Após quase um ano de espera, investidores e analistas finalmente obtiveram uma visão detalhada das finanças da Americanas (AMER3) durante uma teleconferência que se estendeu por quase duas horas. Durante a exposição, o CEO da empresa, Leonardo Coelho, elucidou os bastidores que encontrou ao assumir a gestão da varejista.

Coelho revelou que a Americanas foi vítima de um processo de fraude “complexo” e “engenhoso”, orquestrado por “feudos” internos na organização, referindo-se a grupos de executivos dentro da estrutura hierárquica da empresa.

A fraude, conforme explicado pelo CEO, estava concentrada principalmente na conta de fornecedores, utilizando VCPs (verba de propaganda cooperada e instrumentos similares) fabricadas para inflar artificialmente os resultados da companhia. Além disso, foram identificadas irregularidades em operações de risco sacado, capital de giro, opex indevido, e até mesmo no frete de fornecedores.

O montante total da fraude, ao final de 2022, foi estimado em R$ 22,5 bilhões pela nova administração. Coelho destacou que a empresa está considerando como e quando buscará ressarcimentos pelos prejuízos causados pela fraude.

Apesar de possuir uma estrutura de governança certificada por importantes certificadoras, inclusive internacionais, a Americanas foi alvo de manipulação dolosa dos controles internos pela alta direção, que resultou na situação atual.

A nova gestão está focada em três frentes: recuperação judicial, investigação da fraude e transformação da empresa. Leonardo Coelho ressaltou a importância das lojas físicas, com aproximadamente 1.600 espalhadas pelo Brasil, como uma alavanca crucial para a recuperação. Ele enfatizou a necessidade de ajustes financeiros e renovação das lojas para reconquistar a confiança dos consumidores.

Na operação digital, Coelho mencionou uma queda nas visitas ao site, mas observou uma recuperação gradual. A estratégia para o meio digital inclui atuar em categorias que não são abordadas nas lojas físicas, como linha branca e eletrodomésticos. A Americanas pretende posicionar a operação digital como um “hub de vendas” e reconhece um ambiente mais competitivo no varejo online.

O CEO concluiu destacando que as medidas implementadas visam aprimorar a rentabilidade no universo digital, garantindo que a empresa não possui interesse ou capital para investir em vendas com margens não atrativas. A meta é alcançar um crescimento de Ebitda em um dígito alto anualmente a partir de 2025.