J.D. Vance, nome frequentemente associado ao conservadorismo americano, é uma figura que vem ganhando destaque no cenário político dos Estados Unidos, especialmente com sua ascensão ao cargo de vice-presidente na chapa de Donald Trump

Autor do best-seller Hillbilly Elegy, ele passou de autor e comentarista a um personagem influente na política. Mas quem é realmente J.D. Vance? 

Este artigo explora a trajetória do novo vice-presidente norte-americano, desde suas origens humildes no interior de Ohio até sua recente entrada em um dos cargos políticos de maior escalão nos EUA. 

Criação e formação acadêmica de J.D. Vance

James David Vance, ou apenas J.D. Vance, nasceu em Middletown, Ohio, em 1984. De origem humilde, Vance conta que teve uma juventude difícil. Abandonado pelo pai, cresceu ao lado de sua irmã em uma das regiões pobres do país, criado por uma mãe dependente de drogas e pelos avós maternos.

Originalmente, o futuro vice-presidente eleito se chamava “James Donald Bowman”. Em virtude do abandono do pai, ele adotou o sobrenome “Vance” provindo da família materna. Após concluir o High School – equivalente ao ensino médio brasileiro – Vance serviu por quatro anos na Marinha dos Estados Unidos, onde participou da Guerra do Iraque.   

Em seguida, iniciou seus estudos superiores. Formou-se em Ciências Políticas e Filosofia pela Universidade Estadual de Ohio e, posteriormente, obteve o título de Juris Doctor pela Faculdade de Direito da Universidade de Yale, uma das renomadas do país. 

Atualmente com 40 anos, J.D. Vance é pai de três filhos, fruto de seu casamento com Usha Chilukuri Vance, uma advogada de 38 anos e filha de imigrantes indianos.

Carreira de Vance, antes da política 

Autor best-seller  

Vance é autor de “Hillbilly Elegy” – “Era uma vez um sonho”, no Brasil. No livro publicado em 2016, ele narra suas próprias dificuldades e também examina os desafios enfrentados pelas comunidades do Meio-Oeste e do Apalache – região em que cresceu.

A obra rapidamente entrou na lista dos mais vendidos, garantindo a Vance notoriedade nacional. Mais tarde, foi adaptada para o cinema, filme que, inclusive, rendeu uma indicação ao Oscar.

Além de consolidá-lo como autor de best-sellers, o livro também fez de Vance uma figura constante na mídia, sendo frequentemente convidado a comentar criticamente sobre as atitudes de Donald Trump — uma relação controversa que será abordada com mais detalhes adiante.

Empresário

Além de advogado, autor e ex-fuzileiro, Vance assume a posição de empresário. Após concluir seus estudos em Yale, J.D. Vance iniciou sua carreira empresarial no Vale do Silício, onde trabalhou para a Mithril Capital, uma empresa de capital de risco co-fundada por Peter Thiel, também responsável pelo negócio de pagamentos PayPal. 

Em 2017, com o apoio de Peter Thiel, Vance fundou sua própria agência de capital de risco, mas longe do tradicional polo tecnológico da Califórnia. Ao retornar a Ohio, seu objetivo era investir em startups fora do Vale do Silício, buscando fomentar o crescimento econômico em regiões do Meio-Oeste, que ele sentia estarem sendo negligenciadas.

Vida política de Vance 

J.D. Vance ingressou na política em 2022, aproveitando o prestígio que conquistou junto à direita conservadora dos Estados Unidos após o sucesso de seu livro. No mesmo ano, venceu as primárias republicanas e se tornou candidato ao Senado por Ohio. Com 53% dos votos, Vance saiu vitorioso e foi eleito senador.

Ao assumir o cargo, Vance direcionou sua atenção para uma série de questões cruciais para as bases que o elegeram. Ele se concentrou em políticas industriais que visavam revitalizar a economia de regiões históricas do Meio-Oeste, abordou de forma contundente a questão do controle de imigração, buscando defender os interesses dos trabalhadores locais.

No Senado, Vance também se destacou por sua postura firme contra o envio de ajuda financeira à Ucrânia, argumentando que os recursos deveriam ser direcionados, sobretudo, para o combate à imigração ilegal. 

Em geral, sua posição refletiu seu compromisso com a agenda conservadora e a defesa dos interesses internos dos Estados Unidos, ao invés de priorizar investimentos no exterior.

Trump para Vance: de crítico contundente a aliado de chapa

J.D. Vance quando foi escolhido para ser vice de Donald Trump
Foto: Divulgação

Em um passado não tão distante, não é exagero dizer que J.D. Vance era completamente avesso à figura de Donald Trump. Em diferentes declarações, Vance chegou a afirmar que “nunca gostou” de Trump. 

Casado com uma indiana-americana, Vance foi um crítico ferrenho dos comentários racistas de Donald Trump. Em suas redes sociais e aparições na televisão, ele frequentemente lançava insultos e críticas contundentes contra o republicano, chamando-o de “desastre moral”, “idiota” e “nocivo”.

Em uma conversa com seu amigo da época de faculdade, Josh McLaurin, Vance chegou a sugerir que Trump poderia ser, no mínimo, um “babaca cínico como Nixon” ou, na pior das hipóteses, o “Hitler da América”.

No entanto, como é amplamente conhecido, Vance mudou de opinião de forma abrupta, chegando a pedir desculpas por tê-lo chamado de “repreensível” no passado. Durante sua campanha pelo Senado, Trump se tornou um dos seus maiores apoiadores.

Em julho deste ano, durante a Convenção do Partido Republicano em Milwaukee, Wisconsin, Vance foi oficialmente anunciado como vice na chapa de Trump. Sobre a decisão, Trump declarou: 

“Após longa deliberação e reflexão, e considerando os enormes talentos de muitos outros, decidi que a pessoa mais adequada para assumir o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos é o senador J.D. Vance.”

Ideologia “MAGA” (Tornar a América Grande Outra Vez)

Em meio à mudança de discurso em relação a Trump, J.D. Vance se tornou um dos principais adeptos e defensores da ideologia “MAGA”, sigla para a famigerada frase “Make America Great Again” – “Tornar a América Grande Outra Vez”, em tradução livre. 

A frase ficou famosa por ter sido o slogan de Donald Trump nas eleições presidenciais de 2016. O lema se tornou um grito de guerra para muitos apoiadores de Trump, refletindo a crença de que os Estados Unidos já foram um grande país, mas perderam esse status devido a influências estrangeiras e políticas internas desfavoráveis. 

Em suma, os adeptos do movimento político “MAGA” defendem políticas alinhadas a noção de “América em primeiro lugar” (“America First”), que incluem protecionismo econômico, redução drástica da imigração – especialmente de países em desenvolvimento -, e a promoção de “valores tradicionais” estadunidenses. 

Envolvimento de J.D. Vance em polêmica nas eleições

Alinhado com a agenda anti-imigração e protecionista de Trump, J.D. Vance se envolveu em uma das maiores polêmicas das eleições deste ano ao propagar uma fake news de teor xenofóbico. 

Em setembro, ele compartilhou em uma rede social uma mensagem afirmando que imigrantes ilegais estariam roubando e consumindo animais de estimação dos moradores de Springfield, Ohio. Na publicação, Vance fez referência a Kamala Harris, adversária de Trump, questionando: “Onde está a nossa czar – título utilizado para referir-se aos imperadores russos, no passado – da fronteira?” 

Durante o debate entre Trump e Harris, ele foi desmentido ao vivo por um dos mediadores, e as autoridades confirmaram que não havia qualquer registro de tal ocorrência.

Best-seller “Hillbilly elegy” que virou um filme

Em seu livro campeão de vendas, Vance narra com crueza e sinceridade a realidade das comunidades empobrecidas do Meio-Oeste e dos Apalaches, regiões onde cresceu e conhece de perto. 

Pouco tempo após o lançamento em 2016, a obra se tornou um best-seller, oferecendo uma visão íntima e pessoal da vida no Cinturão da Ferrugem, marcado pela decadência industrial e por profundas dificuldades econômicas.

Em 2020, a obra foi adaptada para o cinema e dirigida por Ron Howard. O filme, intitulado Era Uma Vez Um Sonho no Brasil, trouxe ainda mais visibilidade à história de Vance, apresentando ao grande público um retrato visual das provações e da resiliência de sua família.

A adaptação também chamou a atenção de premiações, rendendo uma indicação ao Oscar. Além disso, após o lançamento do filme, o livro voltou a se destacar, alcançando a posição de mais vendido no catálogo da Amazon.

O “Era Uma Vez Um Sonho” na vida real de J.D. Vance

Considerado uma autobiografia, o livro traz relatos pessoais de J.D. Vance sobre os desafios que enfrentou em meio à pobreza, dependência química e instabilidade familiar. É compreensível que a história seja intitulada “Era Uma Vez Um Sonho”. 

Afinal, a trajetória de Vance para romper o ciclo de dificuldades resultou em conquistas acadêmicas, pessoais e profissionais — feitos raros para alguém de sua origem no contexto sociocultural contemporâneo, sobretudo, se considerarmos o cargo para o qual foi eleito este ano.

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Lucas Machado

Redator do Melhor Investimento e psicólogo de formação, com mais de dois anos de experiência em redação de artigos relacionados aos mais variados assuntos e campos do saber.