Em algum momento, você já ouviu falar que a internet está evoluindo, e que isso está associado ao conceito de Web3? Assim como outros aspectos pertinentes à história humana, a rede virtual que hoje interliga quase todo globo é atravessada por constantes transformações. 

Sem dúvida, a internet representa um pilar crucial nos atuais moldes de funcionamento da sociedade. Afinal de contas, hoje em dia, os recursos da rede acompanha grande parte de nós em diferentes tarefas rotineiras. Seja através dos tradicionais computadores ou por meio de tablets, celulares, aparelhos televisivos, relógios de pulso, entre outros, na megaestante de produtos eletrônicos nos quais a presença da internet é indispensável. 

No entanto, a trajetória da internet nem sempre seguiu um padrão definido, como podemos notar ao recordar que inicialmente era uma simples rede global de computadores estática. Com o tempo, essa rede evoluiu para se tornar um vasto palco virtual, o que permitiu a interação entre os usuários, troca de dados, entre outras funcionalidades. 

Esta última transição certamente foi marcada pela chegada das grandes companhias tecnológicas, como Google e Microsoft, cujo controle é praticamente inabalável. Contudo, as tendências ligadas à chamada Web3 prometem abalar tais conjunturas e, por consequência, representar um marco para a nova era da internet. 

Além da evolução da própria rede, o novo conceito também deve moldar o futuro das finanças no meio digital. É o que diz Maurício Magaldi, diretor de Estratégia da 11:FS, empresa inglesa de consultoria especializada no setor financeiro. 

Afinal, o que é Web3? 

Em suma, Web3 é um conceito criado, em 2014, pelo co-fundador da criptomoeda Ethereum, Gavin Wood. Para cientista da computação britânico, é necessário “remodelar a internet”, apostando na descentralização dos serviços presentes na rede.  

Assim sendo, pode-se entender a Web3 como um processo de modernização da Internet que busca descentralizar o controle e a propriedade dos dados online. A tecnologia base dessa dinâmica é a famigerada Blockchain, cujo conceito está alinhado com a Web3. 

Enquanto na Internet atual a maioria das aplicações é controlada por entidades centralizadas, na Web3, tecnologias como blockchain e criptomoedas são utilizadas para criar um ambiente onde o poder é distribuído de forma mais igualitária entre os usuários.

Isso significa que os usuários finais têm mais controle sobre seus próprios dados, podendo determinar como eles são armazenados e utilizados. Além disso, na Web3, os usuários têm uma participação mais ativa no desenvolvimento e na direção dos projetos online, contribuindo diretamente para seu desenvolvimento técnico.

Essa descentralização traz benefícios como maior privacidade e segurança dos dados, bem como a possibilidade de criação de novos modelos de negócios baseados em comunidades. A Web3 também promove a transparência por meio do uso de blockchain, uma infraestrutura de código aberto que registra todas as transações de forma pública e imutável.

Em resumo, a Web3 representa uma mudança na forma como a Internet é estruturada, buscando oferecer aos usuários um maior controle sobre suas atividades online, enquanto promove a descentralização, a transparência e a participação ativa da comunidade.

Principais características da web3

Em maiores detalhes, o conceito de Web3 é fundamentado em 4 aspectos, são eles:

Descentralização

Como é de se imaginar, a descentralização das aplicações emerge como o atributo fundamental da Web3. Em suma, este aspecto aponta para independência total de tecnologias pertencentes às Big Techs, órgãos governamentais, entre outras entidades. 

Neste âmbito, a ideia é apostar em projetos voltados à comunidade, cujos próprios mecanismos regulam automaticamente o modo como os usuários interagem. Assim, dispensando a  atuação de uma entidade centralizada para controlar essas interações.

Desta forma, os usuários têm mais controle sobre onde seus dados são armazenados, em vez de confiarem em uma única entidade para tal. E, se desejarem, os usuários podem até mesmo vender seus próprios dados, pois têm mais autonomia sobre eles na Web3.

Ausência de confiança

Este aspecto refere-se, justamente, à uma característica da descentralização das aplicações. Em suma, por meio da Web3, o usuário não é mais obrigado a ficar refém de uma autoridade central para gerenciar seus dados, transações e interações. 

Em outras palavras, o usuário não precisa depositar confiança em determinada entidade centralizadora, possibilitando à ele se envolver em transações e interações, sem a necessidade de uma terceira parte específica. 

Web semântica

A Web3, também aponta para o que é entendido como “Web semântica”. Isso significa que as aplicações online são capazes de entender melhor o que as informações realmente significam. Em vez de apenas processar palavras ou dados, elas podem entender o contexto em que esses dados estão sendo usados.

Em síntese,   tecnologia é capaz de entender não apenas as palavras-chave que você digitou, mas também o significado por trás delas.

Para tal é utilizado inteligência artificial e metadados (informações sobre informações) para ajudar nesse processo. Isso significa que agentes inteligentes podem ajudar os usuários a realizar tarefas de forma mais eficiente, tornando a experiência online mais fácil e intuitiva.

Interoperabilidade

A interoperabilidade permite a troca de informações e a comunicação entre sistemas heterogêneos, facilitando a integração de sistemas de tecnologia da informação, comunicação e automação em diferentes contextos. Desta forma, promovendo a fluidez dos dados entre diferentes plataformas, sem a necessidade de intermediários.

Este mecanismo, não apenas torna os dados portáteis, mas também permite aos usuários transitar facilmente entre serviços, preservando suas preferências, perfis e configurações.

Importância da Web3

Para mensurar a importância da Web3, é necessário compreender o processo de evolução da internet. Isto é, torna-se essencial refletir sobre os desafios associados aos modelos anteriores da rede, bem como conhecer os benefícios atribuídos à modernização. 

À grosso modo, a web 1.0 baseava-se em hyperlink e representava uma rede estática, enquanto a Web 2.0 surgiu com a ampliação das interações, por meio de redes sociais, blogs, dentre outras plataformas. Contudo, é importante fixar que todas as interações estão sujeitas ao controle de autoridades centralizadas que obtêm benefícios comerciais a partir dessas transações de serviços.

Na Web 3.0, a ideia é se desprender dessas autoridades centralizadas, com foco em garantir mais envolvimento do usuário, além potencializar a privacidade no meio digital e promover uma comunicação mais democratizada e transparente. 

Para Colin Evans, diretor de dois protocolos criados pelo Protocol Labs, empresa de tecnologia blockchain, a expectativa por trás do terceiro modelo consiste em garantir a modernização da internet, em termos de segurança, velocidade e liberdade. “Nosso objetivo é atualizar a Web para torná-la mais rápida, mais segura, mais resistentes aos ataques e mais aberta.” afirmou em entrevista à BBC. 

Para o especialista, os riscos da centralização da Web 2.0, estão atrelados ao  consequente acúmulo de poder na mão de grandes companhias, e governos. Isto porque, essa centralização facilita a manipulação de dados em prol de interesses próprios. “Não podemos confiar que esses organismos não estejam manipulando nossos dados”, critica Collins. 

Diante disso, pode-se elencar alguns benefícios provenientes da Web 3.0, em relação aos seus antecessores. São eles: 

  • Interatividade significativa entre usuários e provedores de soluções.
  • Incentivos para participação ativa em comunidades online, não troca de dados.
  • Controle total do usuário sobre quem acessa seus dados.
  • Proteção contra acesso aos dados pelo proprietário da infraestrutura.
  • Interações online visíveis publicamente, com identidade confidencial.
  • Remoção de barreiras geográficas, políticas e corporativas na comunicação.
  • Limitação da censura das grandes empresas de tecnologia e equilíbrio entre segurança e transparência.

Em resumo, Web 3.0  representa um conceito crucial,  visto que ele promete revolucionar completamente a maneira como utilizamos a internet num futuro próximo. Portanto, é um tema de extrema importância que merece ser tratado com atenção, visando facilitar a adaptação às novas tecnologias digitais.

Principais tecnologias da web3

Dentre as tecnologias responsáveis por impulsionar a web3, podemos destacar:

Tecnologia blockchain

Ao contrário dos sistemas tradicionais, onde os dados são armazenados centralmente e estão suscetíveis a violações de segurança e fraudes, a tecnologia blockchain adota uma abordagem descentralizada. Essa arquitetura distribuída garante a integridade dos registros, uma vez que cada transação é registrada em blocos interligados em uma cadeia, formando assim um histórico imutável e transparente de todas as atividades realizadas.

No contexto das transações imobiliárias, por exemplo, a implementação da blockchain oferece uma solução diferenciada. Nesta linha, a tecnologia cria um ledger específico para o comprador e outro para o vendedor, proporcionando uma trilha de auditoria confiável e transparente. Esses registros imutáveis não apenas eliminam a necessidade de intermediários, reduzindo custos e tempo de transação, mas também aumentam significativamente a segurança, mitigando fraudes e disputas.

Tokenização

Em suma, tokenização é o processo de transformar os direitos de um ativo em um token digital, que pode ser transferido, registrado ou armazenado em uma blockchain. 

Através desse processo, é viável representar uma diversidade de ativos, sejam eles tangíveis ou intangíveis, permitindo a criação de uma representação digital segura dos ativos reais. Esse processo não apenas oferece liquidez e transparência, mas também possibilita o fracionamento desses ativos.

Existem diferentes tipos de tokens, desde os tokens de segurança, sujeitos a regulamentações de valores mobiliários, até os tokens não intercambiáveis (NFTs), que representam ativos únicos e indivisíveis. 

WebAssembly

O WebAssembly, também conhecido como Wasm, é um formato de instrução binária desenvolvido para uma máquina virtual. Ele permite que linguagens de programação além de JavaScript, como C e Rust, sejam executadas dentro dos navegadores da Web. 

O wasm possibilita a execução de código de alto desempenho nos navegadores da Web, oferecendo uma base sólida para a eficiente operação de aplicações descentralizadas em diversas plataformas. 

Além disso, ele é útil porque permite que aplicativos complexos, como jogos ou ferramentas de edição de vídeo, funcione de forma suave diretamente no navegador, sem a necessidade de instalar nenhum software adicional

Metaverso

O metaverso é um conceito não exatamente novo, sendo um tipo de realidade virtual, já adotada em muitas empresas do setor tecnológico. Entendido como a versão tridimensional da internet, já possui uma relação direta com a Web3. 

De modo breve, a descentralização das aplicações proporcionada pela tecnologia blockchain atrai os usuários do mundo virtual. Isso ocorre porque essa abordagem permite que os usuários mantenham o controle total sobre seus ativos digitais, como avatares, roupas e outros itens não fungíveis do metaverso.

Tecnologias web semânticas

As chamadas tecnologias Web semânticas oferecem uma compreensão aprimorada dos dados dos clientes, utilizando princípios de dados vinculados para interconectar informações ou disponibilizá-las estruturadamente na Web.

Um exemplo destas tecnologias é o Resource Description Framework (RDF), que consiste em uma arquitetura genérica de metadados que viabiliza a representação de informações sobre recursos na World Wide Web (WWW ou Web). Por meio do RDF, é possível expressar dados como título, autor e data de atualização de uma página Web, entre outros exemplos.

Smart Contracts

Smart Contracts ou contratos inteligentes (em tradução livre para o português), são programas de computador que executam automaticamente ações específicas de um contrato, quando as condições pré definidas pelas partes são cumpridas.

Os smart contracts operam de forma descentralizada e autônoma, sem a necessidade de intermediários. A grosso modo, todas as etapas necessárias para cumprimento de um determinado contrato, são feitas de forma automatizada, dispensando a presença de bancos ou entidades reguladoras, para garantir a conclusão da negociação. 

Em resumo, os smart contracts representam uma evolução na forma como os acordos são estabelecidos e executados,  que busca um sistema confiável e imutável para transações digitais.

Qual a relação da Web3 com o mercado financeiro?

Considerando que a descentralização é uma das maiores características da Web3, a nova era da internet possui uma influência significativa no mercado financeiro. Para entender essa relação, basta refletir sobre as possibilidades viabilizadas pelas tecnologias atreladas ao terceiro modelo. Entenda por meio de alguns exemplos: 

– Descentralização Financeira (DeFi): A Web3 está impulsionando o crescimento do ecossistema DeFi, permitindo transações financeiras diretas entre pares, sem a necessidade de intermediários tradicionais. Contratos inteligentes baseados em blockchain estão facilitando empréstimos, empréstimos agrupados, negociação de ativos tokenizados e outras formas de atividades financeiras descentralizadas.

Tokenização de Ativos: A capacidade de representar ativos físicos e digitais como tokens na blockchain está democratizando o acesso a investimentos. Em suma, este processo viabiliza que qualquer coisa de valor, como imóveis, títulos e obras de arte, sejam convertidos em um Token, aumentando a eficiência e a acessibilidade das negociações. 

– Interoperabilidade e Conectividade: A interoperabilidade entre diferentes blockchains e sistemas está facilitando a transferência de valor e a comunicação entre plataformas financeiras descentralizadas. Isso está criando um ecossistema financeiro mais fluido e global, onde ativos e serviços podem ser facilmente trocados e utilizados em várias plataformas.

Esses são apenas alguns dos aspectos nos quais a Web3 está deixando sua marca no mercado financeiro, prometendo uma evolução significativa na forma como interagimos e conduzimos transações financeiras.

Criptoativos da Web 3.0

Certos criptoativos tem sido apelidados de tokens da Web 3.0. Tal designação emerge pois, estes representam ativos que estão fomentando a transição para a nova era da internet. 

Veja alguns exemplos de criptoativos que com cumprem com essa característica distintiva: 

  • BitTorrent (BTT): o BTT é um ativo digital baseado em blockchain que viabiliza a troca descentralizada de arquivos na internet.
  • Basic Attention Token (BAT): refere-se a um token desenvolvido rede Ethereum, que impulsiona uma nova plataforma de publicidade digital baseada em blockchain. Ele foi projetado para recompensar o usuário por sua atenção. 
  • Helium (HNT): trata-se de uma rede descentralizada otimizada para dispositivos da Internet das Coisas (IoT), operando por meio da tecnologia blockchain.
  • Polkadot (DOT): moeda digital que viabiliza a conexão de diferentes sistemas, o que a faz assumir a função de fazer a ponte entre blockchains.
  • Livepeer (LPT): sistema de streaming de vídeo descentralizado baseado na Ethereum, um dos principais blockchains do mercado.

Leia também: Criptoativos: passo a passo para investir em moedas virtuais

Desafios da web3

A Web3, embora promissora, enfrenta uma série de desafios que precisam ser abordados para garantir sua ampla adoção e sucesso.

Dentre os obstáculos para a nova era da internet a escalabilidade continua sendo uma preocupação primordial, pois as redes de blockchain podem se tornar dispendiosas e computacionalmente intensivas à medida que o volume de dados aumenta. Além dos desafios técnicos, a experiência do usuário e a adoção são preocupações fundamentais.

No âmbito dos desafios, melhoria da experiência do usuário é colocada em foco pela especialista Tatiana Revoredo, CSO na The Global Strategy e membro fundadora da Oxford Blockchain Foundation.

“Como a Web 3.0 ainda está em seu estágio embrionário, é necessário muita aprendizagem e experimentação na jornada do usuário médio. A falta de design de fácil utilização na Web 3.0 dificulta a experiência do usuário e provoca lentidão em sua curva de aprendizado”, afirmou.

Em contrapartida, a especialista salienta que estes processos são comuns, sendo algo natural para uma estrutura ainda em processo de crescimento. Tudo isso acaba se traduzindo em oportunidades de negócios”, acrescentou.

Lucas Machado

Redator e psicólogo com mais de 3 anos de experiência na produção de artigos e notícias sobre uma ampla gama de temas. Suas áreas de interesse e expertisse incluem previdência, seguros, direito sucessório e finanças, em geral. Atualmente, faz parte da equipe do Melhor Investimento, abordando uma variedade de tópicos relacionados ao mercado financeiro.