Queda de governo na Bulgária amplia incertezas às vésperas da entrada na zona do euro
A Bulgária entrou em um novo período de instabilidade política após a renúncia do primeiro-ministro Rosen Zhelyazkov, pressionado por protestos contra corrupção e aumento de impostos.
Foto: REUTERS - Stoyan Nenov / RFI
A queda de governo na Bulgária mergulhou o país em mais um período de instabilidade política justamente no momento em que se preparava para um passo decisivo: a adoção do euro. A renúncia do primeiro-ministro Rosen Zhelyazkov, anunciada na última quinta-feira, ocorreu após semanas de protestos contra corrupção estatal e contra um projeto de orçamento que previa aumento de impostos, reacendendo o risco de novas eleições e levantando dúvidas sobre a capacidade do país de conduzir a transição monetária.
Membro da União Europeia e da Otan, a Bulgária enfrenta um cenário recorrente de fragilidade institucional. A crise atual se soma a um histórico recente de governos curtos, parlamentos fragmentados e sucessivas eleições, em um contexto de forte polarização política e social.
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A renúncia de Zhelyazkov encerrou uma coalizão de três partidos que governava desde janeiro e que já vinha perdendo apoio popular. A decisão foi tomada após manifestações em larga escala, que pressionaram o Executivo a recuar de medidas fiscais impopulares e denunciaram práticas de corrupção no Estado.
A crise política ocorre em Sófia, capital do país, mas seus efeitos se espalham por toda a Bulgária, que pode enfrentar mais um ciclo eleitoral caso os partidos não consigam formar uma nova maioria no Parlamento.
Impacto direto sobre a entrada na zona do euro
Um dos pontos centrais da crise é o calendário para a adoção da moeda única europeia. O governo que caiu era responsável por coordenar a entrada da Bulgária na zona do euro, prevista para 1º de janeiro.
Analistas alertam que a queda de governo na Bulgária pode comprometer a supervisão do processo de conversão monetária, especialmente no controle de preços e na fiscalização de práticas abusivas por parte do comércio. Sem um governo estável e sem um orçamento aprovado, aumentam os riscos de inflação e de perda de confiança da população.
Histórico de instabilidade política no país
A atual crise não é um episódio isolado. Nos últimos quatro anos, a Bulgária realizou sete eleições nacionais, reflexo da dificuldade crônica de formar governos duradouros. O Parlamento é composto por cerca de nove partidos, muitos deles pequenos, o que torna as coalizões frágeis e instáveis.
Esse cenário tem dificultado reformas estruturais e alimentado a insatisfação popular com a classe política, frequentemente associada a escândalos de corrupção.
Protestos contra corrupção e aumento de impostos
As manifestações tiveram início no fim de novembro, quando o governo apresentou um projeto de orçamento prevendo aumento das contribuições para a seguridade social e dos impostos sobre dividendos. O objetivo era financiar maiores gastos públicos, incluindo recursos para a polícia, os serviços de segurança e o Judiciário.
Essas instituições, no entanto, são vistas por parte da população como símbolos de um sistema marcado por abusos e falta de transparência. Embora o projeto tenha sido posteriormente retirado, os protestos continuaram e ganharam força.
Acusações de repressão política ampliam desgaste
Além das questões fiscais, o governo enfrentava críticas por suposta repressão à oposição liberal e pró-União Europeia. Um dos casos mais emblemáticos foi a prisão do prefeito da cidade costeira de Varna, Blagomir Kotsev, acusado de corrupção — acusações que ele nega.
Para muitos manifestantes, o episódio reforçou a percepção de uso político das instituições do Estado, aprofundando a crise de confiança no governo.
Mobilização popular histórica
Na quarta-feira, dezenas de milhares de pessoas foram às ruas em cidades e vilarejos da Bulgária, em protestos considerados entre os maiores desde o fim do regime comunista, em 1989. A diversidade do público chamou a atenção de analistas: profissionais urbanos, jovens, aposentados e grupos com visões políticas distintas participaram das manifestações.
Segundo especialistas, essa amplitude social deu peso político à mobilização e acelerou a queda de governo na Bulgária.
População dividida sobre o euro e política externa
Os protestos também revelaram divisões profundas na sociedade. Parte dos manifestantes apoia a adoção do euro e uma maior integração com a Europa Ocidental. Outros, porém, temem que a mudança de moeda provoque aumento da inflação ou rejeitam a postura pró-Ocidente do país, especialmente em relação à guerra na Ucrânia.
Dificuldade para formar novo governo
Com a renúncia formalizada, cabe agora ao presidente Rumen Radev conceder ao partido GERB, o maior do Parlamento, o mandato para tentar formar um novo governo. A tarefa, no entanto, é considerada difícil diante da fragmentação legislativa.
Caso o GERB fracasse ou recuse o mandato, outros partidos terão a oportunidade de formar um gabinete. Se todas as tentativas falharem, o presidente poderá nomear um governo interino e convocar eleições antecipadas.
Riscos econômicos e institucionais
Especialistas alertam que a ausência de um governo estável e de um orçamento aprovado eleva os riscos para a economia. Sem coordenação estatal, há preocupação com choques no sistema, perda de credibilidade e dificuldades adicionais no processo de adoção do euro.
A crise reforça a percepção de que a queda de governo na Bulgária não é apenas um evento político, mas um fator com potencial impacto econômico e institucional de longo prazo.
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