A crescente polarização política tem sido um fator crucial na pressão para expansão fiscal global, dificultando a formulação de políticas monetárias equilibradas. Esta foi a principal mensagem de Ivo Chermont, economista chefe da Quantitas, durante sua palestra na Expert XP. Chermont destacou como essa tendência tem afetado governos em todo o mundo, ameaçando ciclos políticos historicamente estáveis e resultando em um apetite por maiores gastos públicos.

Na palestra da Expert XP, Ivo Chermont analisou como a polarização política está moldando a atual dinâmica econômica global. A polarização tem levado os governos a adotar políticas fiscais mais expansivas, o que complica o gerenciamento da política monetária. Chermont apontou que, enquanto anteriormente os ciclos políticos tinham uma durabilidade de cerca de oito anos, atualmente há uma instabilidade crescente. “Os ciclos políticos que conhecíamos estão sendo ameaçados por um cenário político mais polarizado,” afirmou Chermont, evidenciando como essa mudança global está alterando as abordagens tradicionais à política econômica.

Chermont também dirigiu sua atenção para as eleições municipais no Brasil, destacando que o pleito deste ano poderia ter um impacto significativo nas políticas fiscais do país. Segundo ele, caso o governo federal perca influência nas prefeituras, isso poderia precipitar um aumento nos gastos antes do previsto. “Se o governo perder muito espaço nas prefeituras, isso pode levar a uma antecipação dos gastos que normalmente seriam realizados apenas em 2026, ano das eleições presidenciais. Poderemos ver uma aceleração das políticas fiscais,” explicou Chermont. Esta antecipação de gastos poderia, segundo ele, resultar em um aumento acelerado da pressão fiscal sobre o governo.

Durante sua apresentação, Chermont observou que a expansão significativa dos gastos durante a pandemia não foi uma ocorrência isolada para o Brasil. Ele observou que a tendência de aumento dos gastos fiscais foi global, abrangendo economias avançadas como os Estados Unidos e a Europa. Embora a expansão fiscal tenha sido necessária durante a crise sanitária para apoiar empresas e famílias, Chermont acredita que problemas fiscais subjacentes já existiam antes da pandemia. Ele destacou que a crise trouxe à tona questões estruturais preexistentes na política fiscal.

Outro ponto importante abordado por Chermont foram as mudanças demográficas, particularmente o envelhecimento da população, que está aumentando a pressão fiscal sobre os governos. Com uma população envelhecendo e a proporção de aposentados em relação aos trabalhadores aumentando, há uma demanda crescente por gastos em saúde e previdência. Chermont destacou que esses fatores estão impondo um peso adicional sobre as finanças públicas e exigindo um planejamento fiscal mais robusto.

Por fim, Chermont discutiu como o ambiente político polarizado está tornando mais difícil a defesa de políticas centristas. Ele observou que em contextos polarizados, como o dos Estados Unidos, onde a reeleição de líderes centristas é rara, as políticas de centro enfrentam desafios significativos. “A polarização extrema dificulta a sustentação de políticas equilibradas,” ressaltou Chermont, utilizando o exemplo de Donald Trump para ilustrar como a polarização pode impactar a estabilidade política e econômica.

Chermont concluiu sua palestra destacando a necessidade de os formuladores de políticas estarem atentos a essas dinâmicas complexas e procurarem soluções que possam equilibrar a necessidade de expansão fiscal com a necessidade de manter a estabilidade econômica a longo prazo.

Julia Peres

Redatora do Melhor Investimento.