O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o principal indicador utilizado para medir a inflação no Brasil. Em 2024, ele tem mostrado variações preocupantes, refletindo a volatilidade econômica, com fatores como o aumento da taxa Selic e a alta do dólar pressionando os preços dos produtos e serviços consumidos pelos brasileiros.

Vale lembrar: a inflação é o aumento generalizado e contínuo dos preços de bens e serviços em uma economia ao longo do tempo. Uma inflação alta resulta na perda do poder de compra da moeda, ou seja, o dinheiro passa a valer menos, pois uma mesma quantidade de dinheiro compra menos produtos ou serviços do que antes.

A imagem abaixo ilustra o impacto da inflação no poder de compra do real ao longo dos últimos 30 anos. Desde a implementação do Plano Real, uma nota de R$ 100,00, que tinha seu valor integral em 1994, atualmente possui o poder de compra equivalente a aproximadamente R$ 14,57.

Isso reflete a desvalorização da moeda em decorrência da inflação acumulada ao longo desse período, evidenciando a perda significativa de poder aquisitivo dos brasileiros.

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Histórico recente dos dados do IPCA

Nos últimos meses, o IPCA apresentou as seguintes variações:

  • Agosto de 2024: O IPCA registrou uma deflação de -0,02%, a primeira do ano, após uma alta expressiva de 0,38% em julho. O resultado negativo foi impulsionado principalmente pela queda nos preços dos alimentos e da energia elétrica​ (IBGE).
  • Julho de 2024: A inflação foi de 0,38%, com destaque para o aumento de passagens aéreas e gasolina, que puxaram os preços para cima​ (IBGE).
  • Junho de 2024: O índice teve um aumento de 0,21%, desacelerando em relação a maio, quando registrou 0,46%​ (IBGE).

Apesar da deflação de agosto, a inflação em 2024 ainda permanece em níveis elevados, chegando a 6,9% no acumulado até setembro, com um impacto significativo no poder de compra dos brasileiros.

Fatores que influenciam o aumento da inflação

De acordo com o assessor de investimentos Antonio Nogarotto, sócio do escritório da InvestSmart na filial de Santo André, o aumento da inflação em 2024 pode ser atribuído a vários fatores, com destaque para:

  • A alta do dólar: A desvalorização do real frente ao dólar tem pressionado os preços de produtos importados, como combustíveis, alimentos e eletrônicos. O custo desses itens, cotados em moeda estrangeira, encarece a vida do consumidor brasileiro.
  • Alta dos combustíveis: Produtos derivados do petróleo, como a gasolina, têm sido grandes responsáveis pela pressão inflacionária. Com a alta no preço do barril do petróleo no mercado internacional, o impacto é sentido diretamente no IPCA.

A resposta do Banco Central: aumento da Selic

Para controlar a inflação, o Banco Central optou por aumentar a taxa básica de juros, a Selic, após um ciclo de cortes. Essa medida visa conter o consumo excessivo e reduzir a pressão sobre os preços. 

No entanto, esse ajuste também traz desafios à economia, como a redução do crédito disponível e o aumento dos custos de financiamento para empresas e consumidores.

Impacto da inflação no consumidor, nos investimentos e na economia 

Segundo Antonio Nogarotto, a elevação da Selic, embora necessária para controlar a inflação, traz consigo o risco de desacelerar o crescimento econômico. Ele observa que o crédito mais caro, resultante da alta na taxa de juros, reduz o consumo de bens e serviços. Isso pressiona as empresas a conter investimentos e projetos de expansão, impactando diretamente sua produção e, consequentemente, a geração de empregos.

Além disso, Nogarotto pontua que o aumento dos custos de crédito, aliado a um ambiente de incerteza econômica, faz com que os investidores busquem ativos de menor risco, como títulos de renda fixa, em detrimento de ações. Essa migração afeta negativamente o setor produtivo e pode dificultar a recuperação econômica no longo prazo, ao reduzir o fluxo de investimentos em áreas mais dinâmicas da economia.

Outro ponto crítico levantado por Nogarotto é a desvalorização do real frente ao dólar, que encarece o custo das importações, aumentando os custos de produção em setores dependentes de insumos estrangeiros. Isso resulta em produtos mais caros para o consumidor final, o que agrava ainda mais a pressão inflacionária, mesmo em um cenário de consumo desacelerado.

Por fim, o assessor alerta que, embora a política de juros altos seja fundamental para conter a inflação, é igualmente importante que o governo busque medidas que incentivem o crescimento econômico sustentável. A instabilidade cambial, combinada com um ciclo prolongado de juros elevados, pode levar a um mercado de trabalho fragilizado e à estagnação econômica, causada por um consumo interno retraído e preços em alta.

Pedro Gomes

Jornalista e Redator do Melhor Investimento.