As ações da Stellantis, fabricante dos carros Jeep, Fiat e Peugeot, sofreram uma queda de até 8,9% nesta segunda-feira (2), refletindo a saída inesperada de seu CEO, Carlos Tavares. O movimento, que ocorre em meio a um ano de perdas acumuladas de 46% nas ações, gerou uma onda de incerteza no mercado. Com a decisão, John Elkann, presidente do conselho, assumirá a liderança interina até que um novo CEO seja nomeado, o que coloca a montadora em um momento de transição crítica.

A saída de Carlos Tavares e o impacto nas ações da Stellantis

Carlos Tavares, CEO da Stellantis desde sua fundação em 2021, após a fusão entre o PSA Group (Peugeot e Citroën) e a Fiat Chrysler, foi afastado de forma abrupta devido a divergências com o conselho da empresa e alguns acionistas. As ações da companhia despencaram com a notícia de sua saída, refletindo a apreensão do mercado sobre a continuidade da gestão da empresa. Em Milão, as ações chegaram a cair até 8,9%, marcando uma queda significativa, que agora acumula 46% de desvalorização no ano.

O anúncio de que Elkann assumirá a posição interina gerou preocupações sobre a estabilidade da montadora, em um momento onde ela já enfrenta diversos desafios no mercado automotivo global.

Desafios que impactam a Stellantis e o mercado automotivo

A Stellantis não enfrenta apenas o desafio da transição de liderança. A indústria automobilística como um todo está lidando com uma desaceleração econômica na China, um dos maiores mercados consumidores de automóveis do mundo. Além disso, a demanda por veículos elétricos na Europa apresentou uma queda acentuada, somada à forte concorrência de fabricantes chineses que vêm ganhando participação de mercado.

Na América do Norte, a Stellantis também vê uma redução nas vendas, o que eleva as preocupações sobre o desempenho da empresa em um dos seus maiores mercados de lucro. O excesso de capacidade na Europa, aliado à dificuldade em recuperar a participação de mercado e a queda nos lucros, são outros fatores que contribuem para o clima de incerteza.

Esses desafios tornaram-se ainda mais evidentes após a empresa reduzir suas previsões de lucro e fluxo de caixa em setembro de 2024, o que gerou uma série de mudanças na gestão, incluindo a substituição de executivos-chave. No entanto, apesar dessas mudanças, a participação de mercado da Stellantis continuou a cair em mercados estratégicos como a França, o que deixou os investidores cada vez mais cautelosos quanto ao futuro da empresa.

Por que Carlos Tavares deixou o cargo

Carlos Tavares, de 66 anos, foi amplamente reconhecido por sua capacidade de reverter situações de empresas em dificuldades, como foi o caso com a Stellantis. Durante sua gestão, a montadora implementou medidas de redução de custos, como a diminuição das plataformas de veículos e cortes de empregos, o que, em muitos casos, ajudou a estabilizar as finanças da companhia.

No entanto, sua postura rigorosa gerou fricções internas, especialmente com sindicatos, concessionárias e alguns acionistas. Recentemente, surgiram tensões com os trabalhadores devido a questões relacionadas à qualidade dos veículos e atrasos no lançamento de novos modelos, além de críticas de concessionárias nos Estados Unidos, que acusaram Tavares de prejudicar marcas importantes da Stellantis, como Jeep, Dodge e Ram.

Essas tensões, somadas a divergências com o conselho sobre a direção da empresa, resultaram na decisão de afastá-lo antes do previsto, o que coloca ainda mais pressão sobre a Stellantis em um momento de mudanças e desafios econômicos globais.