A espera dos investidores pode estar próxima do fim. O IRB (IRBR3) vai pagar dividendos novamente, conforme sinalizou Frederico Knapp, vice-presidente financeiro (CFO) da companhia. A retomada está prevista a partir do balanço do quarto trimestre de 2025, com divulgação no início de 2026. A informação foi dada em entrevista exclusiva publicada na última quarta-feira (9) pelo portal E-Investidor.

A última vez que o IRB remunerou seus acionistas foi em 8 de setembro de 2021, com pagamento de R$ 0,03 por ação. Desde então, a empresa passou por um período turbulento, enfrentando prejuízos significativos e uma profunda reestruturação interna.

Empresa se prepara para voltar a distribuir lucros em 2026

Segundo Knapp, o IRB (IRBR3) só voltará a pagar dividendos quando o prejuízo acumulado for completamente zerado. Até o quarto trimestre de 2024, a companhia ainda apresentava perdas de R$ 15,9 milhões, mas espera reverter esse cenário até o fim de 2025. Um passo importante nesse processo foi o cancelamento de 420.125 ações ordinárias que estavam em tesouraria, medida que pode ampliar a margem para distribuir até R$ 283,8 milhões em lucros no futuro.

Além disso, para que a remuneração seja liberada, a empresa precisa atender a dois indicadores regulatórios exigidos pela Superintendência de Seguros Privados (Susep): o índice de solvência e o de liquidez. Também é necessário concluir o pagamento de debêntures em aberto.

“Precisamos entender os índices regulatórios da operação. Temos dois índices da Susep. Uma vez atendidos, mais as debêntures que temos que pagar, podemos começar a colocar alguma previsão de pagamento de dividendos do IRB para os acionistas”, explicou Knapp.

Ele também confirmou que a política de payout será mantida: a ideia é distribuir 25% do lucro líquido aos acionistas, conforme já mencionado pela companhia na última teleconferência de resultados.

Reestruturação após crise e fraude contábil

O IRB vem passando por uma transformação significativa em sua governança e estratégia de negócios, depois de enfrentar uma crise reputacional em 2020, motivada por fraudes contábeis que derrubaram a credibilidade do balanço financeiro.

Desde então, uma nova diretoria assumiu o comando da empresa, e os esforços se concentraram em tornar o portfólio mais sólido e rentável no médio e longo prazos. De acordo com o CFO, os riscos assumidos passaram a ser mais criteriosos e condizentes com o perfil da empresa.

“Limpamos bastante o nosso portfólio, trazendo riscos que fazem sentido e que estão adequadamente precificados. Isso vai começar a se traduzir em resultado estimado de forma mais efetiva”, reforçou Knapp.

Rentabilidade ainda abaixo da Selic, mas com tendência de recuperação

Apesar dos avanços na reestruturação, o desempenho financeiro do IRB ainda está aquém do desejável. No quarto trimestre de 2024, o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) foi de 10,2%, enquanto a taxa Selic estava em 12,25%, indicando que a rentabilidade da empresa segue abaixo do custo de capital.

Mesmo assim, o cenário é de expectativa positiva. A companhia tem buscado fortalecer seus fundamentos para melhorar seus índices e, com isso, gerar valor aos acionistas no longo prazo.

Guerra comercial entre EUA e China pode abrir oportunidades para o IRB

Knapp também foi questionado sobre possíveis impactos da guerra comercial entre Estados Unidos e China sobre o setor de seguros no Brasil. Segundo o executivo, ainda é cedo para medir efeitos diretos, mas destacou que o setor agrícola brasileiro pode ganhar espaço no comércio internacional, o que pode beneficiar empresas como o IRB, que têm interesse em ampliar sua atuação nesse segmento.

“O setor de seguros é parte importante para o nosso mercado, que poderia ter esse benefício da guerra comercial pensando no médio e longo prazo. Ainda estamos apurando como vai funcionar”, disse Knapp.

Por enquanto, a empresa não revisou suas estimativas para o fim de 2025 com base nesse cenário externo, mas está monitorando os desdobramentos.