Juíza veta compra de R$ 48 bilhões da dona da Michael Kors por fabricante das bolsas Coach
Após as informações serem divulgadas, as ações da Capri caíram até 56% nas negociações after market.

Uma juíza federal bloqueou a compra planejada de US$ 8,5 bilhões (R$ 48 bilhões) pela Tapestry, fabricante das bolsas Coach e Kate Spade, da rival Capri Holdings, dona da Michael Kors.
A juíza distrital dos EUA, Jennifer Rochon, suspendeu o acordo na última quinta-feira (24), após concluir que ele seria anticompetitivo. A decisão concede mais tempo para a Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC, na sigla em inglês) realizar seu julgamento interno sobre a fusão, um processo que pode durar meses e resultar na proibição da combinação.
Após as informações serem divulgadas, as ações da Capri caíram até 56% nas negociações after market.
“As partes envolvidas na fusão são concorrentes próximos, de modo que a fusão resultaria na perda de competição direta”, declarou a juíza em sua decisão. Ela constatou que a aquisição criaria uma empresa com 59% de participação no mercado de luxo acessível.
A decisão representa uma importante vitória para a FTC e sua presidente, Lina Khan, que tem buscado impedir fusões consideradas anticompetitivas em setores como tecnologia e supermercados, com resultados variados.
Vale destacar que o caso foi acompanhado de perto por fundos de hedge e outros investidores interessados em saber se a juíza permitiria a fusão.
Decisão beneficia consumidores
Em comunicado, Henry Liu, diretor do escritório de Competição da FTC se manifestou afirmando que “a decisão de hoje é uma vitória não apenas para a FTC, mas também para os consumidores em todo o país que buscam acesso a bolsas de qualidade a preços acessíveis”
“Essas bolsas são um produto essencial na vida diária de milhões de pessoas. A decisão garantirá que a Tapestry e a Capri continuem competindo diretamente, beneficiando o público americano”, acrescentou.
Representantes das duas empresas não responderam de imediato aos pedidos de comentário sobre a decisão.
Juíza explica decisão
Na opinião da juíza Rochon, “bolsas de luxo acessível funcionam de maneira semelhante às bolsas de mercado de massa e de luxo verdadeiro”, explicando que um consumidor “pode carregar uma carteira, um telefone ou um item pessoal tanto em uma bolsa da Trader Joe’s quanto em uma Hermès Birkin”.
Ela destacou que “produtos funcionalmente semelhantes podem pertencer a mercados distintos, dependendo do contexto”, exemplificando que, embora Chevrolets e Fords possam ser intercambiáveis, Chevrolets e Lamborghinis não são.
Em uma reflexão determinante para sua decisão, Rochon concluiu que as bolsas de luxo acessíveis constituem um “mercado antitruste relevante” separado das bolsas de mercado de massa e das bolsas de luxo verdadeiro.
“Pode ser verdade que, sem conhecer a marca, alguém pode não distinguir imediatamente se uma bolsa pertence ao mercado de massa, ao segmento acessível ou ao luxo verdadeiro,” escreveu ela. “Mas as evidências demonstraram claramente ao tribunal que a marca é um atributo essencial de uma bolsa”, concluiu.
Além das marcas Coach e Kate Spade, a Tapestry também é proprietária da Stuart Weitzman. A Capri Holdings, por sua vez, controla as marcas Michael Kors, Versace e Jimmy Choo. A FTC argumentou que a fusão — especialmente a combinação de Coach, Kate Spade e Michael Kors — prejudicaria a concorrência no mercado de bolsas de luxo acessível.
Mercado das marcas de luxo
A FTC descreveu o mercado relevante como ocupando o meio-termo entre bolsas mais baratas e marcas europeias de “luxo verdadeiro”, como Chanel, Louis Vuitton e Hermès, cujas bolsas costumam custar mais de US$ 1.000.
A juíza Jennifer Rochon, nomeada por Joe Biden e no cargo desde 2022, conduziu a audiência por mais de uma semana em setembro, no tribunal federal de Manhattan. Esse foi seu primeiro caso envolvendo a indústria da moda.
Durante a audiência, os advogados da FTC apresentaram documentos internos da Tapestry que mostravam que seus executivos estavam mais preocupados com a concorrência direta da Capri na mesma faixa de preço do que com outros fabricantes.
Ao longo do processo, as ações da Capri subiram de menos de US$ 35 para mais de US$ 42, aproximando-se da oferta de aquisição de US$ 57 por ação da Tapestry, o que indicava crescente otimismo dos investidores quanto à aprovação do acordo.
Diversos fundos de hedge, como Millennium Management, Hudson Bay Capital, Pentwater Capital, Citadel Advisors e Balyasny Asset Management, acumularam participações significativas na Capri até o final do segundo trimestre, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Neste contexto, muitos desses fundos enviaram representantes para acompanhar a audiência. O Greenlight Capital, de David Einhorn, também adquiriu ações da Capri, afirmando em sua carta aos investidores no segundo trimestre que acreditava que o desafio da FTC seria derrotado no tribunal.