Japão está comemorando o aumento da sua taxa de juros
Por Julia Gonzatto A boa notícia da inflação: Na semana passada, o Japão abandonou um rótulo que o perseguia por anos: o de ser o último país com taxas de juros negativas do mundo. O anúncio oficial veio pelo Banco Central do país, que comunicou que a taxa de -0,1% finalmente passou para o limiar […]

Por Julia Gonzatto
A boa notícia da inflação:
Na semana passada, o Japão abandonou um rótulo que o perseguia por anos: o de ser o último país com taxas de juros negativas do mundo. O anúncio oficial veio pelo Banco Central do país, que comunicou que a taxa de -0,1% finalmente passou para o limiar positivo e agora ocupa o intervalo entre 0% e 0,1%.
Apesar de parecer uma mudança pequena, o aumento dos juros simboliza uma transição importante, e o primeiro passo na trajetória do Japão para estimular sua economia.
Conter o aumento da inflação global, tanto pelas injeções de dinheiro público que a pandemia da COVID-19 incentivou, quanto pelos problemas nas cadeias de suprimento de commodities de vário países, se tornou uma preocupação de governos de todo o mundo nos últimos anos. Mas, enquanto os bancos centrais ao redor do mundo aumentavam seus juros para tentar diminuir a alta dos preços (e o impacto que esse aumento tem no poder de compra das suas populações), o Japão seguiu o caminho contrário. Literalmente falando.
E como andava a economia japonesa?
Para o país do leste asiático, estimular a economia – que já não andava a das melhores, com baixo crescimento e preços sempre em queda – significava aumentar o preços de seus produtos e serviços, para consequentemente, manter suas taxas de juros negativas. E assim, surgiu o cenário de deflação.
Para chegar nesse ponto, a balança entre oferta e demanda precisa estar inclinada para o primeiro dos pontos. Ou seja, o número de produtos à venda precisa ser maior do que o números de pessoas dispostas a comprar – o que resulta em preços mais baixos.
A ideia é que a população se sinta mais inclinada a consumir e investir seu dinheiro, ao invés de deixá-lo parado na poupança, onde, ao invés de render os juros, os poupadores são obrigados a pagar o valor das taxas para manter seus fundos.
Mas por que a vontade de aumentar o preço dos produtos?
Por mais que na teoria a ideia de preços mais baixos seja positiva e apelativa para os que consomem, para a economia do país, essa tese não é verdadeira. Se os consumidores entenderem que a tendência é sempre a queda dos preços, os mesmos vão começar a adiar sua intenção de consumo ao máximo, na esperança de conseguir o maior desconto possível. Se amanhã vai estar mais barato, por que se comprometer com a compra hoje?
Considerando que os japoneses já são uma comunidade de consumidores relutantes, tirar eles da posição de adiar os gastos é mais que importante: se tornou uma necessidade.
De acordo com a CNN, em uma matéria sobre o assunto, o consenso entre economistas estabelece que para alcançar uma economia saudável, o valor dos produtos e serviços não devem cair, mas sim se manter em alta, subindo aproximadamente 2% todo ano.
E como o Japão conseguiu escapar da deflação agora?
O aumento da inflação surgiu principalmente pelos motivos externos já mencionados. A mão de obra e logística custam mais para o bolso dos fabricantes japoneses, que também precisam lidar com o aumento dos preços das matérias-primas. E esse, não necessariamente, é o melhor dos cenários.
Para o Japão, o ideal seria ver sua inflação aumentar por fatores internos, como os salários mais altos ou o maior índice de consumo. Isso é o que reitera o presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda.
Antes de aumentar as taxas de juros do país, seus planos envolviam também desenvolver o salário dos trabalhadores japoneses para alcançar uma espécie de “ciclo virtuoso”, onde as empresas vão aumentar seus lucros, ter mais dinheiro para pagar seus funcionários e, consequentemente, o poder aquisitivo de sua população vai poder acompanhar o aumento dos preços.
E isso finalmente vem acontecendo. Depois de anos em deflação, os preços no país asiático estão subindo acima da meta “saudável” de 2%, ao mesmo tempo que o PIB (Produto Interno Bruto) também mostra um recente aumento de demanda.
Mas nem tudo são flores. Assim como qualquer mudança, é claro, existem aqueles que se favorecerão e os que sairão no prejuízo. O aumento da taxa básica de juros, por exemplo, vai fazer com que o governo japonês enfrente maiores custos para pagar suas dívidas. Os bancos, porém, vão se beneficiar ao obter mais dinheiro a partir dos empréstimos que concedem.
Os anos de deflação japonesa realmente parecem ter ficado para trás. Mas se isso vai mostrar uma nova trajetória de crescimento econômico sustentável e de longo prazo para o país, ainda vamos descobrir.
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