As declarações de Donald Trump voltaram a provocar turbulência na economia argentina. Ao afirmar que “se ele [Milei] ganhar, continuaremos com ele; se não ganhar, estamos fora”, o ex-presidente dos Estados Unidos lançou dúvidas sobre a continuidade do apoio financeiro de Washington ao governo de Javier Milei.

O comentário, feito na terça-feira (14), repercutiu imediatamente nos mercados. O peso argentino caiu quase 1%, chegando a 1.360 por dólar, e os títulos da dívida soberana com vencimento em 2035 recuaram 2,4 centavos, sendo negociados a cerca de US$ 0,57 por dólar, a maior queda desde setembro.

Mercado cambial da Argentina sob pressão

A instabilidade também foi ampliada pela ausência de intervenção dos governos dos EUA e da Argentina no mercado de câmbio pelo segundo dia consecutivo.
A taxa de recompra de pesos com garantia overnight, conhecida como caución, saltou de 77,5% para 115%, levando as taxas de juros de curto prazo de volta aos três dígitos.

Desde abril, o país mantém o peso dentro de uma faixa cambial controlada como parte do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), mas as intervenções têm sido cada vez mais esporádicas.

Na semana passada, o Tesouro dos EUA chegou a comprar pesos diretamente, mas ainda não há clareza sobre o montante desembolsado nem sobre os termos da linha de ajuda de US$ 20 bilhões.

Argentina caminha para câmbio flutuante

O economista Federico Sturzenegger, responsável pela desregulamentação do governo Milei, afirmou durante o Bloomberg Global Regulatory Forum que a Argentina “em breve terá um câmbio flutuante”.

“As faixas estão se abrindo rapidamente. Teremos uma taxa de câmbio flutuante muito em breve”, disse Sturzenegger.

Mais tarde, ele esclareceu que a transição será gradual, com ampliação progressiva das bandas cambiais. Analistas avaliam que a medida é inevitável, já que o peso se mantém artificialmente valorizado e depende fortemente do suporte americano.

Eleições e o dilema político de Milei

As falas de Trump chegam em um momento delicado, a menos de duas semanas das eleições legislativas argentinas, marcadas para 26 de outubro. O resultado será determinante para o futuro das reformas econômicas de Milei e sua capacidade de aprovar medidas de austeridade.

Embora o ex-presidente dos EUA tenha negado qualquer motivação política por trás da ajuda financeira, também destacou que o swap cambial de US$ 20 bilhões representa um apoio à filosofia econômica libertária do governo argentino.

Especialistas alertam que condicionar o apoio americano a Milei pode ter efeito oposto.

“Isso pode representar um golpe político à campanha dos libertários”, afirmou Ramiro Blazquez, estrategista da StoneX, em Buenos Aires.

Perspectivas para a economia argentina

Para os investidores, o cenário segue altamente volátil. Um desempenho do partido de Milei acima de 35% nas urnas seria visto como positivo, mas um resultado inferior a 30% pode desencadear uma nova onda de vendas e acelerar a desvalorização do peso argentino.

Enquanto isso, o ministro da Economia, Luis Caputo, tenta transmitir confiança. Ele reafirmou nesta quarta-feira (15) que os Estados Unidos seguirão apoiando o peso, independentemente do resultado eleitoral, e que a linha de swap continua ativa.

Com informações de O Globo

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Pedro Gomes

Jornalista formado pela UniCarioca, com experiência em esportes, mercado imobiliário e edtechs. Desde 2023, integra a equipe do Melhor Investimento.