Honda e Nissan deram um passo significativo para uma possível fusão, criando o que seria o terceiro maior grupo automotivo do mundo. Este movimento surge como resposta à crescente competição, especialmente de montadoras chinesas, e ao desafio de manter a competitividade global no setor automotivo, dominado pela eletrificação e pela inovação tecnológica. Se concretizada, a fusão resultará em uma gigante do setor, com vendas de veículos superiores a 30 trilhões de ienes (cerca de 191 bilhões de dólares), um marco de transformação para a indústria automobilística japonesa.

O que está em jogo na fusão entre Honda e Nissan?

O anúncio das conversações entre a Honda e a Nissan foi feito nesta segunda-feira, 23 de dezembro de 2024. A proposta de fusão pretende reunir as duas maiores montadoras japonesas, que atualmente ocupam a segunda e terceira posição no mercado automotivo do Japão. Caso as negociações sejam concluídas até 2025, o novo grupo resultante da fusão ocupará a posição de terceiro maior fabricante de veículos do mundo, atrás apenas da Toyota e da Volkswagen.

O que está em jogo não é apenas a fusão de duas grandes empresas, mas também uma chance de enfrentar os desafios impostos pela ascensão de fabricantes de veículos elétricos (EVs), como a Tesla, e das chinesas, como a BYD. Além disso, a Honda e a Nissan pretendem criar uma estrutura que possibilite economias de escala, com a troca de tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, além de recursos compartilhados entre as duas empresas.

Quando e como a fusão poderá acontecer?

A Honda e a Nissan visam concluir as negociações para a fusão até junho de 2025. Após isso, a previsão é que até agosto de 2026 seja estabelecida uma holding, com as ações das duas montadoras retiradas da bolsa de valores. A integração envolverá, além das duas empresas principais, a Mitsubishi Motors, que é acionista majoritária da Nissan. Se a Mitsubishi também se integrar ao novo grupo, as vendas globais combinadas podem alcançar mais de 8 milhões de veículos, ampliando ainda mais o poder de fogo da nova holding.

A estratégia de fusão, como explicado pelos CEOs das empresas, visa aumentar a competitividade frente aos novos concorrentes globais, principalmente as montadoras chinesas, que têm mostrado um crescimento impressionante em vários mercados. Além disso, a Honda, que atualmente possui uma capitalização de mercado superior a 40 bilhões de dólares, assumirá o controle da maioria dos membros do conselho da futura holding.

Por que Honda e Nissan estão se unindo agora?

A razão para esse movimento estratégico está nas mudanças profundas do mercado global, impulsionadas pela transição para a eletrificação dos veículos e pela crescente competição de montadoras ágeis e inovadoras, como a BYD e a Tesla. Ambas as montadoras japonesas, assim como outros fabricantes globais, estão enfrentando uma forte pressão para adaptar-se rapidamente às novas demandas do setor e, ao mesmo tempo, reduzir custos e melhorar a eficiência de suas operações.

A Nissan, por exemplo, anunciou recentemente planos de cortar 9.000 empregos e reduzir sua capacidade de produção global em 20% após um declínio acentuado nas vendas nos mercados da China e dos Estados Unidos. Da mesma forma, a Honda tem enfrentado desafios semelhantes, com uma queda nas vendas na China, o maior mercado automobilístico do mundo, o que dificultou o crescimento de suas receitas.

A fusão entre Honda e Nissan seria uma maneira de se reerguer frente a esses desafios, aumentando a escala de produção e investindo conjuntamente em novas tecnologias de eletrificação e automação, o que é essencial para competir com os gigantes da indústria de carros elétricos.

O impacto da fusão no mercado automotivo global

Com a fusão, Honda e Nissan poderão unir forças para se posicionar como um grupo mais robusto, capaz de competir em uma escala maior contra os rivais. Essa mudança transformaria o cenário da indústria automotiva global, onde a adaptação à eletrificação e à digitalização dos veículos tem sido crucial para garantir a relevância das marcas.

Além disso, a presença crescente das montadoras chinesas no mercado de veículos elétricos, com a BYD liderando essa transformação, tem sido um ponto de preocupação para as empresas tradicionais. A estratégia de fusão pode ser uma tentativa de recuperar o tempo perdido e garantir que as montadoras japonesas possam se manter competitivas até 2030, um ano-chave para a transição global para carros elétricos.

Reações e críticas ao processo de fusão

Embora a fusão entre Honda e Nissan tenha sido amplamente recebida como uma estratégia para fortalecer a competitividade no mercado global, nem todos estão otimistas com a ideia. O ex-presidente da Nissan, Carlos Ghosn, expressou ceticismo sobre a fusão, alegando que as duas empresas não são complementares e que, portanto, a aliança pode não trazer os benefícios esperados. Para Ghosn, a combinação das duas montadoras pode não ser suficiente para enfrentar os desafios globais, considerando as diferenças de estratégia e cultura corporativa entre elas.