Nesta segunda-feira (14), a BRF (BRFS3) viu suas ações caírem 4,55% na bolsa, após o fundo de previdência Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, anunciar a saída completa de sua participação na empresa. A decisão marca o fim de uma parceria que já durava mais de três décadas e acontece em meio às negociações aceleradas da fusão entre BRF e Marfrig (MRFG3). O movimento traz um novo capítulo para a produtora de alimentos, gerando preocupação entre investidores minoritários e analistas sobre os riscos e o futuro da companhia.

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O fundo Previ, que investia na BRF desde a década de 1990 — inicialmente por meio das antigas Sadia e Perdigão —, decidiu zerar sua posição no ativo. A fatia vendida representava quase 5% do capital da empresa, um volume significativo que demonstra a importância histórica da BRF para o fundo. Em nota, a Previ afirmou que a saída ocorre diante do atual cenário macroeconômico internacional e da grande incerteza gerada pela proposta de fusão com a Marfrig.

A decisão surpreendeu o mercado e causou impacto imediato na cotação das ações da BRF (BRFS3), que fecharam o dia cotadas a R$ 21, com uma queda de 4,55%. Para investidores minoritários, o movimento é visto como um sinal de alerta, já que a saída de um acionista tão expressivo pode enfraquecer a pressão para que a fusão seja aprovada em termos mais justos.

Fusão entre BRF e Marfrig gera controvérsias e dúvidas sobre política de dividendos

A fusão entre BRF e Marfrig está em fase decisiva, mas ainda divide opiniões dentro do mercado. A proposta atual prevê a troca de 0,8521 ação da Marfrig para cada ação da BRF, o que para alguns acionistas críticos, como a Previ e a Fontana Capital, favorece excessivamente os controladores da empresa combinada.

Um laudo técnico anexado ao processo sugere que a proporção justa deveria estar entre 1,29 e 1,78 ações da Marfrig por cada ação da BRF, indicando uma possível subvalorização das ações da BRF no acordo. A falta de consenso cria um ambiente de incerteza sobre a governança da nova companhia e o equilíbrio entre interesses dos controladores e dos acionistas minoritários.

Outro ponto crítico levantado pela Previ é a política de dividendos. A BRF ficou quase uma década sem distribuir dividendos, período em que enfrentou dificuldades financeiras e alto endividamento. Só recentemente, em 2024, a empresa retomou o pagamento de proventos, com a distribuição de R$ 1,1 bilhão em juros sobre capital próprio após um lucro recorde de R$ 3,7 bilhões.

Com a fusão, analistas questionam se a nova empresa terá fôlego financeiro para manter uma política consistente de remuneração, ou se as prioridades serão a captura de sinergias e a redução da dívida, o que poderia postergar o pagamento de dividendos regulares.

Controladores ampliam participação e facilitam aprovação da fusão

Com a venda da participação da Previ, o controlador da Marfrig, Marcos Molina, aumentou sua fatia na BRF para 58,9%, consolidando o domínio sobre a empresa e, na visão de analistas da Ativa Investimentos, facilitando a aprovação da fusão. Sem a pressão de um acionista relevante como a Previ, a negociação deve avançar com uma relação de troca menos favorável para os minoritários.

Esse movimento gera preocupação entre investidores que esperavam uma governança mais equilibrada e maior proteção aos acionistas sem controle, sobretudo diante do elevado endividamento da empresa combinada e das incertezas sobre a estratégia futura.

Desempenho recente da BRF (BRFS3) e perspectivas para 2025

Apesar das dúvidas geradas pela fusão, a BRF apresentou resultados financeiros positivos recentemente. Em 2024, a companhia registrou o melhor desempenho de sua história, com lucro líquido de R$ 3,7 bilhões, e retomou o pagamento de proventos aos acionistas.

No primeiro trimestre de 2025, a BRF reportou um lucro líquido de R$ 1,2 bilhão, o dobro do mesmo período do ano anterior, o que mostra que a empresa ainda mantém capacidade de gerar valor. No entanto, a nova estrutura societária e o desafio de integrar operações com a Marfrig trazem dúvidas sobre a continuidade desse ritmo e o impacto para os acionistas.