Ao longo de 25 anos de história, o Mercado Livre se tornou a principal plataforma de e-commerce e fintech da América Latina. Com sede na Argentina, a empresa expandiu rapidamente para diversos países da região, revolucionando o comércio eletrônico e os serviços financeiros digitais. 

Atualmente, são mais de 60 milhões de ofertas, e uma variedade imensa de produtos e serviços, magnitude que consolida a posição da empresa como o maior marketplace latino-americano e a mais valiosa da América Latina. 

Este artigo detalha a trajetória da empresa, seus principais marcos e estratégias de crescimento, além de mensurar seu impacto no mercado de investimentos

Quem criou o Mercado Livre

O Mercado Livre veio da mente de Marcos Galperin, um estudante de economia argentino. Durante seu MBA na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, Galperin teve a ideia de criar uma plataforma de leilões online para conectar compradores e vendedores na América Latina. Com o apoio de seu professor Jack McDonald, ele conseguiu atrair investidores para transformar sua ideia em realidade.

Galperin nasceu em Buenos Aires, Argentina, em 1971, em uma família bem-sucedida que possuía uma das maiores empresas produtoras de couro do mundo. Antes de Stanford, ele estudou na Wharton School da Universidade da Pensilvânia, onde fez importantes contatos que o ajudaram em sua carreira. 

De todo modo, foi durante seu período na prestigiada faculdade da Califórnia que Galperin se juntou a um grupo de empreendedores, incluindo o brasileiro Stelleo Tolda, com um objetivo claro: criar uma plataforma online onde qualquer pessoa pudesse anunciar e comprar produtos.

Em agosto de 1999, Galperin fundou o Mercado Livre na cidade de Buenos Aires, capital da Argentina. A expansão para o Brasil foi imediata, com Tolda assumindo as operações apenas dois meses depois.  

Primeiros desafios e conquistas iniciais

Em seu primeiro ano de funcionamento, o site do Mercado Livre atraiu aproximadamente 46 milhões de dólares em investimentos de diversas empresas que acreditaram na visão de seu fundador. Já em 1999, com apenas alguns meses de operação, o site obteve cerca de 8 milhões de dólares em investimentos, uma quantia significativa, especialmente considerando que se tratava de uma novidade no mercado.

O investimento inicial contou com a participação de nomes de peso como John Muse, fundador da HM Capital Partners, além de gigantes financeiros como Goldman Sachs, Banco Santander e JP Morgan.

A trajetória inicial de crescimento do Mercado Livre, cruzou-se com a do eBay em 2001. Em busca de uma fatia do promissor mercado brasileiro, o eBay adquiriu uma participação significativa no Mercado Livre (19,5%), em troca da subsidiária brasileira do IBazar, então controlada pela gigante do e-commerce norte-americana. Essa parceria estratégica, que perdurou por cinco anos, revelou-se benéfica para ambas as empresas.

Em 2002, a empresa ampliou sua oferta ao introduzir a opção de compra direta, complementando os tradicionais leilões. Dois anos mais tarde, a experiência de compra no site ficou mais completa, mediante o surgimento do Mercado Pago, uma solução de pagamento segura e eficiente que revolucionou as transações na plataforma.

Momento de turbulência 

A América Latina, no início dos anos 2000, enfrentava desafios como a precária infraestrutura de internet e a resistência do consumidor ao comércio eletrônico. Nesse contexto, o mercado de tecnologia global vivenciou um dos seus momentos mais turbulentos: a chamada ”Bolha da Internet” ou “bolha das empresas ponto-com”. 

Caracterizada por uma intensa especulação sobre o valor de empresas de tecnologia, a crise culminou no estouro da Nasdaq, com a evaporação de mais de 1 trilhão de dólares em apenas um mês, segundo a revista Time. Muitas empresas, vítimas dessa bolha, foram à falência, deixando um rastro de prejuízos e desconfiança no setor.

Para o mercado livre, o período de euforia especulativa foi substancialmente desafiador. Galperin chegou a revelar que, em vários momentos, a empresa quase encerrou suas operações, e ele considerou abandonar o projeto devido à instabilidade do mercado.

Cerca de seis anos após a crise, a empresa se reergueu e se consolidou como a maior plataforma de e-commerce da América Latina, um feito que, segundo Galperin, é resultado de um modelo de negócio sustentável.

Expansão Regional e Internacional

Desde sua fundação em 99, o mercado livre passou por uma expansão significativa, tanto geograficamente quanto em termos de serviços oferecidos.

Em um ritmo acelerado, o Mercado Livre, logo após sua fundação, iniciou sua expansão internacional, abrangendo Uruguai, México e Brasil. No ano seguinte, a plataforma consolidou sua presença na América Latina, chegando a países como Equador, Chile, Venezuela e Colômbia.

Para acelerar ainda mais seu crescimento, a empresa optou pela abertura de capital na Nasdaq em 2007. Além de ser o segundo maior mercado do mundo, a bolsa norte-americana abriga outras gigantes do segmento, como a própria E-bay, além de bigtechs como Meta, Apple e Microsoft. 

Ao longo dos anos, o Mercado Livre diversificou seus serviços, criando o Mercado Pago (soluções de pagamento), Mercado Envios (logística) e Mercado Ads (publicidade), formando um ecossistema completo para o comércio eletrônico. Hoje, a empresa opera em mais de 18 países e continua a crescer, promovendo a inclusão digital e financeira na região.

Aquisições e parcerias estratégicas

O sucesso do Mercado Livre se deve a uma combinação de fatores, entre eles seu crescimento orgânico e uma estratégia de expansão baseada em aquisições e parcerias. Alguns exemplos notáveis desta trajetória incluem:

• Aleph Group: o Mercado Livre firmou uma parceria estratégica com a Aleph Group em 2021, adquirindo uma participação de US$ 25 milhões na empresa. A companhia de mídia digital opera na América Latina via IMS (Internet Media Services).
• Arezzo: as duas empresas uniram forças para fornecer a distribuição de uma marca de calçados;
• Pão de Açúcar: colaboração para a venda dos produtos do supermercado via internet;
• Sebrae: parceria destinada ao apoio de novos empreendedores e aqueles que buscam impulsionar seus negócios e expandi-los para o mercado digital.

De acordo com o site oficial do Mercado Livre, a plataforma conta com uma rede robusta de mais de 300 Parceiros Certificados, que já prestaram serviços e impulsionaram os negócios de mais de 3.000 vendedores.

Lançamento de novos serviços e soluções inovadoras

Hoje, no Brasil, o Mercado Livre já é sinônimo de compra e venda via internet. Esse impacto sociocultural foi alcançado por meio de diversas etapas, marcadas por soluções inovadoras que se revelaram verdadeiros acertos ao longo do tempo.

A empresa iniciou suas atividades como um marketplace, mas ao longo dos anos expandiu sua atuação de maneira estratégica e sistemática, incorporando uma gama de produtos e serviços complementares. Hoje o maior e-commerce da América Latina, oferece: Suporte técnico, Mercado Envios, Mercado Crédito, Mercado Shops, Mercado Ads (Publicidade), VIS (Veículos, Imóveis e Serviços), entre outros.  

Essa abrangência permitiu que a companhia se tornasse um ecossistema robusto, oferecendo soluções integradas para atender às diversas necessidades de seus usuários.

“Quando começamos, essas unidades de negócio ainda não eram nem sequer ideias. Surgiram problemas, que transformamos em desafios e para os quais geramos soluções. Corremos riscos, acertamos e erramos, aprendemos, inovamos e alcançamos o impacto que inaugurou novos rumos”, descreve a empresa em seu site oficial. 

Modelo de negócios do Mercado Livre

Pode-se dizer que o núcleo do negócio está fundamentado no marketplace, que é composto principalmente por uma vasta rede de vendedores e compradores.

• Uma plataforma Multilateral – O Mercado Livre conecta vendedores e compradores em um único ambiente virtual. Isso cria valor ao facilitar a interação entre esses dois grupos distintos; 
• Diversidade de Produtos – Oferece uma vasta gama de produtos, desde itens básicos até eletrônicos e produtos de luxo. A diversidade das mercadorias disponíveis reflete, em parte, o que os próprios usuários escolhem vender.
• Modelo C2C e B2C – Tanto consumidores individuais quanto empresas podem comprar e vender produtos no Mercado Livre.

Além de sua plataforma de e-commerce, o Mercado Livre oferece uma série de soluções que fortalecem e consolidam o ecossistema da empresa, abrangendo serviços financeiros e logística. 

• Mercado Pago: plataforma de pagamentos que permite transações seguras e rápidas. Inclui serviços como carteiras digitais, financiamento e crédito.
• Mercado Crédito: oferece linhas de crédito para consumidores e vendedores, ajudando a impulsionar as vendas e o consumo.
• Mercado Envios: serviço de logística que gerencia o armazenamento, embalagem e entrega dos produtos.
• Centros de Distribuição: instalações logísticas avançadas onde produtos de vendedores são recebidos, armazenados, embalados e enviados para os compradores. 

Como o Mercado Livre transformou o e-commerce 

Frequentemente a empresa afirma que sua missão foi e ainda é “democratizar o comércio eletrônico e os serviços financeiros”. Tal objetivo permitiu que a empresa criasse uma plataforma que conecta milhões de compradores e vendedores na América Latina, ao mesmo passo que elimina intermediários e reduz custos.

Com o lançamento do Mercado Pago, a empresa superou uma das principais barreiras ao e-commerce na região: a falta de confiança nas transações online. O Mercado Pago proporciona uma plataforma segura para pagamentos, incluindo alternativas para quem não possui cartão de crédito.

Outra inovação significativa foi o Mercado Envios, que oferece soluções logísticas para agilizar o transporte de mercadorias e melhorar a segurança das entregas. Essa solução é essencial em uma região onde a infraestrutura de entrega frequentemente apresenta desafios.

Inovações Tecnológicas e estratégias de Crescimento

“A tecnologia é o motor que impulsiona o crescimento do nosso ecossistema”, enfatiza o Mercado Livre em publicação no seu site. 

Ao longo dos anos, a empresa diz ter investido fortemente em tecnologia, implementando ferramentas de análise de dados, marketing digital e inteligência artificial. Essas inovações ajudam os vendedores a otimizar suas vendas e melhoram a experiência do usuário.

Segundo o Mercado Livre, a área de TI deve crescer de forma inteligente e focada. “Cada pessoa que se junta à nossa equipe tem um objetivo claro e um critério comum: desenvolver e otimizar produtos e soluções que agreguem valor e melhorem a experiência dos nossos usuários.”

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Desempenho Financeiro e valor de Mercado

No segundo trimestre deste ano, a empresa reportou um lucro líquido de US$ 531 milhões, mais que o dobro do valor do mesmo período do ano passado, um aumento de quase 103%. A receita líquida alcançou US$ 5 bilhões, marcando um crescimento de 41,5% em relação ao ano anterior.

Em termos de Volume Bruto de Mercadoria (GMV), houve um crescimento de 20% em comparação com o ano anterior, impulsionado principalmente pela expansão de 36% no Brasil. O Goldman Sachs considera esse aumento de 20% positivo, especialmente à luz dos sucessivos recordes que o Mercado Livre tem alcançado.

Mais valiosa da América Latina 

O Mercado Livre (MELI34) consolidou sua posição de líder na América Latina após os robustos resultados do segundo trimestre de 2024. A superação das expectativas de mercado e a consequente valorização das ações em Nova York elevaram a companhia ao topo do ranking das empresas mais valiosas da região.

A companhia argentina superou a Petrobras (PETR4), tradicionalmente na liderança, e se tornou a empresa mais valiosa da América Latina. Com um valor de mercado de US$ 90,04 bilhões, a diferença para a petroleira é de aproximadamente US$ 1,4 bilhão.

Ações do Mercado Livre

Como anteriormente mencionado, o Mercado Livre está listado na Nasdaq, bolsa estadunidense que abriga grandes empresas de tecnologia. Por lá, os papéis da empresa são identificados e negociados por meio do ticker MELI. 

Além disso, a gigante argentina marca presença no mercado brasileiro por meio dos BDRs (Brazilian Depositary Receipts), operando sob o código MELI34. BDRs são certificados emitidos no Brasil que representam ações de empresas estrangeiras. 

Esse mecanismo permite que investidores brasileiros aloquem recursos em empresas internacionais sem precisar abrir uma conta em uma corretora estrangeira. No entanto, é importante notar que os certificados e as ações não possuem o mesmo valor; na verdade, cada BDR do Mercado Livre representa uma fração das ações listadas na Nasdaq.

Resumindo: 

• MELI: código de negociação da empresa na bolsa de valores estadunidense NASDAQ; 
• MELI34: ticker do BDR do Mercado Livre na B3, a bolsa de valores brasileira.

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Como investir no Mercado Livre

Ao considerar um investimento no Mercado Livre, o investidor se depara com duas alternativas: os BDRs, negociados na B3, e a compra direta das ações na Nasdaq. A primeira opção é a mais comum entre os investidores brasileiros devido à sua praticidade.

Afinal, para investir diretamente nas ações da empresa na Nasdaq (MELI), é necessário abrir uma conta internacional. Esse processo é geralmente mais complexo e pode exigir o cumprimento de regulamentações específicas. 

Por outro lado, a aquisição de BDRs (MELI34) pode ser realizada de maneira prática através das corretoras brasileiras. Confira o passo a passo a seguir:

1. Escolha uma corretora confiável que ofereça acesso a BDRs e abra uma conta.
2. Transfira recursos para sua conta na corretora.
3. Na barra de pesquisa da plataforma, busque pelo BDR do Mercado Livre: “MELI34”.
4. Efetue a compra do BDR através da plataforma da corretora escolhida.
5. Monitore o desempenho do seu investimento regularmente.

O processo de investimento é, em grande parte, bastante direto e acessível. No entanto, a parte mais complexa envolve a tomada de decisões sobre onde e como alocar seus recursos. 

Enquanto o procedimento operacional pode ser simples, a análise e a escolha dos investimentos certos demandam um entendimento mais profundo e cuidadoso. Por isso, é altamente recomendável consultar um assessor financeiro, especialmente para investidores iniciantes.

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