A Marcopolo (POMO4), uma das líderes no mercado de ônibus, continua a expandir suas operações internacionais, com destaque para mercados estratégicos como África do Sul, Argentina e Austrália. No entanto, apesar dos avanços globais, a empresa enfrenta desafios significativos no Brasil, especialmente relacionados aos altos custos dos ônibus elétricos e limitações na infraestrutura local. A companhia aposta na eletrificação de frotas e no mercado de motorhomes como principais pilares para o crescimento futuro.

No evento Investidor Day realizado na última quinta-feira, 5 de dezembro de 2024, a Marcopolo revelou que suas operações internacionais já representam 33% da receita acumulada até setembro deste ano. As principais áreas de expansão incluem mercados como África do Sul, Argentina e Austrália. No caso da África do Sul, a produção mensal dobrou para 40 unidades, o que resultou em um lucro consolidado de R$ 10 milhões, marcando um crescimento de 42% em relação ao ano passado. Este desempenho é reflexo da reestruturação das operações internacionais da companhia, que tem se mostrado eficaz em melhorar a rentabilidade e consolidar a marca em novos mercados.

Além disso, na Argentina, a Marcopolo reverteu um prejuízo de R$ 27 milhões em 2023 para um lucro de R$ 39 milhões. Esse salto foi impulsionado pela produção local e pela crescente demanda por modelos rodoviários. Na Austrália, o lucro disparou para R$ 66 milhões, comparado a R$ 1 milhão no ano anterior, com sinergias com a China e renegociações de preços contribuindo para esse crescimento.

Desafios no Brasil: o que impede o avanço local?

Apesar dos bons resultados no exterior, a Marcopolo ainda enfrenta obstáculos no Brasil. Um dos maiores desafios é o alto custo de produção de ônibus elétricos. Mesmo com o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e incentivos locais, como o financiamento de dois terços do custo de 1,3 mil ônibus elétricos em São Paulo, a empresa enfrenta dificuldades relacionadas à falta de infraestrutura de recarga e à escassez de pontos de carregamento no país. Isso tem dificultado a maior penetração dos ônibus elétricos no mercado brasileiro, que é uma das apostas da companhia para o futuro.

No entanto, a Marcopolo não desanima e continua buscando soluções para superar essas limitações. A empresa espera fechar o ano com 1,4 mil ônibus exportados, e já planeja aumentar esse número para 1,7 mil em 2025, com foco no crescimento das exportações para mercados da América Latina, América Central e América do Norte.

Apostas no mercado de motorhomes e eletrificação

A diversificação das operações é outra estratégia que a Marcopolo tem adotado para impulsionar seu crescimento. A linha de motorhomes Nomade, lançada pela empresa, é um exemplo claro dessa estratégia. Além disso, a eletrificação de frotas se mantém como um dos principais pilares de crescimento, com a empresa continuando a investir em parcerias com o BNDES e outros subsídios locais. A Marcopolo acredita que o futuro do transporte coletivo estará cada vez mais ligado a ônibus elétricos, especialmente em grandes centros urbanos como Buenos Aires e cidades brasileiras, que têm investido em renovação de frota.

Oportunidades e desafios no mercado

A mobilidade urbana também tem se mostrado uma das maiores oportunidades de expansão para a Marcopolo. A empresa cita como exemplo o programa de renovação de frota em Buenos Aires, que busca modernizar o transporte público com modelos mais sustentáveis, como os ônibus elétricos. No Brasil, diversas cidades também têm se mostrado dispostas a investir em soluções para o transporte coletivo, o que pode abrir portas para a Marcopolo, especialmente se os custos de produção e infraestrutura de recarga forem ajustados.

Análise do mercado: expectativas e projeções

Em relação às perspectivas de crescimento da Marcopolo, os analistas são otimistas, embora com algumas reservas. O Bradesco BBI manteve sua recomendação de outperform (potencial de desempenho superior) para as ações da empresa, com preço-alvo de R$ 11 para 2025, destacando a expansão da rentabilidade internacional e o aumento das exportações como motores de crescimento. A corretora também projeta uma margem de lucro (Ebitda) de 19% para o próximo ano, o que reforça as expectativas positivas em relação à evolução da Marcopolo no cenário internacional.

Por outro lado, o Itaú BBA tem uma abordagem mais cautelosa, estimando um múltiplo de preço/lucro (P/L) de 8x para 2025, com retorno de dividendos de 6%. O banco reconhece os avanços em automação nas fábricas e a diversificação da linha de produtos, incluindo os ônibus premium e os motorhomes, mas vê um impacto neutro no curto prazo.

Julia Peres

Redatora do Melhor Investimento.