China almeja liderança global em IA até 2030
A China anunciou um plano estratégico para se tornar líder global em inteligência artificial até 2030. O país está apostando em pesquisa, inovação, e parcerias com universidades e empresas privadas para alcançar esse objetivo.

A China lançou um ambicioso plano para se tornar líder mundial em inteligência artificial (IA) até 2030. Esse projeto, que começou com a publicação do “Plano de Desenvolvimento de Inteligência Artificial de Próxima Geração” em 2017, visa transformar o país em uma potência tecnológica, não só em termos de inovação, mas também de influência global. Esse avanço é observado com atenção por especialistas em todo o mundo, especialmente no Brasil, que busca adaptar estratégias similares para fortalecer seu setor tecnológico.
O caminho da China para a liderança em IA
Em 2017, o governo chinês anunciou oficialmente sua meta de dominar o campo da IA até 2030, com um plano que abrange vários aspectos essenciais para o avanço da tecnologia. O plano não se limita apenas à pesquisa científica, mas também inclui a formação de profissionais qualificados, a criação de uma infraestrutura robusta, o desenvolvimento de regulamentos adequados e, claro, significativos investimentos financeiros.
Até 2025, a China espera alcançar “avanços significativos” na IA, posicionando-se de maneira estratégica dentro da cadeia de valor global. Esse movimento é parte de uma visão de longo prazo, com o país se preparando para liderar em áreas como computação cognitiva, aprendizado profundo e automação. Para isso, a China aposta fortemente na criação de um ecossistema favorável à inovação, que envolve não apenas o governo, mas também empresas privadas e universidades.
DeepSeek: O desafio chinês à supremacia dos EUA
Entre as iniciativas mais notáveis dessa estratégia está o surgimento de empresas como a DeepSeek. A startup chinesa tem se destacado por desenvolver modelos de IA com custos muito mais baixos do que as grandes empresas dos Estados Unidos, como OpenAI, Amazon e Google. A proposta da DeepSeek de criar soluções de IA mais acessíveis desafia o monopólio das gigantes americanas, sinalizando uma nova era de competitividade global no setor.
A DeepSeek, como muitas outras startups chinesas, se beneficia de um ambiente favorável de pesquisa e desenvolvimento. No caso da empresa, seu fundador, que antes atuava na Baidu, contratou diversos cientistas de universidades chinesas, consolidando a colaboração entre academia e setor privado. Esse modelo de integração tem sido um dos principais fatores para o sucesso das iniciativas de IA na China.
Soberania digital: lições cruciais para o Brasil
O exemplo chinês oferece várias lições valiosas para o Brasil, que ainda está em processo de construção de uma estratégia robusta de IA. Luca Belli, especialista em soberania digital, destaca que a China possui um modelo bem estruturado de regulação, infraestrutura digital e capacitação de profissionais. A aposta chinesa na soberania digital, que busca controlar dados, conectividade e ferramentas de inovação, é uma referência para o Brasil, que carece de um planejamento mais claro e eficiente nessa área.
Embora o Brasil já tenha dado passos importantes, como a criação do Marco Civil da Internet e a implementação do sistema de pagamentos instantâneos, o país ainda não tem um plano nacional consistente para IA. O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), por exemplo, embora uma boa iniciativa, não é suficiente para atender às necessidades do mercado e para reduzir a dependência de soluções estrangeiras. A falta de metas claras e de uma integração eficaz entre setor público e privado ainda são desafios significativos.
Open Source e modelos menores
Outro ponto relevante na estratégia chinesa que poderia ser adotado pelo Brasil é a utilização de modelos de IA menores e open source. A DeepSeek, por exemplo, segue uma abordagem de código aberto, permitindo que suas tecnologias sejam mais acessíveis para outros países e empresas. Esse modelo, além de reduzir os custos, promove um ecossistema de inovação mais amplo e colaborativo.
Para o Brasil, a adoção de uma estratégia similar poderia acelerar o desenvolvimento de IA local. Utilizar modelos menores, focados em áreas específicas da economia, e permitir maior acesso ao código-fonte das tecnologias, pode ajudar o país a criar soluções próprias e mais adaptadas à realidade nacional.
O contexto brasileiro
O Brasil possui grande potencial para se destacar no campo da inteligência artificial, especialmente por conta de sua experiência em tecnologia, como demonstrado pela criação do Pix e pelo sucesso do Marco Civil da Internet. No entanto, ainda há muitos obstáculos a serem superados. Além da falta de uma estratégia nacional mais abrangente, o Brasil enfrenta um déficit significativo na formação de profissionais qualificados nas áreas de IA, big data e aprendizado de máquina.
O investimento no setor de IA, por exemplo, precisa ser mais robusto. O PBIA, que prevê R$ 23 bilhões em investimentos nos próximos quatro anos, ainda não é suficiente para criar uma infraestrutura digital que suporte de maneira eficaz o crescimento da IA. Além disso, a falta de metas claras e a falta de uma visão sistêmica do setor dificultam a consolidação de um setor competitivo.