Gerald Cotten, CEO da QuadrigaCX, que foi uma das maiores corretoras de criptomoedas do Canadá, é o elemento central de um mistério que ecoa até hoje. O sumiço de milhões de dólares em criptoativos e a morte suspeita do executivo transformaram Cotten em um dos personagens mais enigmáticos do mundo das criptomoedas. 

Neste artigo, o Melhor Investimento aborda a história central do documentário original da Netflix “Não confie em ninguém: a caça ao rei da criptomoeda”, explorando as diversas teorias que surgiram em torno desse caso, no mínimo, intrigante. 

Quem foi Gerald Cotten?

Gerald ou Gerry Cotten foi o responsável pela fundação da QuadrigaCX, uma exchange de criptomoedas que já chegou a ser a maior do Canadá. Seu nome ganhou notoriedade após sua morte em dezembro de 2018, quando se descobriu que ele era a única pessoa com acesso às chaves privadas das carteiras digitais da empresa. 

Nascido em 1988, o canadense formou-se em administração aos 22 anos na prestigiosa Escola Schulich de Negócios, da York University. Foi durante esse período de intensa imersão no mundo dos negócios que ele se deparou com um fenômeno que mudaria sua vida: o surgimento das criptomoedas. 

Fascinado pelo potencial do Bitcoin e atraído pela promessa de uma valorização exponencial, Cotten decidiu explorar esse novo mercado. Em 2013, ele fundou a QuadrigaCX, uma empresa dedicada a soluções em Bitcoin, que viria a ser o tema central de uma das histórias mais controversas do mercado cripto. 

Ascensão e Queda da QuadrigaCX

A QuadrigaCX, fundada em 2013 por Cotten e Michael Patryn, rapidamente conquistou popularidade ao atender à crescente demanda por criptomoedas. A ideia da empresa era oferecer uma plataforma eficiente para a negociação de ativos digitais, com foco especial no Bitcoin.

Em apenas três anos, a QuadrigaCX se firmou como a maior bolsa de criptomoedas do país. Até 2018, a empresa já operava em três unidades localizadas em Vancouver e Toronto, além de manter parcerias com o Banco Imperial Canadense de Comércio para fortalecer suas operações.

Começo dos problemas da QuadrigaCX

A vertiginosa ascensão e queda do Bitcoin entre 2017 e 2018 marcaram um dos períodos mais turbulentos da história das criptomoedas. Em apenas seis meses, a cotação da principal moeda digital saltou de forma meteórica para US$ 20 mil, antes de despencar mais de 60%. 

No mesmo ano, as intensas oscilações no mercado de criptomoedas levaram a um congelamento que, segundo o banco, impossibilitou a liberação dos fundos pertencentes a mais de 100 mil clientes. Os problemas da corretora teriam se intensificado justamente nesse período, com diversos clientes relatando dificuldades para sacar seus fundos. 

A crise se agravou drasticamente em janeiro de 2019, quando foi anunciado que Gerald Cotten havia falecido inesperadamente cerca de um mês antes, durante uma viagem de lua de mel à Índia. Segundo, sua esposa, Jennifer Robertson, a morte de Gerald Cotten teria sido causada por complicações relacionadas à Doença de Crohn. 

Falência e perguntas sem respostas

Na época, Cotten gerenciava a Quadriga praticamente sozinho, após a saída dos demais membros do conselho, sendo a única pessoa com acesso às cold wallets da empresa, que armazenavam cerca milhões de dólares canadenses em criptomoedas pertencentes aos clientes. Isso resultou na perda de acesso a aproximadamente 190 milhões de dólares canadenses em criptomoedas.

Em abril de 2019, a QuadrigaCX foi oficialmente declarada falida, e os esforços para recuperar os fundos dos clientes continuam até hoje. O caso da QuadrigaCX trouxe à baila discussões sobre transparência e segurança nas exchanges de criptomoedas, servindo como um alerta para investidores e reguladores sobre os riscos associados ao mercado de criptomoedas.

Investigação e Descobertas

Investigações subsequentes revelaram que a QuadrigaCX era administrada de forma caótica e que Gerald Cotten havia misturado fundos pessoais com os da empresa. Além disso, ele utilizava os depósitos dos clientes para cobrir despesas operacionais e realizar investimentos pessoais.

Carteiras vazias

As investigações também revelaram que as cold wallets, as quais somente Cotten teria acesso, estavam vazias desde abril de 2018, conforme especialistas em blockchain da Ernst and Young, nomeada como supervisora pelo tribunal. 

O desaparecimento de cerca de US$ 180 milhões pertencentes aos clientes da Quadriga foi detalhado no terceiro relatório da supervisora, apresentado à Suprema Corte da província canadense Nova Escócia. 

Esquema Ponzi

Em 2020, a Comissão de Valores Mobiliários de Ontário (OSC) concluiu que a Quadriga não passava de um esquema Ponzi disfarçado de corretora de criptomoedas. Esse tipo de fraude financeira funciona como uma pirâmide, onde os recursos de novos investidores são usados para pagar os rendimentos prometidos aos investidores anteriores, criando a ilusão de um negócio legítimo e lucrativo.

No entanto, a sustentabilidade desse modelo depende exclusivamente da entrada contínua de novos fundos. Quando as contribuições cessam, o esquema inevitavelmente entra em colapso, como ocorreu em 2018 com a Quadriga, diante das consecutivas baixas no mercado de Bitcoin.

Causa da morte de Gerry Cotten

Uma investigação conduzida pelo jornal canadense The Globe and Mail trouxe à tona detalhes sobre a morte de Cotten. Documentos médicos revelaram que ele foi hospitalizado em Jaipur, na Índia, apenas nove dias após o início de sua lua de mel, devido a fortes dores abdominais.

Embora Cotten realmente sofresse da Doença de Crohn, a causa oficial de sua morte permanece incerta, levantando suspeitas em torno das circunstâncias do falecimento. O que se sabe é que o empresário foi reanimado duas vezes antes de ir a óbito, conforme relatos do médico que cuidou do caso.

Teorias de Conspiração sobre Gerald Cotten

O caso Gerald Cotten, gerou diversas teorias da conspiração devido às circunstâncias misteriosas e às grandes somas de dinheiro envolvidas. Aqui estão algumas das principais teorias:

Falsificação da Própria Morte 

Muitas pessoas chegaram a acreditar que o então autoproclamado “rei das criptomoedas” teria forjado sua própria morte como uma forma de escapar com os fundos dos clientes. A teoria começou a ganhar força porque a notícia de seu falecimento foi divulgada apenas um mês após o ocorrido, 

As suspeitas aumentaram ainda mais pelo fato de Cotten ser a única pessoa com acesso às chaves privadas das cold wallets da exchange. Isso gerou desconfiança e intensificou as especulações de que sua morte poderia ser parte de um plano cuidadosamente arquitetado para se apoderar dos recursos dos clientes e desaparecer sem deixar vestígios.

Envenenamento 

Outra teoria que circula sobre a morte de Gerald Cotten sugere que ele teria sido envenenado, possivelmente por alguém muito próximo a ele. As principais suspeitas recaíram sobre sua esposa, Jennifer Robertson. 

Fatores como a ausência de uma autópsia, o fato de o funeral ter sido realizado com o caixão fechado e o testamento que deixava todas as suas posses para Jennifer, alimentaram essas suspeitas e geraram ainda mais desconfiança em torno das circunstâncias de sua morte. 

Passado obscuro 

Antes de fundar a QuadrigaCX, Cotten e seu sócio, supostamente, estavam envolvidos em práticas fraudulentas, o que poderia, inclusive, explicar o motivo de se conhecerem. A teoria sobre essa conexão se baseia no fato de que, por terem perfis muito diferentes, era improvável que fossem amigos.

Online, Cotten teria usado o pseudônimo “Sceptre” e se envolvido em esquemas Ponzi e programas de investimento de alto risco que prometiam retornos elevados, mas que, na realidade, eram frequentemente fraudulentos. 

Documentário Netflix l”Trust No One: The Hunt for the Crypto King”

O caso ganhou tanta repercussão que, em 2022, foi lançado um documentário que explora em detalhes as diversas teorias em torno da morte de Cotten. Intitulado “Trust No One: The Hunt for the Crypto King” (“Não confie em ninguém: A caça ao Rei da Criptomoeda”), o documentário investiga as várias hipóteses sobre o ocorrido. 

As teorias variam desde a possibilidade de um jogo de azar até a suspeita de uma fraude elaborada e cuidadosamente planejada. A produção acompanha um grupo de investidores que, entre os muitos que perderam milhões com o colapso da exchange, embarcam em uma busca incansável pela verdade. Ao longo da jornada, esses investidores enfrentam desafios e reviravoltas enquanto tentam desvendar os mistérios por trás do caso.

A investigação, conduzida por investidores, revela um emaranhado de inconsistências e informações contraditórias, desafiando qualquer tentativa de explicação simples e aprofundando ainda mais os mistérios que cercam o caso.

É possível rastrear transações de criptomoedas?

Embora as criptomoedas como o Bitcoin sejam frequentemente descritas como anônimas, elas são, na verdade, pseudônimas. Isso significa que, embora as identidades reais dos usuários não sejam diretamente visíveis, todas as transações são registradas publicamente na blockchain, permitindo que qualquer pessoa veja os endereços envolvidos e os valores transacionados. 

A segurança do Bitcoin reside em um sistema de registro público (blockchain). Nessa espécie de livro-razão digital, cada transação é registrada de forma imutável, com data e hora precisas. A criptografia garante que nenhuma transação possa ser alterada ou duplicada, e a visibilidade pública permite rastrear o histórico completo de cada Bitcoin, desde sua origem até sua utilização mais recente. 

Além disso, quando os usuários trocam suas criptomoedas por dinheiro ou outros ativos em exchanges centralizadas, eles geralmente precisam passar por processos de verificação de identidade (KYC – Know Your Customer). Isso cria um vínculo entre a identidade real do usuário e seus endereços de criptomoedas, facilitando ainda mais o rastreamento. 

No caso de Cotten, a Ernst & Young, nomeada como monitor independente, utilizou ferramentas de análise de blockchain para rastrear os fundos da QuadrigaCX. E assim descobriram que as carteiras frias, que deveriam conter grandes quantias de criptomoedas, estavam vazias. 

Questões Legais e Éticas nas Blockchains

A tecnologia blockchain, que sustenta criptomoedas, tem revolucionado diversos setores. No entanto, a sua natureza descentralizada e inovadora traz consigo um conjunto de desafios legais e éticos complexos.

Um dos principais desafios da tecnologia blockchain reside na ausência de um marco regulatório claro e abrangente. A natureza descentralizada dessa tecnologia dificulta a definição de jurisdição e a aplicação de leis em casos de litígio. 

Além disso, a imutabilidade inerente à blockchain, embora seja uma das suas maiores vantagens em termos de segurança, pode se tornar um entrave em situações que exigem a correção de erros ou a adaptação a novas circunstâncias. Embora seja um livro-razão público, as informações pessoais podem ser pseudonimizadas ou anonimizadas, o que também levanta questões sobre a proteção de dados.

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Lucas Machado

Redator e psicólogo com mais de 3 anos de experiência na produção de artigos e notícias sobre uma ampla gama de temas. Suas áreas de interesse e expertisse incluem previdência, seguros, direito sucessório e finanças, em geral. Atualmente, faz parte da equipe do Melhor Investimento, abordando uma variedade de tópicos relacionados ao mercado financeiro.