BRF arrecada R$ 5,4 bilhões em oferta de ações e reduz alavancagem
A BRF (BRFS3) arrecadou R$ 5,4 bilhões em uma oferta subsequente de ações, que foi a maior realizada no país até agora neste ano. A empresa, que é proprietária das marcas Sadia e Perdigão, anunciou que a demanda pela oferta foi 20% maior do que o previsto. Foram emitidas 600 milhões de ações a um […]

A BRF (BRFS3) arrecadou R$ 5,4 bilhões em uma oferta subsequente de ações, que foi a maior realizada no país até agora neste ano. A empresa, que é proprietária das marcas Sadia e Perdigão, anunciou que a demanda pela oferta foi 20% maior do que o previsto. Foram emitidas 600 milhões de ações a um preço de R$ 9 por ação, o que representa uma redução de 5,7% em relação ao valor de fechamento (R$ 9,54) das negociações na B3.
Esses recursos trazem um alívio para a estrutura de capital da BRF, que tem sido uma preocupação recorrente no mercado. Com a oferta subsequente, a empresa estima uma redução de 1,3 vez na sua alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda). No final do primeiro trimestre deste ano, esse índice estava em 3,35 vezes.
Miguel Gularte, CEO da BRF, comentou: “A oferta subsequente demonstrou a confiança do mercado e atraiu um investidor estratégico para o negócio”, segundo o InfoMoney.
Devido à demanda adicional na operação, a acionista majoritária Marfrig (MRFG3) manteve uma participação de 33,3% na BRF, o que ficou abaixo das expectativas do mercado, que esperava que a empresa fundada e controlada por Marcos Molina aumentasse sua participação para mais de um terço do capital.
O fundo soberano da Arábia Saudita para a segurança alimentar, Salic, adquiriu um pouco mais de 10% de participação. No total, Marfrig e Salic investiram R$ 3,42 bilhões na operação. A Previ, outra acionista relevante, também participou da oferta.
O ‘day after’ da BRF
Mais uma vez, o follow-on demonstrou a confiança do mercado, especialmente do chairman Marcos Molina, no processo de recuperação da empresa controladora da Sadia. Essa foi a segunda oferta subsequente da BRF desde que Molina começou a investir na empresa no meio de 2021.
O CEO anterior da Marfrig, Gularte, que assumiu a BRF no final de agosto do ano passado, enfatizou que a empresa está agora pacificada e pronta para colher os resultados de sua estratégia operacional. No plano da BRF, a diretoria tem dado prioridade à gestão de estoques e à eficiência na execução comercial.
Desde o final do terceiro trimestre de 2022, a BRF tem adotado uma abordagem de “voltar ao básico” para melhorar suas margens. No primeiro trimestre deste ano, a empresa aumentou sua receita em 9,4%, alcançando R$ 13,2 bilhões. No entanto, registrou um prejuízo líquido de R$ 1,02 bilhão e uma dívida líquida de R$ 15,3 bilhões.
O CFO da BRF, Fábio Mariano, ressaltou que a empresa está reduzindo sua alavancagem e diminuindo suas despesas financeiras com juros a partir de agora. Outra vantagem operacional é a gradual recuperação das margens de lucro devido à queda nos preços de grãos, especialmente soja e milho.
A perspectiva de redução da taxa Selic a partir de agosto fortalece as expectativas positivas. “Isso estimula o consumo de nossos produtos”, lembrou Mariano.
Salic
No final de maio, foi anunciado que a acionista de referência Marfrig e o fundo soberano da Arábia Saudita para alimentação, Salic, participaram da oferta. O investimento estrangeiro do Salic é de grande importância para a BRF, pois o mercado saudita é crucial para as vendas de carne de frango da empresa, uma das principais exportadoras desse tipo de proteína no mundo.
No entanto, a entrada do Salic nesse negócio não pode ser considerada simples, uma vez que o fundo é um sócio relevante da Minerva Foods (BEEF3), concorrente direta da Marfrig no mercado de carne bovina.
Miguel Gularte argumentou que toda a comunicação feita pelo Salic em relação à sua participação foi muito clara. Os sauditas não buscaram obter assento no conselho da BRF e indicaram que terão uma postura passiva no negócio.
De acordo com um analista que acompanha a BRF, o fundo Salic busca garantir a segurança alimentar e estava buscando um investimento no setor de carne de frango, uma proteína cujo fornecimento o país deseja assegurar. Ele afirmou que a BRF possui uma marca forte na Arábia Saudita e uma operação estabelecida lá, o que pode ter justificado o valuation para que o Salic entrasse no negócio, uma vez que a lógica deles é estratégica e de longo prazo.
Em relação a um possível conflito com a Minerva, o analista acredita que é possível conviver harmoniosamente. Ele destacou que a parceria entre Minerva e Salic é sólida e tem tido um bom desempenho nos últimos anos, inclusive com uma joint venture na Austrália. Até o momento, ele não presenciou nenhum caso em que o Salic tenha se retirado de algum ativo.