Bancos brasileiros e Lei Magnitsky: Tesouro dos EUA questiona ações das instituições
Bancos brasileiros receberam recentemente uma notificação do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos (OFAC) sobre o cumprimento da Lei Magnitsky, de acordo com fontes próximas ao assunto. O questionamento, enviado no início de setembro, ocorre pouco mais de um mês após o governo norte-americano impor sanções financeiras ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre […]
Foto: Joa Souza / shutterstock.com
Bancos brasileiros receberam recentemente uma notificação do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos (OFAC) sobre o cumprimento da Lei Magnitsky, de acordo com fontes próximas ao assunto. O questionamento, enviado no início de setembro, ocorre pouco mais de um mês após o governo norte-americano impor sanções financeiras ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, e levanta dúvidas sobre os impactos para instituições financeiras brasileiras com operações internacionais.
A notificação, que inclui bancos como Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Santander e BTG Pactual, solicita informações sobre medidas já adotadas ou em andamento para atender à legislação americana. Fontes afirmam que o comunicado tem caráter genérico e segue um modelo padrão do OFAC, citando a Lei Magnitsky como base para o questionamento.
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Contexto das sanções e aplicação da Lei Magnitsky
A Lei Magnitsky foi aplicada contra Alexandre de Moraes no final de julho pelo governo dos EUA, que o acusou de autorizar prisões arbitrárias e de restringir a liberdade de expressão. Moraes é relator do processo que investiga o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros réus por suposta tentativa de golpe de Estado após a eleição presidencial de 2022.
As sanções resultantes da aplicação da lei incluem o congelamento de ativos nos Estados Unidos e a proibição de que empresas norte-americanas realizem negócios com o ministro. Isso gerou incertezas sobre as potenciais repercussões para bancos brasileiros que mantêm operações ou relações comerciais internacionais, especialmente nos EUA.
O tema ganhou ainda mais relevância após a decisão do ministro Flávio Dino, também do STF, de que leis e sanções estrangeiras não têm aplicação direta no Brasil. Na prática, qualquer ação dos bancos brasileiros relacionada ao cumprimento das regras do OFAC precisaria de aprovação do Supremo Tribunal Federal, criando um dilema jurídico complexo para as instituições financeiras.
Impactos para os bancos brasileiros e o mercado
A notificação do OFAC aos bancos brasileiros gerou preocupação no mercado financeiro. Uma fonte do setor destacou que descumprir as regras do OFAC poderia comprometer o relacionamento internacional dos bancos, enquanto seguir a orientação americana sem respaldo do STF poderia gerar conflito jurídico dentro do país.
Essa incerteza teve efeito imediato no mercado: no pregão seguinte à decisão de Dino, os bancos registraram perdas significativas na B3, a bolsa paulista, com o Banco do Brasil liderando a queda, que chegou a 6%. Essa volatilidade reforça a necessidade de um equilíbrio cuidadoso entre o cumprimento de legislações estrangeiras e a observância de normas nacionais.
Além disso, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) afirmou não ter recebido diretamente qualquer comunicado do OFAC e destacou que essas notificações têm caráter confidencial. Os bancos consultados não comentaram oficialmente a situação, e alguns, como Santander e Bradesco, não responderam de imediato.
Conexão com o julgamento de Bolsonaro
A notificação do Tesouro dos EUA coincidiu com o início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus na Primeira Turma do STF, pelo suposto golpe de Estado de 2022. Durante o processo, Moraes afirmou que o tribunal atuará de forma imparcial, sem ceder a pressões externas de governos estrangeiros.
Além das sanções financeiras, o governo norte-americano revogou o visto de entrada de Moraes no país. O ex-presidente Donald Trump também aplicou tarifas comerciais de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos EUA, citando o processo contra Bolsonaro como justificativa e classificando o caso como uma “caça às bruxas”.
Esses eventos demonstram como questões jurídicas internacionais podem afetar diretamente o setor financeiro brasileiro, reforçando a importância do acompanhamento das decisões do OFAC e das ações do STF para os bancos com operações internacionais.
Perspectivas para os bancos brasileiros
O episódio evidencia o desafio das instituições financeiras em lidar com legislação internacional e decisões jurídicas nacionais conflitantes. Bancos brasileiros devem monitorar atentamente qualquer comunicação do OFAC, ao mesmo tempo em que avaliam possíveis impactos legais e financeiros internos.
Para investidores e analistas, essa situação aumenta a atenção sobre o setor bancário, principalmente em termos de governança corporativa e compliance internacional. A combinação de sanções estrangeiras, decisões do STF e repercussões no mercado pode afetar estratégias de negócios, relações comerciais internacionais e, em última análise, a valorização das ações dos bancos na B3.
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