O setor de serviços brasileiro experimentou uma leve retração no primeiro trimestre de 2025, com uma queda de 0,2% em comparação ao trimestre anterior, marcando a primeira redução trimestral desde o início de 2023. Apesar de uma alta de 0,3% em março, o desempenho do setor levanta questões sobre a continuidade do crescimento econômico do país, especialmente considerando a desaceleração nos serviços prestados às famílias e transporte, que impulsionaram o mês de março.

O que aconteceu com o setor de serviços?

Em março de 2025, o IBGE divulgou um aumento de 0,3% no volume do setor de serviços, contudo, o desempenho no primeiro trimestre mostrou uma queda de 0,2% quando comparado ao último trimestre de 2024. Segundo análise da XP, esse é o primeiro recuo trimestral desde 2023 e pode indicar um começo de desaceleração na economia brasileira.

Os serviços prestados às famílias, incluindo alojamento e alimentação, e o transporte tiveram um desempenho positivo em março, impulsionados por fatores sazonais como o Carnaval. No entanto, o desempenho do primeiro trimestre como um todo não conseguiu compensar as perdas observadas em janeiro, o que é um indicativo de que o ritmo de recuperação da economia brasileira está diminuindo.

Impacto no PIB

Embora o setor de serviços tenha mostrado esse retrocesso, os analistas afirmam que o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre não será significativo. O crescimento do agronegócio, que continua desempenhando um papel crucial na economia, deve ser o principal responsável por sustentar o PIB do período. A expectativa é que o agronegócio seja o principal motor de crescimento da economia no primeiro trimestre, como destacado pelo economista Leonardo Costa, do ASA.

O PIB do primeiro trimestre de 2025 deve apresentar um ritmo forte, com projeções de crescimento de 0,5% para o trimestre. Isso, no entanto, não impede que o setor de serviços tenha mostrado uma desaceleração, o que sinaliza uma possível redução no crescimento econômico ao longo do ano.

Mudanças no padrão de consumo das famílias

Um dos aspectos mais interessantes dessa desaceleração no setor de serviços é a mudança nos padrões de consumo das famílias. Algumas categorias de serviços, como informação e comunicação, apresentaram retração em março (-0,2%), o que pode ser reflexo de uma redução na demanda devido à rigidez de preços do setor. Além disso, os serviços profissionais administrativos e complementares mostraram um desempenho mais fraco, com uma queda de 0,5% nos serviços de apoio às atividades empresariais.

Essas mudanças podem ser indicativas de uma migração no padrão de consumo, com as famílias priorizando serviços mais essenciais e técnicos, em detrimento de serviços mais diversificados ou de maior custo. Essa migração pode ter um impacto significativo na dinâmica econômica, pois ela altera a demanda por determinados tipos de produtos e serviços.

Projeções para o setor de serviços em 2025

Apesar da desaceleração observada, economistas como Claudia Moreno, do C6 Bank, projetam um crescimento de 2% para o setor de serviços em 2025. Ela acredita que esse crescimento será impulsionado por políticas de estímulo do governo, incluindo aumento de gastos públicos, liberação do FGTS e incentivo à concessão de crédito. No entanto, a expectativa é que o crescimento seja mais modesto no segundo semestre, à medida que a economia enfrenta desafios, como a inflação persistente e taxas de juros elevadas.

Igor Cadilhac, economista do PicPay, também revisou suas projeções para o setor de serviços, aumentando a previsão de crescimento de 1,2% para 1,6%. Ele acredita que o primeiro semestre de 2025 será mais forte do que o inicialmente esperado, mas alerta que, no segundo semestre, o cenário econômico pode começar a desacelerar devido à combinação de inflação alta, juros elevados e um ambiente financeiro desafiador.

A política de juros e os desafios da economia brasileira

A análise do setor de serviços não trouxe elementos que possam alterar a atual política de juros do Brasil, que permanece em níveis elevados. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) indicou que a trajetória da taxa Selic deve continuar sendo monitorada, mas sem mudanças imediatas. O economista Matheus Pizzani, da CM Capital, aponta que o cenário atual de demanda aquecida em alguns segmentos de serviços, especialmente aqueles mais sensíveis ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deixa pouca margem para surpresas positivas no curto prazo.

Com a inflação ainda sendo um problema persistente e as taxas de juros elevadas, a expectativa é que a atividade econômica continue estagnada no segundo semestre de 2025. No entanto, o mercado de trabalho formal e o aumento da massa de rendimentos devem sustentar a demanda interna a curto prazo, o que pode ajudar a equilibrar a desaceleração de alguns setores.