O empresário Daniel Vorcaro, preso nesta semana pela Polícia Federal, passou a ser alvo de suspeitas mais profundas após vir à tona que negócios associados a ele receberam aportes bilionários de um fundo ligado ao PCC. As movimentações ocorreram por meio de estruturas complexas de fundos em cascata, que dificultam a identificação dos verdadeiros aportadores. A partir de informações de CVM, Juntas Comerciais e cartórios, os recursos abasteceram desde títulos do Banco Master até empresas ligadas ao banqueiro, incluindo a proprietária de sua residência de luxo em Brasília. A nova descoberta reforça a hipótese central da Operação Compliance Zero: o Master teria inflado artificialmente seu patrimônio em meio a uma crise de liquidez.

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A estrutura que sustenta os aportes passa pelo fundo Hans 95, administrado pela gestora Reag — alvo da Operação Carbono Oculto, que investiga lavagem de dinheiro do PCC no sistema financeiro. Embora não haja indicação direta de que os aportes tinham conhecimento explícito do destino final, a Receita Federal identificou transferências de milhões vindas de pessoas ligadas ao grupo criminoso, reforçando o alerta das autoridades.

O modelo utilizado opera por meio de fundos fechados que controlam outros fundos, criando uma cadeia de investimentos que oculta os beneficiários finais. Esse mecanismo é semelhante ao analisado pela Carbono Oculto, que investiga como o PCC esconde recursos dentro do mercado financeiro por meio de estruturas em cascata.

Conexão entre Vorcaro, Banco Master e o Hans 95

A investigação jornalística mostra que o Hans 95 e outros fundos controlados por ele aportaram valores significativos em ativos do Banco Master. Os documentos analisados revelam:

  • R$ 124 milhões investidos diretamente pelo Hans 95 em CDBs do banco.
  • R$ 622 milhões aplicados pelo fundo Astralo 95, controlado pelo Hans 95, em títulos do Master.
  • R$ 103 milhões aportados pelo fundo Murren 41, também pertencente à mesma estrutura.

No total, pelo menos R$ 849 milhões provenientes da cadeia controlada pelo fundo ligado ao PCC chegaram ao Master desde o ano passado. Esses recursos ajudaram a compor o patrimônio do banco em um período em que ele enfrentava forte pressão de liquidez.

A Operação Compliance Zero aponta que o Master teria recorrido a práticas irregulares para compor seu balanço. Segundo decisão judicial, o banco disponibilizava ao mercado títulos de crédito considerados insubsistentes, emitidos por empresas de fachada vinculadas ao próprio grupo econômico. Essas operações teriam sido usadas para mascarar a fragilidade financeira da instituição em meio à necessidade de honrar CDBs vendidos a investidores.

A atuação do fundo ligado ao PCC nesse processo, ainda que de forma indireta, reforça as suspeitas sobre a legitimidade dos ativos utilizados para inflar os números do banco.

R$ 1,65 bilhão na empresa dona da casa de Vorcaro

A empresa Super Empreendimentos e Participações, dona da residência de 1.699 m² em Brasília onde Vorcaro vivia, foi outro destino de recursos rastreados ao Hans 95. Quatro degraus abaixo na cadeia de fundos, o Termopilas — cujos dados indicam que mais de 90% pertenciam ao Hans 95 — alocou R$ 1,65 bilhão na empresa.

A casa, comprada em junho de 2024 por R$ 36,1 milhões, foi utilizada para encontros políticos e estratégicos. Embora a empresa seja uma sociedade anônima fechada, documentos confirmam que Fabiano Zettel, cunhado de Vorcaro, atuou como diretor durante o período da aquisição.

Investimento bilionário em outra empresa ligada ao banqueiro

Outra empresa que recebeu recursos da cadeia de fundos foi a Akka Empreendimentos. O Murren 41, que também investiu em CDBs do Master, tinha R$ 1 bilhão em ações da Akka — montante incompatível com o capital social declarado da companhia, de apenas R$ 31 milhões. Assim como a Super, a Akka não tem atividades conhecidas e opera sob sigilo acionário.

O fundo Astralo 95 também esteve envolvido na aquisição, por Vorcaro, de parte do clube Atlético Mineiro. Em março de 2025, o fundo mantinha R$ 300 milhões investidos no Galo Forte FIP, veículo usado pelo banqueiro para adquirir 25% da Galo Holding, controladora do time.

Indícios diretos de recursos do PCC no Hans 95

O elo com o crime organizado não fica restrito à estrutura financeira. Relatórios da Receita Federal mostram:

  • Transferência de R$ 17 milhões da esposa de Mohamad Hussein Mourad ao Hans 95.
  • Recebimento de R$ 45 milhões do BK Bank, alvo também de investigação.
  • Participação indireta em fundos Gold Style e Mabruk II, que transacionavam recursos de pessoas próximas a Mourad e emitiram debêntures supostamente inexistentes.

Esses elementos reforçam a suspeita de que o Hans 95 funcionava como um fundo ligado ao PCC, com ramificações capazes de irrigar diferentes negócios de Vorcaro.

Vorcaro e o Banco Master não responderam aos questionamentos. A defesa do banqueiro afirma que ele permanece à disposição das autoridades. A gestora Reag também não se manifestou.

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