Governo ainda sem definição sobre corte de gastos: tensão nos mercados e resistência interna
O governo federal segue sem uma definição sobre o pacote fiscal, que inclui medidas de corte de gastos.
Governo ainda sem definição sobre corte de gastos: tensão nos mercados e resistência interna
O aguardado pacote fiscal do governo federal, com medidas de corte de gastos, segue sem data para ser anunciado, em meio a impasses internos e resistência de ministros ligados a áreas sociais. A falta de definição sobre o tema tem gerado uma crescente tensão no mercado financeiro e um clima de incerteza sobre os rumos da economia brasileira.
Na manhã desta segunda-feira (11), o governo ainda não havia apresentado uma previsão de quando as medidas seriam oficialmente divulgadas. As discussões sobre os cortes já entram na terceira semana, sem que um consenso tenha sido alcançado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em busca de uma solução, tem se reunido praticamente todos os dias com sua equipe econômica, mas ainda não há um acordo claro sobre os pontos do pacote fiscal.
Resistência dos ministros da área social dificulta consenso
O principal obstáculo para a definição do pacote fiscal está na resistência de ministros que comandam pastas relacionadas ao bem-estar social. Wellington Dias (Assistência Social), Carlos Lupi (Previdência) e Luiz Marinho (Trabalho) têm se oposto fortemente a propostas que impliquem em cortes em benefícios sociais, como o seguro-desemprego, o abono salarial e a política de aumento do salário mínimo.
Marinho, por exemplo, criticou abertamente as discussões sobre mudanças no seguro-desemprego, argumentando que não havia sido consultado sobre possíveis alterações no programa. “Se ninguém conversou comigo, não existe [debate sobre essas supostas mudanças]. Eu sou responsável pelo Trabalho e Emprego. A não ser que o governo me demita”, afirmou o ministro.
Carlos Lupi, por sua vez, levantou a questão da preservação dos direitos adquiridos, principalmente os benefícios previdenciários. O ministro da Previdência defendeu que qualquer mudança que prejudique os aposentados ou impacte negativamente a política de salário mínimo comprometeria o equilíbrio social do país. “Não conte comigo para cortar direitos. Precisamos olhar para os grandes devedores e corrigir distorções, não atacar quem já sofre com a miséria”, disse Lupi.
Impasse adia decisões e causa incerteza no mercado financeiro
O impasse interno sobre o corte de gastos tem gerado uma reação negativa nos mercados financeiros. Na semana passada, a expectativa de que o governo finalmente anunciasse as medidas gerou um aumento nas tensões, com o dólar disparando e investidores demonstrando apreensão. A falta de clareza nas decisões aumentou a incerteza, com o mercado aguardando mais definições sobre o impacto do pacote fiscal.
Inicialmente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia indicado que o anúncio poderia ocorrer ainda na semana passada. Contudo, as discussões internas se prolongaram, e não houve consenso. Haddad chegou a adiar uma viagem à Europa para acompanhar as reuniões e tratar pessoalmente do tema, mas, mesmo assim, o pacote fiscal permanece sem uma definição clara.
Além disso, a necessidade de envolver os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), no processo, atrasou ainda mais o andamento das discussões. Ambos estavam ocupados com compromissos externos e, posteriormente, com questões pessoais, dificultando o andamento das negociações.
Propostas e alternativas sendo analisadas
Apesar da resistência interna, algumas alternativas para o pacote fiscal estão sendo estudadas. Uma das principais propostas em análise é o redesenho do abono salarial, um benefício pago aos trabalhadores com carteira assinada que recebem até dois salários mínimos. O governo estuda concentrar mais recursos no público de menor renda, dada a crescente ampliação do número de beneficiários do programa.
Outra medida em discussão é a revisão das políticas sociais do governo, com ênfase na utilização de biometria para evitar irregularidades no cadastro dos beneficiários. A equipe econômica também pretende reduzir o tempo de revisão cadastral, passando de 48 para 24 meses, uma mudança que visa garantir maior controle sobre os benefícios distribuídos.
Apesar dessas propostas, a resistência dos ministros sociais continua sendo um obstáculo significativo, e ainda não há consenso sobre a extensão das mudanças.
A agenda apertada do governo e o impacto dos feriados
Esta semana, a agenda do governo será mais curta devido ao feriado nacional de 15 de novembro, que marca a Proclamação da República, dificultando ainda mais qualquer anúncio sobre o pacote fiscal. Além disso, na próxima semana, o Brasil celebrará o Dia da Consciência Negra (20 de novembro), o que deverá reduzir ainda mais a disponibilidade para discussões sobre as medidas fiscais.
De acordo com a agenda oficial da Presidência da República, nesta segunda-feira (11), não há reuniões marcadas especificamente sobre o corte de gastos. No entanto, Lula tem encontros previstos com ministros e líderes políticos, o que pode gerar novas movimentações nos próximos dias.