O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil anunciou nesta quarta-feira (11), uma nova elevação da taxa Selic, que passou de 11,25% para 12,25% ao ano. Este é o terceiro aumento consecutivo da taxa de juros em 2024, refletindo a crescente preocupação do Banco Central com a inflação e as expectativas econômicas desancoradas. A decisão foi unânime entre os membros do Copom e é uma resposta ao cenário fiscal incerto, ao aumento da dívida pública e à pressão sobre o câmbio, que contribuem para a aceleração da inflação.

O que motivou o aumento da Selic?

A principal justificativa para o aumento da Selic é o ajuste nas expectativas de inflação, que se distanciaram da meta estabelecida pelo Banco Central. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação anual atingiu 4,87% em novembro, o maior nível desde outubro de 2023. Além disso, o Boletim Focus, divulgado nesta semana, mostrou que as projeções do mercado para o IPCA de 2024 subiram para 4,84%, ultrapassando o limite superior da meta de 4,5%. A decisão de elevar a taxa de juros reflete a tentativa do Banco Central de conter esse aumento e garantir a estabilidade econômica no país.

Esse movimento ocorre em um contexto de incertezas fiscais, em que a alta da dívida pública e o pacote de medidas econômicas proposto pelo governo têm gerado cautela no mercado. A desvalorização do real também tem sido um fator relevante, com o dólar atingindo a marca histórica de 6,08 reais, o que exerce pressão sobre o câmbio e, consequentemente, sobre os preços.

Como a economia brasileira está enfrentando o cenário atual?

Apesar do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que registrou uma alta de 3,3% de janeiro a setembro de 2024, o cenário fiscal do país continua desafiador. A dívida pública alcançou a marca de 9 trilhões de reais, ou 78,6% do PIB, um aumento significativo em comparação com os meses anteriores. O mercado financeiro segue atento à tramitação do pacote de corte de gastos apresentado pelo governo, que promete uma economia de 70 bilhões de reais em dois anos, mas que ainda não convenceu os investidores.

Com a perspectiva de um crescimento econômico moderado, a alta do dólar e o risco fiscal contínuo, o Banco Central se vê diante de uma tarefa complexa: equilibrar o crescimento econômico e conter a inflação. A decisão de elevar a taxa Selic reflete a tentativa de o Banco Central preservar o poder de compra da população e estabilizar a economia, mesmo diante desses desafios.

O impacto do câmbio e a projeção de inflação

A desvalorização do real é um dos principais fatores que têm pressionado as expectativas inflacionárias. Com o dólar em ascensão, o Brasil enfrenta uma pressão adicional sobre os preços, especialmente no que se refere a bens e serviços importados. O aumento do dólar tem implicações diretas nos custos de produção e no preço dos alimentos, combustíveis e outros produtos essenciais.

O crescimento da inflação, somado ao risco de desancoragem das expectativas, levou o Banco Central a adotar uma política monetária mais agressiva, com o objetivo de garantir que a inflação não ultrapasse os limites da meta estabelecida para 2024 e 2025. A alta da Selic é uma tentativa de fortalecer o controle sobre a economia e reduzir a pressão inflacionária, com o Banco Central reiterando sua preocupação com o comportamento das expectativas de inflação.

O que vem pela frente?

Com o cenário atual, as expectativas para o futuro permanecem voláteis. A taxa Selic de 12,25% ao ano reflete um esforço do Banco Central para ajustar as expectativas econômicas e garantir a estabilidade no curto prazo. No entanto, o mercado financeiro continua monitorando de perto o cenário fiscal, com a evolução do pacote de cortes de gastos e o risco de um eventual enfraquecimento das medidas no Congresso Nacional.

Além disso, a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, marcada para o dia 20 de janeiro, pode impactar ainda mais o câmbio, com a tendência de valorização do dólar possivelmente se intensificando. Isso pode aumentar ainda mais a pressão sobre a inflação e levar o Banco Central a considerar novas elevações na taxa Selic, caso o cenário de instabilidade persista.

Decisão unânime do Copom

A decisão de aumentar a Selic para 12,25% foi unânime entre os membros do Copom, que incluem o presidente Roberto de Oliveira Campos Neto e os diretores Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira. Esse consenso reflete a gravidade da situação e a necessidade de medidas mais assertivas para evitar que a inflação continue fora de controle e prejudique ainda mais a recuperação econômica do país.