Nesta quinta-feira (17), as ações preferenciais da Gol (GOLL54) sofreram uma forte queda de 35,42%, negociadas a R$ 6,09 na B3. O motivo principal foi o resultado frustrante do aumento de capital promovido pela companhia aérea, parte do seu plano de reestruturação financeira. A baixa adesão dos investidores minoritários e institucionais evidenciou a desconfiança do mercado em relação à recuperação da empresa e gerou uma concentração ainda maior do capital nas mãos do grupo controlador.

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Resultado do aumento de capital reforça desconfiança do mercado

O processo de aumento de capital da Gol (GOLL54), aprovado em junho como parte da recuperação judicial da empresa nos Estados Unidos, previa captar mais de R$ 12 bilhões. Contudo, o montante efetivamente levantado junto aos investidores foi de apenas R$ 73,2 milhões — valor simbólico se comparado ao esperado. Nenhuma ação ordinária foi subscrita por acionistas minoritários, enquanto apenas 0,76% das ações preferenciais foram adquiridas, demonstrando baixa confiança dos investidores.

A maior parte da subscrição ficou sob responsabilidade da Gol Investment Brasil, veículo ligado ao grupo controlador e aos credores da Gol. Com isso, esse grupo passou a deter 99,97% das ações ordinárias e 99,21% das preferenciais, concentrando ainda mais o controle acionário da companhia.

Aumento de capital e recuperação judicial: o contexto da operação

O aumento de capital da Gol faz parte do plano de reestruturação financeira que tramita sob o Chapter 11 da justiça americana, modalidade de recuperação judicial que permite a renegociação de dívidas e a reorganização das operações. A operação envolveu a emissão de mais de 9 bilhões de ações com preços simbólicos: R$ 0,00028 por ação ordinária e R$ 0,01 por preferencial.

Essa medida tem como objetivo fortalecer o caixa da companhia, mas a baixa adesão do mercado indica que os investidores seguem cautelosos diante das incertezas operacionais e financeiras que ainda rondam a Gol.

Análise do mercado financeiro sobre o resultado do aumento de capital

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, comentou que a forte reação negativa do mercado revela o baixo apetite por ativos de risco elevado neste momento. Segundo ele, a baixa participação no aumento de capital demonstra que o investidor prefere evitar exposição em empresas com elevado grau de incerteza, especialmente no setor aéreo, que ainda sofre com desafios pós-pandemia.

Além disso, Cruz destaca que o fato de o controlador ter assumido praticamente todo o aumento de capital reforça a percepção de dependência da Gol em recursos internos e acordos privados, em detrimento do apoio amplo do mercado financeiro. Isso levanta dúvidas sobre a governança da empresa e a liquidez futura das ações.