O Itaú (ITUB4) divulgou na noite da última quarta-feira (5) seu balanço financeiro referente ao quarto trimestre de 2024, com resultados robustos, mas que não conseguiram surpreender positivamente o mercado. Apesar de lucros sólidos e um generoso pagamento de dividendos, as ações do banco registraram queda significativa nesta quinta-feira (6). A reação morna dos investidores gerou questionamentos sobre as expectativas do mercado e a estratégia de crescimento para 2025, em um cenário macroeconômico desafiador.

Lucro e distribuição de dividendos

O Itaú reportou um lucro líquido recorrente de R$ 10,88 bilhões no quarto trimestre de 2024, um crescimento de 15,8% em relação ao mesmo período de 2023. Esse desempenho foi em linha com as expectativas do mercado, mas não conseguiu gerar uma reação positiva nas ações do banco, que chegaram a registrar perdas de até 3,40% após a divulgação. Às 10h36 (horário de Brasília), os papéis do banco estavam cotados a R$ 33,58, uma queda de 1,55%.

Analistas apontam que o resultado, embora forte, não foi suficiente para surpreender os investidores, que já tinham altas expectativas em função dos bons resultados apresentados pelo Santander (SANB11) anteriormente. Além disso, o JPMorgan destacou que a compressão de 20 pontos-base na Margem de Juros Líquida (NIM) do banco no Brasil pode ter impactado negativamente a percepção do mercado. Essa queda no NIM pode ser explicada por fatores sazonais, como um aumento nas transações com cartão de crédito e cheque especial, além da base de comparação difícil devido à reversão de provisões da Americanas (AMER3) no 3T24.

Guidance conservador para 2025

Um dos pontos que chamou atenção no balanço do Itaú foi o guidance (projeção) mais conservador para 2025. O banco espera um crescimento de 4,5% a 8,5% na carteira de crédito total, uma desaceleração significativa em relação ao crescimento de 15,5% observado em 2024. Esse ritmo de expansão mais modesto reflete o cenário macroeconômico mais desafiador previsto para o ano, com perspectivas de menor crescimento econômico e uma elevação no custo de crédito, estimado entre R$ 34,5 bilhões e R$ 38,5 bilhões, acima dos R$ 34,5 bilhões em 2024.

Por outro lado, a XP Investimentos destaca que o guidance mais conservador pode refletir uma estratégia mais cautelosa por parte do banco, com foco em capturar spreads maiores e gerar uma expansão mais robusta da Receita Líquida de Juros (NII) com clientes. Essa postura prudente é vista de forma positiva por analistas, considerando a volatilidade do cenário macroeconômico.

Dividendos e recomposições de ações

O Itaú também anunciou um significativo pagamento de dividendos e recompras de ações. O banco distribuirá R$ 18 bilhões em dividendos e juros sobre o capital próprio, além de realizar um programa de recompra de até 200 milhões de ações. Essa distribuição corresponde a 69,4% do lucro recorrente de 2024, um aumento de 33,8% em relação ao ano anterior. Além disso, o banco aprovou um aumento de capital de R$ 33,3 bilhões, com a emissão de 980 milhões de novas ações atribuídas de forma gratuita aos acionistas.

Embora essa distribuição tenha sido significativa, ela ficou abaixo das expectativas de alguns analistas. O JPMorgan, por exemplo, esperava um valor de R$ 22,7 bilhões, enquanto a XP manteve suas projeções alinhadas ao que foi anunciado. Isso gerou uma reação mista no mercado, já que parte dos investidores esperava uma distribuição mais generosa.

Julia Peres

Redatora do Melhor Investimento.