A assembleia geral de acionistas da JBS (JBSS3) aprovou nesta sexta-feira (23) o plano de dupla listagem das ações da empresa, que passará a ser negociada também na Bolsa de Nova York (NYSE). Após a confirmação da aprovação, as ações da companhia subiram 2,71%, cotadas a R$ 43,41, refletindo a reação positiva do mercado. A nova estrutura acionária e a expansão para o mercado americano marcam um importante passo estratégico da JBS, com impactos diretos no controle societário e na governança corporativa.

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JBS dupla listagem: nova estrutura e maior controle da família Batista

A proposta de dupla listagem da JBS envolve a criação de uma holding sediada na Holanda, denominada JBS N.V., que será listada na NYSE com uma estrutura de ações de duas classes, com direitos de voto diferenciados. Atualmente, os acionistas controladores da empresa, a família Batista, detêm cerca de 48,34% das ações com poder de voto único. Com a nova configuração, esse controle poderá subir para até 85%, ampliando significativamente o domínio da família sobre as decisões estratégicas da companhia.

A transformação prevê a incorporação da totalidade das ações da JBS S.A. pela JBS Participações, seguida da emissão de ações preferenciais obrigatoriamente resgatáveis. Cada duas ações da JBS S.A. serão convertidas em uma ação preferencial, que será automaticamente transformada em um BDR (Brazilian Depositary Receipt) lastreado em uma ação Class A da JBS N.V., negociada nos Estados Unidos.

Benefícios estratégicos da dupla listagem para a JBS e seus acionistas

Segundo a JBS, a dupla listagem foi pensada para fortalecer a governança corporativa da empresa, ampliar a base de investidores e reduzir o custo de capital. Para analistas de mercado, a listagem nos EUA alinha a avaliação da companhia à de seus pares internacionais, permitindo que a JBS acesse uma gama mais ampla de investidores institucionais e fundos globais.

Além disso, a presença em uma das maiores bolsas do mundo, a NYSE, pode aumentar a visibilidade e a liquidez dos papéis da JBS, beneficiando tanto acionistas controladores quanto minoritários. A expectativa é que a companhia consiga captar recursos a custos mais competitivos, potencializando sua capacidade de investimento e expansão.

Controvérsias e preocupações com a estrutura da dupla listagem

Apesar dos benefícios apontados, a proposta enfrentou resistência, principalmente por parte de acionistas minoritários e grupos externos. Uma contagem preliminar dos votos indicou uma leve maioria contrária entre os minoritários, que temem que a nova estrutura reduza seu poder de influência sobre a empresa.

Empresas de consultoria destacaram que a implementação da estrutura de ações de classe dupla tende a concentrar ainda mais o poder decisório na família controladora, o que pode limitar a participação dos minoritários nos processos de governança. Além disso, políticos e ambientalistas levantaram preocupações relativas a questões de corrupção, concentração de mercado e impactos ambientais ligados às operações da JBS.

No início de 2024, um grupo bipartidário de senadores norte-americanos enviou uma carta à Securities and Exchange Commission (SEC), órgão regulador do mercado americano, expressando oposição à listagem da empresa, citando riscos ambientais e preocupações relacionadas à integridade corporativa.

Histórico das tentativas da JBS para listar ações nos EUA e o papel do BNDES

A família Batista busca listar a JBS na bolsa americana há mais de uma década, enfrentando diversos obstáculos, incluindo o escândalo da Operação Lava Jato, que atingiu a reputação da empresa e seus controladores.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que foi por muitos anos um dos principais acionistas da JBS fora da família, se posicionou contra o plano no passado. No entanto, após reduzir sua participação na companhia, o BNDES optou por se abster da votação na assembleia de sexta-feira, o que contribuiu para a aprovação da proposta.