Índice de Gini: como a desigualdade social é medida?
Quando se olham os dados econômicos dos países, encontra-se o Produto Interno Bruto (PIB), a renda per capita e outros fatores relevantes. Avaliar um índice financeiro, por exemplo, faz todo sentido, mas isso nem sempre retrata o que o índice de Gini aborda: a desigualdade social. Afinal, esse aspecto nem sempre tem a ver com […]

Quando se olham os dados econômicos dos países, encontra-se o Produto Interno Bruto (PIB), a renda per capita e outros fatores relevantes. Avaliar um índice financeiro, por exemplo, faz todo sentido, mas isso nem sempre retrata o que o índice de Gini aborda: a desigualdade social.
Afinal, esse aspecto nem sempre tem a ver com o fato do país ser desenvolvido. Muitas nações com boas economias concentram um nível de desigualdade elevado. Um exemplo são os Estados Unidos. Enquanto isso, outras apresentam bons resultados, como Dinamarca, Hungria e Japão.
E o Brasil? Apesar de estar no grupo das 10 maiores economias do mundo e ter um PIB elevado, apresenta uma grande situação de desigualdade social. Essa afirmação pode ser confirmada por dados, que veremos ao longo deste artigo.
O grande problema é que um índice de Gini elevado dificulta o próprio crescimento econômico do país — e também impacta os seus investimentos. Quer entender melhor essas relações? Continue lendo!
O que é o índice de Gini?
O índice de Gini é um coeficiente ou indicador que mede o nível de desigualdade social de um país. Ele mensura a renda média da nação e de que forma ela é distribuída entre a população. O resultado varia de 0 a 1 ou de 0 a 100 e, quanto mais elevado, maior é a concentração da remuneração. Isso impacta a evolução e a qualidade de vida gerais.
Além de ser aplicado em países, o coeficiente de Gini também pode ser utilizado em esferas menores, como um estado ou um município. Dessa forma, é possível identificar as regiões com melhor distribuição de renda e aquelas em que há um nível de concentração mais elevado.
Portanto, esse indicador vai muito além de mostrar se um país é rico ou pobre. A ideia é deixar claro como é a vida da população geral. Por isso, é possível que a nação tenha um PIB elevado, mas apresenta muita desigualdade social. Esse é o caso do Brasil.
A situação inversa também existe. Um país considerado pobre pode ter um índice de Gini próximo de zero. Nesse caso, a maioria dos habitantes tem uma renda baixa. Ou seja, há mais igualdade social, mas as condições gerais são ruins.
Ainda há casos em que há desigualdade social, mas as oportunidades oferecidas são grandes. Os Estados Unidos se encaixam nesse exemplo por serem um país que facilita a mobilidade entre a estrutura de classes.
Vale ressaltar que o índice de Gini brasileiro foi de 48,9 no período entre 2010 e 2021. Isso segundo relatório de Desenvolvimento Humano, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Já o dos Estados Unidos foi 41,5, muito abaixo do Brasil. No entanto, ainda é superior a alguns dos países mais desenvolvidos do mundo, como Dinamarca (27,7), Áustria (30,2) e Bélgica (27,2).
Como o índice de Gini é calculado?
O índice de Gini é calculado pela Curva de Lorenz, que mostra a proporção em que há acumulação da renda. Para isso, é preciso elaborar o gráfico, sendo que o eixo vertical representa a renda e o horizontal, a população. Assim, é criada a reta de total igualdade e, abaixo dela, há a área de concentração gerada por uma parábola.
Assim, o cálculo é conseguido pelo trapézio formado pela aplicação da curva. A fórmula é complexa e fica mais fácil obter o resultado por meio da publicação dos dados oficiais dos países.
De toda forma, o índice de Gini é considerado a razão entre o setor de desigualdade social e o valor máximo que se consegue assumir. No Brasil, há grandes diferenças entre os estados, como é verificado no Mapa da Riqueza no Brasil.
Esse estudo considerou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) e do Imposto de Renda (IR), ano-exercício 2020. Nos resultados, vários resultados discrepantes entre os estados foram identificados.
Conclusões do mapa da desigualdade no Brasil
- renda média do Brasil é 220% mais elevada do que a do estado do Maranhão, último estado do ranking.
- renda média no Distrito Federal (1ª colocação) é 669% maior do que no Maranhão.
- declaração de patrimônio por habitante é de R$ 95.000 no Distrito Federal e de R$ 6.329 no Maranhão.
- renda média em Nova Lima (MG) é 12.000% mais alta do que a Ipixuna do Pará (PA), a cidade com menor remuneração.
- capital brasileira com maior renda per capita é Florianópolis, com R$ 4.215 por mês.
- os 10 municípios com menores rendas estão no Norte e no Nordeste.
- os 20 municípios com maiores rendas estão no Sul e no Sudeste, além do DF.
Esses dados evidenciam que os estados do Sul e do Sudeste apresentam condições melhores de renda. Mas será que isso se reflete na distribuição de renda?
O IBGE analisou o índice de Gini por unidade federativa, considerando o rendimento médio mensal real de todas as pessoas com mais de 14 anos. Os dados são de 2021.
Nesse cenário, o melhor resultado foi de Santa Catarina, com 0,397. Em segundo lugar, veio Rondônia, com 0,405. Já o pior índice ficou com a Paraíba, com 0,558.
Por sua vez, em relação às regiões do país, considerando o mesmo critério, o melhor resultado foi do Sul, com 0,433. O pior foi do Nordeste, com 0,521.
Portanto, fica claro que alta renda média per capita nem sempre significa baixa desigualdade social. Ter essa visão é importante, já que o Brasil faz parte do G20 e tem alta carga de impostos, que impactam mais o orçamento das pessoas com remuneração mais baixa.
Qual o valor do índice de Gini no Brasil e no mundo?
O valor do índice de Gini no Brasil e no mundo varia. No primeiro caso, é de 48,9. Antes disso, o país ficava na 7ª colocação entre as 10 nações mais desiguais do mundo. No mundo, alguns resultados são: Suíça (33,1), Noruega (27,7), Austrália (34,3), Alemanha (31,7), Reino Unido (35,1), Japão (32,9), Estados Unidos (41,5) e Emirados Árabes Unidos (26,0).
Esses dados foram obtidos pelo relatório da ONU já citado. O documento traz a relação de países conforme o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Por isso, fazer essa análise ajuda a entender que o coeficiente de Gini nem sempre tem relação com uma economia forte ou grande geração de riquezas.
Índice de Gini dos 10 países com IDH muito elevado
Suíça: 33,1.
Noruega: 27,7.
Islândia: 26,1.
Hong Kong, China: sem dados.
Austrália: 34,3.
Dinamarca: 27,7.
Suécia: 29,3.
Irlanda: 30,6.
Alemanha: 31,7.
Países Baixos: 29,2.
Índice de Gini dos 10 países com IDH elevado
Albânia: 30,8.
Bulgária: 40,3.
Granada: sem dados.
Barbados: sem dados.
Antígua e Barbuda: sem dados.
Seicheles: 32,1.
Sri Lanka: 39,3.
Bósnia-Herzegovina: 33,0.
São Cristóvão e Neves: sem dados.
Irã: 40,9.
O Brasil está nesse grupo, mas está 11 colocações abaixo do Irã devido ao IDH.
Índice de Gini dos 10 países com IDH médio
Filipinas: 42,3.
Botsuana: 53,3.
Bolívia: 43,6.
Quirguistão: 29,0.
Venezuela: sem dados.
Iraque: 29,5.
Tadjiquistão: 34,0.
Belize: sem dados.
Marrocos: 39,5.
El Salvador: 38,8.
Índice de Gini dos 10 países com IDH baixo
Tanzânia: 40,5.
Paquistão: 29,6.
Togo: 42,4.
Haiti: 41,1.
Nigéria: 35,1.
Ruanda: 43,7.
Benim: 37,8.
Uganda: 42,7.
Lesoto: 44,9.
Malaui: 38,5.
Quais as vantagens e desvantagens do índice de Gini?
As vantagens e desvantagens do índice de Gini são sua comparação das desigualdades sociais entre as economias ao longo do tempo e o fato de excluir a geração de oportunidades, respectivamente. Ou seja, você consegue fazer uma análise para verificar a evolução na distribuição de renda. Porém, não identifica a mobilidade na estrutura social.
Vantagens do índice de Gini
- permite analisar a distribuição de renda em determinado local;
- a análise é feita sem limitações de outros dados;
- é fácil interpretar os dados, a fim de fazer comparações e entender a realidade.
Desvantagens do índice de Gini
- a desigualdade social é medida em termos estáticos, sem incluir as oportunidades;
- uma boa distribuição de renda não significa justiça social;
- o poder de compra não é considerado.
Como o índice de Gini ajuda os ODS e o combate à desigualdade social?
O índice de Gini ajuda os ODS e o combate à desigualdade social por permitir elaborar políticas públicas mais eficazes, que visam à redução da concentração de renda. Assim, a partir desse indicador, consegue-se verificar as regiões com mais problemas e trabalhar para melhorá-las, a fim de alcançar os 10 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da ONU.
Vale a pena reforçar que há 17 metas recomendadas pela Organização das Nações Unidas. O 10° ODS trata justamente da redução das desigualdades, tanto dentro de um país quanto na relação entre ele e outras nações.
Portanto, ao analisar o coeficiente de Gini e verificar os ODS, os governos podem definir políticas públicas mais eficientes. Esses resultados podem ser acompanhados ao longo do tempo, o que ajuda a combater as desigualdades sociais.
Metas do ODS até 2030 para a redução das desigualdades
- aumentar a renda dos 40% da população mais pobre a uma taxa mais alta que a nacional;
- promover a inclusão social, econômica e política de todos;
- implantar a igualdade de oportunidades e reduzir as desigualdades;
- adotar políticas fiscais, salariais e de proteção social;
- melhorar a regulamentação e o monitoramento dos mercados e instituições financeiras;
- oferecer mais representação para os países em desenvolvimento, a fim de participarem das decisões em instituições financeiras e econômicas internacionais;
- facilitar a mobilidade e a migração ordenada e responsável;
- garantir tratamento diferenciado aos países em desenvolvimento;
- incentivar a assistência oficial ao desenvolvimento e fluxos financeiros, especialmente para países mais carentes;
- reduzir para menos de 3% os custos de operações das remessas dos migrantes e acabar com os percentuais acima de 5%.
Qual o cenário da desigualdade social no Brasil?
O cenário da desigualdade social no Brasil é de concentração de renda. Segundo artigo da Fundação Getúlio Vargas, os 10% mais ricos da população têm quase 50% das riquezas do país. Já os 50% mais pobres ficam com pouco mais de 10%, sendo afetados com analfabetismo funcional, desnutrição e moradias em áreas de risco.
O relatório Um Retrato das Desigualdades no Brasil Hoje, divulgado em 2023, relata que 29,4% da população entre 15 a 64 anos é analfabeta funcional. Ou seja, sabe ler apenas o básico, sem conseguir interpretar as informações.
Desse total de pessoas, 48,3% têm uma remuneração de até 1 salário mínimo por mês. Portanto, fica claro que a falta de dinheiro interfere na escolaridade.
Além disso, 4,1% das crianças de até 5 anos estão abaixo do peso. Grande parte desse grupo (12,9%) está no Pará. Isso reforça a questão da desigualdade social maior nos estados do Norte e Nordeste.
O estudo também indicou que 4,06 milhões de pessoas moram em áreas de risco. Do total, 14% vivem em Minas Gerais, o estado com maior concentração de pessoas nessa situação.
Esses dados foram piorando durante a pandemia. A crise sanitária, que também afetou a economia, aumentou a desigualdade econômica e social. Isso deve influenciar o índice de Gini, já que a Pnad comprovou que os 10% mais ricos perderam somente 3% da renda. Por outro lado, os 40% mais pobres tiveram sua remuneração cair acima de 30%.
Na prática, o que aconteceu foi um impacto muito pequeno nas condições de vida dos mais ricos. Enquanto isso, os mais pobres tiveram perdas significativas. De forma indireta, isso interfere até na especulação imobiliária, que gera a retenção de imóveis para haver uma supervalorização.
Nesse contexto, as medidas emergenciais do governo trouxeram algum auxílio, mas não chegaram a reduzir a desigualdade. Inclusive, o Brasil voltou ao Mapa da Fome, da ONU, depois de 8 anos fora da lista.
Quais as causas da desigualdade social no Brasil?
- Heranças históricas;
- Desigualdade de gênero;
- Segregação racial;
- Localização geográfica e comércio exterior;
- Acesso à educação.
1. Heranças históricas
Por ter sido colonizado, o Brasil sofreu forte influência desse aspecto em sua estrutura sociopolítica e econômica. Isso fez com que ela fosse criada de forma centralizada, hierárquica e discriminatória, garantindo a concentração de riqueza, não a distribuição. Isso é tão relevante que os países com alto índice de Gini foram colônias europeias.
2. Desigualdade de gênero
A desigualdade de gênero interfere na concentração da riqueza nos países. Existem 3 principais motivos para isso: falta de igualdade salarial entre homens e mulheres, elas costumam trabalhar mais no setor informal e há diferenças de oportunidades, principalmente no acesso à educação e saúde.
3. Segregação racial
A segregação racial faz com que pessoas ganhem menos devido à sua raça e/ou etnia. Isso gera a formação de comunidades, que acabam tendo menos acesso aos serviços públicos e direitos fundamentais. Portanto, ainda que o Brasil não tenha tido um apartheid, essa situação é visível na sociedade.
4. Localização geográfica e comércio exterior
A localização em que os países estão situados influencia o comércio exterior desde o período colonial. Quanto mais longe de portos, mares e oceanos, mais isolado estava. Esse não é o caso do Brasil, mas isso gera diferenças entre os estados e regiões. Isso porque os estados com maior porcentagem do PIB são privilegiados.
5. Acesso à educação
A falta de escolarização da população gera desigualdade de renda e influencia negativamente o índice de Gini. Dessa forma, fica mais difícil ascender na estrutura social, porque não se tem condições para isso.
Quais os impactos do índice de desigualdade na economia e na geração de riqueza?
Os impactos do índice de desigualdade na economia e na geração de riqueza são o aumento da pobreza, da fome e do aparecimento de doenças. Isso também influencia o menor nível de escolaridade, o aumento da criminalidade e a estagnação no desenvolvimento econômico e científico do país.
Ou seja, ainda que a nação consiga gerar riquezas, tem outros números ruins e dificilmente consegue se destacar em outras frentes. Afinal, a pouca escolaridade leva à menor especialização da mão de obra, o que tende a dificultar a industrialização e gera o aumento do desemprego.
Isso também interfere na atração de investimentos estrangeiros. Afinal, um índice de Gini elevado influencia outros indicadores que tendem a ser ruins para a economia. Para chegar a essa conclusão, é importante fazer uma comparação com o PIB brasileiro.
Normalmente, quanto mais alto for o Produto Interno Bruto, maior é o padrão de vida. Porém, isso também depende da distribuição de renda, isto é, do coeficiente de Gini.
Por isso, um país com PIB elevado nem sempre tem uma economia forte e confiável, o que gera incerteza dos investidores. Para os estrangeiros, isso significa que há menos interesse em aplicar seu capital, porque a chance de perdas é muito elevada.
Por sua vez, para os investidores internos, o risco também é elevado. Ainda é possível optar por um dos melhores investimentos em renda fixa, mas a rentabilidade é limitada ao que está definido em contrato.
Então, a exposição da carteira de investimentos a um mercado estrangeiro é fundamental para consolidar o patrimônio. Portanto, vale a pena entender que o índice de Gini vai muito além de indicar que há bolsões de pobreza nas cidades brasileiras. Essa desigualdade social e econômica interfere, também, na sua vida.
Quais políticas ajudam a reduzir a desigualdade social?
- enfrentamento do racismo para garantir igualdade de oportunidade a todos.
- realização da Reforma Tributária, a fim de impactar menos o consumo e mais a riqueza;
- promoção da oferta de trabalho, com vagas para todos e oportunidade de qualificação;
- diminuição da discriminação contra as mulheres, promovendo a igualdade salarial;
- combate contra a concentração de terras;
- investimento maior em saúde e educação;
- melhoria dos gastos públicos;
- enfrentamento da corrupção.
Como fica claro, as medidas a serem adotadas afetam todos os cidadãos. Sua eficiência pode ser medida pelo índice de Gini ao longo do tempo, já que isso melhora e fortalece a economia do país.
De modo indireto, isso começa a ser percebido pelo aumento dos indicadores positivos, como o crescimento do total de investidores. Dessa forma, o índice de Gini influencia muitos aspectos da economia, trazendo mais qualidade de vida e oportunidades, inclusive no mercado financeiro.
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Resumindo
O que significa o índice de Gini?
O índice de Gini significa uma ferramenta de medição do nível de concentração de renda em um grupo de pessoas, normalmente, um município, estado ou país. Assim, é possível ver a diferença entre os mais ricos e os mais pobres, e comparar com outros indicadores para ver como isso afeta a economia.
Qual é o índice de Gini no Brasil?
O índice de Gini no Brasil foi de 48,9 no período entre 2010 e 2021, conforme relatório da ONU. Os dados do IBGE diferem e apontam que o resultado de 2022 foi de 0,518 (51,8) para o rendimento médio domiciliar per capita. Esse é o menor da série histórica. Quando considerado o rendimento médio mensal de todos os trabalhos, está em 0,486 (48,6).