A IBM deu um passo ousado e estratégico em direção ao futuro da tecnologia, anunciando na última terça-feira, 10 de junho de 2025, seu ambicioso plano de ter um computador quântico prático e funcional até 2029. Esta é uma meta audaciosa que promete revolucionar diversas indústrias, desde a saúde e finanças até a engenharia de materiais, ao possibilitar a solução de problemas complexos que, hoje, são intransponíveis para as máquinas mais poderosas do mundo.

O anúncio, feito pela gigante da tecnologia, não se limitou a uma projeção; a IBM detalhou um roteiro minucioso que a empresa seguirá para transformar essa visão em realidade, com o objetivo de construir sistemas ainda maiores até 2033. Este movimento posiciona a IBM na vanguarda da corrida pela computação quântica, prometendo superar desafios fundamentais que atualmente limitam o potencial dessas máquinas extraordinárias.

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A correção de erros nos Qubits

Os computadores quânticos operam sob os princípios da mecânica quântica, permitindo-lhes processar informações de maneiras radicalmente diferentes dos computadores clássicos. Enquanto as máquinas tradicionais dependem de bits que representam 0 ou 1, os qubits, a unidade fundamental da computação quântica, podem ser 0, 1 ou ambos simultaneamente (superposição), além de estarem interligados por um fenômeno chamado emaranhamento. Essa capacidade única permite que resolvam cálculos que levariam milênios em supercomputadores convencionais.

No entanto, a grande barreira para a adoção generalizada da computação quântica tem sido a alta taxa de erros dos qubits. A natureza extremamente sensível dessas unidades de informação faz com que sejam facilmente perturbadas por ruídos externos, o que leva à necessidade de dedicar uma parcela significativa da capacidade computacional para a correção de erros. Isso, por sua vez, acaba limitando o desempenho real dos computadores quânticos atuais, fazendo com que muitas vezes não superem os computadores clássicos em velocidade.

“Starling” e a revolução do algoritmo de correção da IBM

Para contornar essa limitação crítica, a IBM revelou um componente-chave de seu roteiro: a construção do computador quântico “Starling”. Este sistema de última geração está previsto para ser instalado em um novo data center em Poughkeepsie, no estado de Nova York. A expectativa é que o “Starling” opere com aproximadamente 200 qubits lógicos, uma quantidade que a IBM considera suficiente para começar a demonstrar uma vantagem quântica significativa em relação aos computadores clássicos em certas tarefas.

A inovação mais impactante, entretanto, reside na mudança estratégica da IBM em sua abordagem à correção de erros. Desde 2019, a empresa abandonou a metodologia tradicional de desenvolver teorias de correção de erros e depois tentar construir chips que as incorporassem. Em vez disso, a equipe quântica da IBM inverteu o processo: primeiro, analisaram quais chips são práticos de construir com a tecnologia atual e, a partir dessa base, desenvolveram um novo algoritmo de correção de erros.

Jay Gambetta, vice-presidente responsável pela iniciativa quântica da IBM, destacou em entrevista que essa abordagem pragmática permitiu um avanço sem precedentes. O novo algoritmo promete reduzir drasticamente o número de qubits necessários para a correção de erros, um feito que pode acelerar exponencialmente o desenvolvimento de sistemas quânticos práticos. Essa confiança recém-adquirida é a base para a série de sistemas que a IBM planeja lançar entre este ano e 2027, pavimentando o caminho para máquinas ainda mais poderosas no futuro próximo.

A corrida global pela liderança quântica

A IBM não está sozinha nessa jornada transformadora. Outras gigantes da tecnologia, como Microsoft, Alphabet (Google) e Amazon, estão investindo pesadamente em computação quântica, ao lado de inúmeras startups que já levantaram centenas de milhões de dólares em capital de risco. Todas essas entidades enfrentam o mesmo desafio fundamental: como gerenciar a instabilidade dos qubits para que possam realizar um trabalho útil sem que os erros se tornem incontroláveis.

O objetivo comum é desenvolver sistemas onde um número suficiente de qubits possa ser dedicado ao cálculo efetivo, enquanto outros atuam na correção de erros, garantindo a confiabilidade dos resultados. A capacidade de equilibrar esses fatores será crucial para determinar os líderes no mercado emergente da computação quântica. O roteiro da IBM para 2029 e além demonstra um compromisso claro com essa liderança, prometendo moldar a próxima era da tecnologia e transformar fundamentalmente a capacidade de resolver os problemas mais intrincados da humanidade.