desde a vitória de Milei nas eleições, a Argentina tem se distanciado das práticas econômicas tradicionais da região, priorizando uma agenda mais alinhada aos interesses de mercados externos e buscando acordos bilaterais com países fora do Mercosul. Isso inclui o desejo de firmar pactos comerciais diretamente com outras nações, sem a mediação do bloco.
Em 2023, a relação comercial entre os dois países ainda estava aquecida, mas em 2024, a mudança de postura do governo argentino afetou substancialmente a balança comercial. No ano passado, o superávit do Brasil com o Mercosul foi de 6 bilhões de dólares, mas em 2024, com a situação mais equilibrada, os números revelam a fragilidade da relação econômica, especialmente entre Brasil e Argentina.